Responsável pela pastoral dos brasileiros no exterior exige mais atenção para o fenómeno das migrações

Homilia no Santuário de Fátima Excelentíssimo Sr. Dom António Vitalino, presidente da Comissão Episcopal da Mobilidade Humana, Reverendos Sacerdotes, irmãos e irmãs na fé e no baptismo que nos acompanham pelas redes nacionais de televisão, emigrantes de todas as origens e proveniências, Sinto-me deveras honrado com a oportunidade que me é oferecida, dentro das comemorações da 33ª Semana de Migrações, de presidir à celebração eucarística, neste sábado 13 de Agosto, dia especialmente dedicado à Virgem Maria. Já tive a oportunidade de visitar outras duas vezes Portugal, dentro das atribuições que desempenho em minha Conferência Episcopal – em 1999 e 2002 – mas o convite de participar da 33ª Semana de Migrações e da Peregrinação Internacional de Migrantes ao Santuário de Fátima, oferece-me uma oportunidade especial para estreitar os laços de amizade e de colaboração entre a Igreja no Brasil e a Igreja em Portugal. Além disso, me proporciona o ensejo de manifestar afeição apostólica para com os migrantes e um sentimento de gratidão para com a Hierarquia e a Nação portuguesa pela contribuição que deram ao desenvolvimento religioso e social de minha terra. Saúdo fraternalmente, em meu nome e em nome da Conferência Nacional do Bispos do Brasil, os Irmãos do Episcopado Português, os Rev.mos sacerdotes, o povo de Deus e, de modo particular os migrantes que, participando desta Peregrinação Internacional prestigiam a Semana de Migrações. Nesta ocasião, é-me grato, amados irmãos, convidá-los a reflectir comigo sobre o tema das migrações que, cada vez mais, se torna presente e questionador na história da humanidade. A migração é um fenómeno em crescimento No século XIX, quando o Pai dos Migrantes, o bem-aventurado D. João Batista Scalabrini, propunha ao Santo Padre Pio Xº a criação de um Organismo para a Assistência aos Emigrados Católicos, encontrou resistência junto aos altos prelados do Vaticano, porque achavam que a emigração era um fenómeno passageiro. A realidade veio demonstrar o contrário. A mobilidade humana cresceu num ritmo vertiginoso. Calcula-se hoje que há 175 milhões de pessoas que vivem longe da própria terra e que, no ano de 2050, os migrantes alcançarão a cifra impressionante de 230 milhões. Se somarmos as pessoas que se encontram fora do país por motivos económicos àquelas que se deslocam por motivos turísticos, teremos a espantosa cifra de um bilhão de pessoas. Além dos migrantes e turistas, mais de 65 milhões de indivíduos vivem longe da própria terra na condição de refugiados ou deslocados pela violência. No quadro dos países mais afectados pelos fluxos migratórios, encontram-se os Estados Unidos, onde vivem 35 milhões de migrantes, a Federação Russa que tem 13 milhões e 300 mil migrantes, a Alemanha que acolhe 7 milhões e 300 mil, a França a Arábia, o Canadá e a Austrália (1) A mobilidade humana em nossos países. Os nossos países não apresentam um quadro muito diferente. Milhares de portugueses buscaram outras terras na Europa, na América e na África. Segundo estimativas levantadas em 2003, 4.862.093 filhos de Portugal estão espalhados em 121 nações. Grande número deles aportou em terras do Brasil. De 1850 a 1960 radicaram-se ali 1.700.000, os quais, com sua indústria e seu trabalho, deram grande impulso ao desenvolvimento e ao progresso do país. O Brasil, de país de migração tornou-se agora também um país de emigração. Muitos de seus filhos se deslocaram rumo ao Paraguai, à América do Norte, à Europa e ao Japão. Segundo estimativas confiáveis, os emigrados brasileiros alcançam hoje a cifra de três milhões, e uma das