Religiosos portugueses assumem desafios de futuro

XXI semana de estudos sobre a Vida Consagrada Abalada ciclicamente por crises de vários tipos, a Vida Consagrada permanece após séculos de história como uma das referências fundamentais da Igreja Católica no nosso país. Cerca de 1250 religiosos e religiosas portugueses estiveram reunidos em Fátima de 5 a 9 de Fevereiro para perceber, em que medida, são precisos “Novos ventos, novos tempos” num caminho marcado pelos 50 anos das duas confederações nacionais dos Institutos religiosos. Sociólogos, especialistas em Vida Consagrada, religiosos e religiosas a trabalhar em diversas áreas eclesiais ou sociais fizeram da XXI semana de estudos sobre a Vida Consagrada um momento fundamental para analisar quais os “dados e interpelações” mais relevantes que surgiram do “Inquérito sobre os religiosos em Portugal”, efectuado pelo Centro de Estudos e Sondagens de Opinião da Universidade Católica Portuguesa por ocasião dos 50 anos da CNIR/FNIRF (ver notícia relacionada). Na conclusão dos trabalhos, os participantes assumiram que o desconhecimento da Vida Consagrada – segundo o Inquérito da UCP, 42% dos portugueses não têm conhecimento da existência de religiosos na Igreja Católica – deriva de “factores internos”, como a diminuição dos factores de identificação da Vida Religiosa ou o conhecimento superficial da mesma dentro da própria Igreja, além da existência de novos tipos de Consagração, como os Institutos Seculares ou os leigos consagrados. Além destes, foram apontados “factores externos”, mais relacionados com o grupo dos que não pertencem à Igreja e com a falta de instrução de boa parte da população. “A Vida Religiosa é um dom do Espírito à Igreja e por isso não o podemos guardar apenas para nós, mas ter a preocupação de dar a conhecer esta opção como um sinal do absoluto de Deus na Igreja”, refere o texto. Estas interpelações feitas pelo Inquérito são assumidas de forma séria, não como uma “reforma cosmética”, mas no sentido de “partir de Cristo para navegar sem medo nestes novos ventos e nestes novos tempos”. A solução pode passar, em alguns casos, por entregar algumas das obras a leigos especializados, para que os religiosos e religiosas se dediquem a dar “espírito e orientação cristã” às mesmas. Em declarações à Agência ECCLESIA, o Pe. José Augusto Leitão, um dos responsáveis por este balanço, revela que os Institutos Religiosos foram desafiados a interrogarem-se sobre a sua disponibilidade para “abrir as portas e dar um testemunho visível, próximo dos outros”. Os dados do Inquérito também permitem adivinhar alguns aspectos positivos relativos aos ventos de mudança na Vida Consagrada, deixando lugar a uma opção “pela qualidade sobre a quantidade” sem medo do futuro. “Estes aspectos positivos devem ser potenciados, no sentido de dotar a Vida Religiosa de uma maior qualidade, em fidelidade ao Espírito”, assinalam os participantes no encontro. Entre os “sinais” que devem ganhar mais visibilidade, o destaque vai para os três votos – pobreza, castidade e obediência -, pouco conhecidos na Igreja e na sociedade. “Nós não temos conseguido passar esta mensagem de ser uma alternativa feliz e libertadora aos ideais da nossa cultura, como a segurança monetária, as relações autocentradas na realização ou o desejo de poder”, assumem os religiosos. Nesse sentido, as Ordens e as Congregações Religiosas em Portugal propõem-se lançar uma reflexão sobre a forma de viver esses mesmos votos e a mensagem que eles conseguem, ou não, passar. Notícias relacionadas • Vida Religiosa em Portugal à procura de novos rumos

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