Mensagem da Quaresma do Bispo de Setúbal

QUARESMA, CAMINHO PARA A PÁSCOA: UM TEMPO PARA CRESCER NO AMOR A DEUS E AO PRÓXIMO Mensagem do Bispo de Setúbal Caros Diocesanos: padres, diáconos, leigos e religiosos/as de Setúbal. A Páscoa é a grande festa da Igreja: durante 50 dias, ela celebra a passagem de Jesus deste mundo para o Pai, através da sua vida entregue como expressão de amor sem fim a Deus e aos homens. Durante os quarenta dias da Quaresma, Deus prepara a Igreja para esta grande festa, oferecendo, abundantemente, exercícios de santificação como a Palavra da Deus, o jejum e a abstinência, a renúncia quaresmal e a prática da caridade, a oração intensa, a Eucaristia e a Reconciliação. Assim, o coração de filho e irmão recebido no baptismo é purificado do pecado e revestido de graça, e mais liberto do egoísmo torna-se capaz de amar mais, como e com o amor de Jesus, e é capaz de realizar melhor a vontade de Deus Pai sobre si e sobre toda a criação e de abraçar os irmãos, a começar pelos pobres. Perante a oferta de tantos meios de santificação, há que evitar duas tentações: uma, a desvalorizar os exercícios de conversão, pondo-os de lado; outra, a de os fazer apenas exteriormente, isto é, sem o cuidado de se deixar conformar interiormente a Jesus Cristo. É uma exercitação difícil, mas possível e salutar, pelo Espírito de Jesus que Deus Pai, na sua misericórdia, nos oferece através dos exercícios quaresmais. Felizes os que realizam, com o desejo sincero de conversão. Gostaria de fazer algumas considerações relacionadas com as circunstâncias em que vai decorrer esta quaresma de conversão. A EUCARISTIA FAZ CRESCER NO CRISTÃO UM CORAÇÃO CAPAZ DE AMAR A Eucaristia é Jesus Cristo a entregar-se ao Pai por nós, para que o Pai derrame o Espírito de Jesus sobre os filhos gerados no Baptismo e os revista do seu Espírito de vida, de comunhão e de santidade das bem-aventuranças. Não é uma coisa. É uma pessoa viva. É Jesus a caminhar com o seu povo rumo à pátria do Céu, vencendo os medos, a solidão, as trevas, o cansaço. A Eucaristia é o centro da vida do cristão e da comunidade cristã; é dela que nasce a força para que a Igreja seja comunidade, seja missionária, escute e cumpra a vontade de Deus, tenha as vocações sacerdotais, religiosas e missionárias de que precisa e seja fonte de vida justa, fraterna e feliz. Não há verdadeiro cristão sem a Eucaristia. A Eucaristia é um mistério de fé e, como tal, só pela fé se compreende. Felizes os que crêem no mistério da presença amorosa de Jesus e, contemplando-O e recebendo-O na eucaristia, se deixam alimentar por Ele, até poderem dizer agora «é Cristo que vive em mim». Neste ano, proclamado pelo Santo Padre como Ano da Eucaristia, e que é o último do triénio dedicado pela diocese à Eucaristia, peço ao Senhor que nos ajude a ter uma Quaresma eucarística, de modo que a Eucaristia seja o centro, a fonte e o cume da nossa vida pessoal, familiar, paroquial e diocesana. Convido também os fiéis a encontrar algum tempo para participar na Eucaristia diária ou, pelo menos, para fazer alguma visita diária a Jesus no Sacrário (em família seria melhor!) e aí permanecer um pouco a meditar no amor e exemplo de Jesus. Quem não puder fazer isto, procure pensar em Jesus presente no Sacrário, fazendo um acto de desejo de estar com Jesus. Por exemplo: ao deitar ou ao levantar-se ou por ocasião duma refeição. Peço ainda aos pais e aos catequistas que ajudem as crianças a adquirir o gosto de estar com Jesus sacramentado, como os beatos Francisco e Jacinta. Proponho que em cada paróquia, movimento ou serviço, ou no seio da família cristã, haja um balanço dos frutos recebidos neste triénio dedicado à Eucaristia. Proponho ainda que se faça ou renove algum propósito, relacionado com a melhoria da própria celebração, ou com a adoração eucarística, ou com algum gesto de serviço a partir da Eucaristia, por exemplo, apoio a casais, a idosos abandonados, a doentes e à prevenção da saúde, a imigrantes, à organização do serviço sócio caritativo, ao acolhimento fraterno… O coração de aquele que reconhece Jesus na Eucaristia (na palavra, na assembleia celebrante, no presidente, no pão e vinho consagrados) e O acolhe, pouco a pouco, fica disponível para escutar e realizar a palavra de Deus, para O servir no próximo e para transfigurar o mundo, como os santos. A INDULGÊNCIA PLENÁRIA PÕE EM RELEVO O GRANDE DOM DA EUCARISTIA O Santo Padre dispôs que durante o Ano da Eucaristia se possa alcançar a indulgência plenária nos seguintes casos especiais: + cada vez que se participe numa cerimónia sagrada ou num acto piedoso em honra do Santíssimo Sacramento, exposto ou conservado no sacrário; + cada vez que, ao final do dia, os fiéis rezem diante do Senhor presente no sacrário, em comum ou em privado, Vésperas e Completas. + Alcança, ainda, a indulgência aquele que, por uma enfermidade ou por outra causa justificada, não pode participar num acto