Rito bracarense alvo de tese de doutoramento

O padre Joaquim Augusto Félix de Carvalho, que é vice- -reitor do Seminário Conciliar de Braga, defende hoje à tarde em Roma a tese de doutoramento em Sagrada Liturgia. O sacerdote regressa ao Pontifício Instituto Litúrgico Santo Anselmo, que frequentou nos últimos anos, para apresentar um estudo e edição do Manuscrito 870 do Arquivo Distrital de Braga, «um pontifical de luxo brácaro- romano». Segundo o padre Joaquim Félix, que também exerce as funções de coordenador do Secretariado Arquidiocesano da Pastoral Litúrgica, «a necessidade de estudar o problema do rito bracarense» foi o ponto de partida para a escolha daquele códice como objecto da tese de doutoramento. Para a sua elaboração, o sacerdote barcelense aceitou a sugestão, no ano 2000, do beneditino Juan Javier Flores Arcas, que hoje preside ao júri, depois reforçada pela recomendação do Arcebispo Primaz, quando o autorizou a partir para Roma para licenciar- se em Liturgia. A tese de doutoramento, com mais de mil páginas (em dois volumes), baseia-se no estudo e edição do referido manuscrito «com interesse artístico, histórico e litúrgico», que, contudo, «não se reflecte na quantidade de publicações a ele dedicadas». Com efeito, depois de António de Vasconcelos, em 1928, que falou dele no Congresso Litúrgico Nacional Romano- Bracarense, e também no ano de 1931, desta vez na revista dos beneditinos (Opus Dei), só em 1966 volta a haver notícias sobre o Manuscrito 870 do Arquivo Distrital de Braga. Agora, é Joaquim Bragança que o enumera no elenco dos pontificais manuscritos conservados nas bibliotecas portuguesas. Porém, a sua edição na íntegra só surgiu 15 anos mais tarde, com introdução de Joaquim Bragança, a quem o padre Joaquim Félix dedica a sua tese de doutoramento pelos contributos e conselhos que dele recebeu desde que, há cerca de dez anos, se aventurou no estudo do rito bracarense. De resto, o último estudo dedicado ao Manuscrito 870 foi elaborado pelo próprio padre Joaquim Félix, aquando da dissertação de licenciatura, apresentada em Fevereiro de 2004 no Pontifício Instituto Litúrgico Santo Anselmo. «Compreende uma introdução geral ao códice e a edição semicrítica da secção das missas», explica o sacerdote na primeiras páginas da tese de doutoramento que hoje defende publicamente, e que foi orientada por Renato De Zan. «A nossa dissertação de licenciatura inseria-se na continuidade dos estudos e edições » de António de Vasconcelos e Joaquim Bragança, que «têm o mérito não apenas de revelar um manuscrito que permaneceu por muito tempo ignorado, mas também de ter iniciado a sua análise científica». Agora – explica também o padre Joaquim Félix na introdução à sua tese de doutoramento –, com outras condições e depois de muitas visitas a igrejas de Portugal, Espanha e França, procedeu ao estudo interdisciplinar do códice, «mas com uma nova estruturação ao nível dos capítulos », e também, na segunda parte do primeiro volume, à edição integral do manuscrito. O segundo volume inclui vários anexos. Certa é a sua publicação, faltando apenas acertar o modo, o editor e a data. Rito bracarense em avaliação Elencando os aspectos «mais significativos» do Manuscrito 870 do Arquivo Distrital de Braga, o padre Joaquim Félix considera que nele «coabitam beleza e debilidade», que estamos perante um códice «de luxo numa época de recuperação de crises» e que se trata de «um manuscrito híbrido e contaminado»; ou seja, é um «pontifical, ao mesmo tempo, bracarense e romano». A data do manuscrito – inícios do século XVI? – e todo o processo da sua elaboração e uso nas celebrações na catedral de Braga ocupa uma grande parte das páginas desta tese de doutoramento, que termina com o «significado eclesial do manuscrito no “génio” do rito bracarense». E neste aspecto, Joaquim Félix esclarece que procurou «primar pela sobriedade das palavras, para evitar atritos que, anos atrás [no pontificado de D. Francisco Maria da Silva], dividiram pessoas, certamente todas elas com suas razões». «Mas esta dissertação não poderia terminar sem reabrir este tema, por incómodo que possa ser para aqueles que querem sepultar para sempre o problema do rito bracarense ». No entanto, avisa Joaquim Félix na conclusão da tese hoje apresentada, também não se pode ter a pretensão de defender o rito, «a todo o custo e por vezes sem o devido rigor científico», procurando «alimentar soluções pouco consentâneas com o espírito da Constituição conciliar sobre a Liturgia». Joaquim Félix termina com uma citação de Avelino de Jesus da Costa, concordando com ela: «Suponho que será possível uma atitude de compromisso que permita salvar o essencial do Rito Bracarense, adoptando, muito embora, os novos livros litúrgicos romanos». Este parecer, acrescenta, «data de 1970, quando os livros romanos ainda não tinham sido adoptados por todos os clérigos. O seu uso acabou, no entanto, por se generalizar. E como, na actualidade, a diocese dispõe do seu Próprio, seria possível enriquecê-lo nos termos que Avelino Costa sugeria. Apesar de ser de outro tempo e se restringir apenas à liturgia das principais solenidades, não é disso testemunho o Manuscrito 870?» «Cabe, em todo o caso – conclui –, à autoridade competente decidir. Estamos seguros de que, em relação ao uso dos livros romanos, dificilmente poderá inverter a actual situação por decreto. Tão-pouco, nos tempos que correm, a simples vontade reformista pode dar azo a veleidades, quando alguns – infelizmente – parecem pôr em causa até a própria reforma da liturgia romana realizada pelo Vaticano II».

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