República: Igreja soube vencer os preconceitos contra a modernidade

Maria Lúcia de Brito Moura em colóquio na UCP

Nos primeiros tempos da República, alguns sectores da sociedade pensavam que “a religião estava a morrer e apenas a ciência explicava tudo”, disse a historiadora Maria Lúcia de Brito Moura num colóquio que decorreu em Lisboa.

Passados cem anos, “ninguém se atreve a fazer observações destas”, referiu a historiadora nesta iniciativa promovida pelo Centro de Estudos de História Religiosa (CEHR) da Universidade Católica Portuguesa.

A Igreja que tinha “medo do avanço”, hoje mostra que “soube vencer esses preconceitos contra a modernidade”.

A iniciativa, a 18 de Novembro, teve como tema «Um episódio na “guerra religiosa” na I República: a assistência aos combatentes na Grande Guerra». Entre a modernidade e a religião havia uma “incompatibilidade”.

Este colóquio está integrado no Seminário «Religião, Cristianismo e Republicanismo» que teve o seu início em Maio e termina a 17 de Março de 2011.

Os primeiros tempos da República foram conturbados. Apesar de – ao contrário do que aconteceu na vizinha Espanha – em Portugal não se assistiu “à iconoclastia sobre edifícios”. “Tivemos poucos casos de Igrejas que foram incendiadas”, disse Maria Lúcia de Brito Moura.

Para os «livre pensadores», o antagonista era o católico, identificado muitas vezes com o monárquico. “Nos primeiros anos do novo regime era fácil encontrar o adversário ideal: católicos e monárquicos”.

Em relação à primeira guerra mundial (1914-18) e intervenção portuguesa no conflito existiam ramos da sociedade que afirmavam que “os católicos eram cúmplices dos alemães – os novos inimigos”.

Para alguns, os “católicos eram os sem pátria”. Maria Lúcia de Brito Moura realça que esta designação não se situava apenas “nos jornalecos”. “Esta acusação foi mesmo lançada pelo Ministro da Justiça, Alexandre Braga, que motivou protesto do padre e deputado, Castro Meireles”. Eram sem pátria porque “guardavam obediência a uma potência estrangeira, Vaticano”.

Numa brochura publicada pela Universidade Livre, Bernardino Machado defendia que “a luta contra a Alemanha era a continuação lógica da revolução que tinha produzido a República”.

O «livre-pensador», António José Vieira, afirmou também que a guerra que se travava era “a luta jesuítica do passado contra o futuro de liberdade”. O jornal do Porto, a «Montanha», sublinhou com frequência que o clerical era mais de temer do que o alemão”.

Se, nos primeiros tempos, os operários que faziam greve eram apontados como “monárquicos”, no período da Primeira Guerra Mundial eram designados como “germanófilos”. No campo dos que alimentavam o sonho de regresso da monarquia, “se alguns se convenciam que o sonho da vitória Alemanha facilitaria a queda da República, muitos outros não alinhavam nesse raciocínio” – salienta a historiadora.

O sonho da «União dos Povos Latinos», “à cabeça dos quais estava a França”, era comum a muitas personalidades do mundo político: “Sebastião Magalhães Lima, Teófilo Braga, Rolão Preto e Homem Cristo Filho”. No entanto, alguns tradicionalistas viam “a França como a pátria do jacobinismo”.

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