República uniu católicos em torno dos bispos

Quando os bispos portugueses “foram atacados, imageticamente, durante a República, isso uniu o catolicismo em torno de uma figura que, na Monarquia Constitucional, era bastante desprestigiada: o próprio bispo” – defendeu o historiador António Matos Ferreira numa jornada de estudo «Da Monarquia à República: o Clero contemporâneo».

Realizada ontem (dia 1 de Fevereiro), na Universidade Católica Portuguesa (UCP), esta iniciativa teve vários oradores que abordaram questões relacionadas com a sociedade (s) nos finais do século XIX e inícios do século XX. Para o historiador, “os bispos saíram reforçados no contexto da 1ª República e no contexto da Lei da Separação”.

Na conferência «O clero no período da Primeira República», Sérgio Pinto, membro do Centro de Estudos de História Religiosa da UCP, disse à Agência ECCLESIA que o clero de hoje “é muito diferente daquele que viveu na 1ª República”. E acrescenta: “o clero que transita da Monarquia Constitucional para a 1ª República era muito diferenciado quanto à organização interna e à configuração do modelo de acção do clero”.

Com a implantação da República (5 de Outubro de 1910), o clero irá sentir – a diferentes níveis – o “impacto das medidas legislativas” – referiu Sérgio Pinto. Estas medidas tomadas pelos governos republicanos tenderão “a continuar, embora de outro modo, o Regalismo anterior”. Apesar de variar de diocese para diocese, o clero sofrerá “um impacto a nível financeiro”.

Com o novo pacote legislativo, a organização interna da igreja sofrerá alterações. “O episcopado sentiu que tinha a oportunidade de, pela primeira vez, nomear e dirigir o seu clero”. Por outro lado, a tentativa de perpetuação do Regalismo tendia a continuar esse modelo de «funcionário», mas retirando-lhe “grande parte das suas funções porque via a sua relevância social, política e cultural disputada por outras instâncias” – esclareceu o membro do CEHR.

Na Primeira República o professor primário é apresentado “como um sacerdote laico que disputava o protagonismo social do clero” – realçou Sérgio Pinto. Do legislador notava-se a tentativa de retirar “parte da influência tida pelo clero e substituí-la pelos professores primários e outros agentes culturais”.

Com o encerramento de alguns seminários e da Faculdade de Teologia em Coimbra, a formação do clero ficou abalada. Vive-se um período de transição. O Papa Pio X “procura tornar obrigatório a formação do clero nos seminários”. Os bispos procuram criar “instâncias novas para essa formação” com a “fundação de novos seminários”. Relativamente à Faculdade de Teologia terá “um grande peso o diferendo existente entre o episcopado português e a direcção da Faculdade” – disse Sérgio Pinto. E adianta: “sente-se a necessidade – um desejo que se perpetuará no tempo – de criar um Instituto Superior de Educação Católica”.

Efectivamente, este sonho só será concretizado no final da década de sessenta quando “a Universidade Católica Portuguesa vê a luz do dia”. Uma aspiração desde os anos vinte do Pe. Manuel Gonçalves Cerejeira, “futuro cardeal patriarca que a partir dessa altura vai insistindo na necessidade de ter um Instituto superior que supra essa carência”.

Nos primeiros anos da República, o episcopado português publicou várias pastorais colectivas. Estes documentos mostram, “pela primeira vez, acções e manifestações conjuntas do episcopado”. E finaliza: “elas eram uma manifestação, mobilização e doutrinação para o clero e leigos”.

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