maiores comunidade deles encontra-se em Portugal. Nos últimos 25 anos radicaram-se aqui 60.000 brasileiros, sem contar os 30.000 irregulares de que se tem notícia(2) É justo, pois, que nossos países se encontrem unidos na celebração das Semanas de Migrações, como estamos fazendo hoje, sob os olhares maternos da Virgem Maria. A migração na Bíblia A Escritura Sagrada, refere que as grandes personagens do Antigo Testamento foram migrantes. Abraão saiu da Caldeia e foi peregrino em busca de uma terra para a sua posteridade. Jacob, juntou sua família e foi morar no Egipto, onde era possível sobreviver no tempo de carestia. Moisés liderou a migração colectiva do povo de Israel, em direcção à terra prometida, onde ele conseguiu autonomia e liberdade. As leituras e o Evangelho de hoje nos levam a descobrir a dimensão teológica da migração. S. Paulo, em sua carta aos Hebreus, lembra que o patriarca Abraão foi impulsionado pela vocação divina a se tornar o pai de um grande povo, deixando sua pátria de origem rumo às terras de Canaã. E Cristo, logo em seus primeiros dias de vida, sujeitou-se à emigração, enveredando pelos caminhos do êxodo a fim de salvar a sua vida A leitura do Génesis, por sua vez, recorda que devemos ser hospitaleiros, porque acolhendo o migrante estamos acolhendo o próprio Deus. A Migração na visão da Igreja A Igreja em seus numerosos documento sempre demonstrou carinho para com os migrantes, inculcando nos indivíduos e nos governos o dever sagrado de os acolher e respeitar. Sua solicitude pelos migrantes inspirou-se em princípios muito bem lembrados por D. António Vitalino, na mensagem publicada em ocasião da 33ª Semana de Migrações. Em primeiro lugar, o cristão deve lembrar que o migrante não é um problema: é uma pessoa humana, uma pessoa que deve ser respeitada por ser pessoa e por se encontrarem situação de necessidade. Além disto, acolher o migrante e dialogar com ele é exercer o preceito evangélico da caridade que enobrece e enriquece quem o pratica. “Pelo diálogo – recorda Dom Vitalino – vão se esbatendo as barreiras e as agressões e constrói-se uma sociedade pacífica, onde as diferenças étnicas, linguísticas, religiosas e culturais são factor de enriquecimento das pessoas e da sociedade”(3). Enfim, na visão da Igreja, os migrantes podem tornar-se pregoeiros de fraternidade, induzindo as nações a superar o próprio egoísmo e fazer do mundo uma sociedade integrada e pacífica, figura do Reino de Deus, onde todas as criaturas humanas, reunidas em Cristo, são filhos do mesmo Deus e irmãos entre si. Conclusão Infelizmente, caros irmãos, existem ainda muitos dramas nos caminhos do êxodo. Para não poucos infelizes, a fronteiras continuam a se tornar cemitérios e, desta maneira, o quinto mandamento da lei de Deus “não matar” – em torno do qual neste ano gira a reflexão catequética da Igreja em Portugal – continua a ser um objectivo distante de ser alcançado. Nesta celebração eucarística que coroa as celebrações da 33ª Semana de Migrações e a Peregrinação Internacional de Migrantes roguemos, pois, a Deus, pela intercessão da Virgem de Fátima, que proteja os migrantes e suas famílias e ajude nossos países a trabalhar pela unidade harmónica dos povos, a fim de que o mundo possa realmente constituir “uma cidade integrada e pacífica, em volta de um único Deus e Senhor” (4). Amen. D. Laurindo Guizzardi _________________________ 1) Estas cifras foram apresentadas no Encontro Internacional de Triuggio, Itália, em fins de maio de 2005, reportado pela Agência Fides. 2) Cifras colhidas junto àOCPM. 3) D. Antonio Vitalino, em Mensagem para a 33ª Semana de Migrações. 4)Idem, ibidem.

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