de culto diante do Sacramento da Eucaristia em Igreja ou oratório, desde que faça espiritualmente a visita com o desejo de coração e com fé na presença real de Jesus no Sacramento do Altar reze o Pai Nosso e o Credo, acrescentando uma invocação a Jesus Sacramentado (por ex.: Bendito e louvado seja em todo o momento o Santíssimo e Diviníssimo Sacramento da Eucaristia). + Aqueles que nem isto conseguirem fazer, obterão a indulgência plenária se se unirem interiormente aos que praticam de forma ordinária a acção prescrita para a indulgência e se oferecerem a Deus misericordioso, a enfermidade e os problemas da sua vida com o propósito de cumprir, logo que possível, as condições habituais: confissão, comunhão e orar pelo Santo Padre. O SACRAMENTO DA RECONCILIAÇÃO LIBERTA E PURIFICA DO PECADO. A Igreja não se cansa de ensinar que o fiel, antes de comungar, se deve examinar, e que, se estiver em pecado mortal, deve recorrer à confissão sacramental, para não ser réu do Corpo do Senhor, indignamente recebido. Mas a confissão não é só para os casos de pecado mortal. A Igreja recomenda aos fiéis que, de vez em quando, se abeirem do sacramento da Reconciliação, pois que através dele o Senhor irá purificando o coração, do apego ao pecado. Bendito seja Deus por este sacramento que não só liberta do seu pecado ao pecador arrependido como também o reintroduz no coração de Deus Pai. UM CORAÇÃO CONVERTIDO OLHA COM CARINHO ESPECIAL OS IDOSOS. Na mensagem da Quaresma, deste ano, o Santo Padre convida a reflectir sobre “o papel que os idosos estão chamados a desempenhar na sociedade e na Igreja e a dispor o coração para o acolhimento amoroso que lhes deve ser sempre reservado.” E lembra que a vida do homem “é dom precioso que se deve amar e defender, (…) desde o seu início até ao seu fim natural”, recusando o aborto e a eutanásia; e que é preciso ajudar os idosos a “viver (…) as suas capacidades, ao serviço da comunidade” e evitando que “não se sintam um peso para a comunidade e, por vezes, para as próprias famílias…”. Nas visitas pastorais, costumo dizer uma palavra de apreço aos idosos pelo seu contributo para o bem da sociedade e da Igreja e costumo exortá-los a continuar essa ajuda, doutros modos. Também apelo aos que cuidam deles para que os ajudem a descobrir e a valorizar a sua vocação actual. Alargo de bom grado esta palavra de apreço, de gratidão e de esperança a todos os idosos e, na sequência da mensagem do Papa, peço que se intensifique nas paróquias, nos Centros Sociais e nas Misericórdias a atenção e o apoio aos idosos e que se ajudem os que cuidam deles a realizar esta importante tarefa sempre com renovado carinho e competência. Nos centros sociais paroquiais ou noutras instâncias, seja valorizado o intercâmbio entre as crianças e jovens e os idosos. Dêem-se a conhecer aos idosos os movimentos que os podem ajudar como por exemplo A Vida Ascendente ou outros. E sejam convidados a participar numa corrente de oração, por exemplo, para que haja mais sacerdotes e religiosos(as) e (ou) para que os pais levem as crianças à Eucaristia!… A RENÚNCIA QUARESMAL ENCHE DE ALEGRIA AQUELE QUE REPARTE COM AMOR. A nossa renúncia quaresmal é para apoiar a organização da acção pastoral da recém-criada diocese de Mindelo, em Cabo Verde; e para apoiar crianças a cargo das irmãs Franciscanas da Divina Providência em Timor-Leste, colaborando na instalação de painéis solares que lhes proporcionem energia que ainda não tem doutras fontes. A renúncia a um café, a um bolo, a uma refeição cara ou um artigo de luxo nasce da caridade e há-de conduzir à solidariedade e partilha com os pobres. Feliz quem compreende que há mais alegria em dar do que em receber! UM CORAÇÃO SENSÍVEL AO AMOR DE DEUS CONSTROI UM MUNDO MAIS HUMANO O povo português novamente vai escolher os seus representantes na Assembleia da República e o consequente governo. O discípulo de Jesus não pode ficar em casa, nem pode deixar de ter em conta na formulação da sua escolha – entre outras coisas – o ensinamento da Igreja nas mais diversas áreas, tais como: a defesa da vida humana desde a sua concepção até à morte natural, o recto uso da sexualidade, a família, a justiça social com a justa distribuição das riquezas e a preocupação pelo bem comum e uma especial atenção aos mais pobres… É ainda importante contribuir para a criação duma opinião pública que aprecie positivamente a missão das pessoas comprometidos na actividade política; que exija delas a preocupação sincera de resolver os problemas do país e a apresentação de propostas credíveis para isso; e que ajude os cidadãos a interessar-se e dar o seu melhor pelo bem comum. Este exercício de cidadania entra na dinâmica da Quaresma, na medida em que na sua escolha o cristão se interroga sobre o projecto – e os grandes caminhos – de Deus para a sua e nossa ‘cidade’ e tem em conta não só o seu interesse, mas também o da comunidade, a começar pelos pobres. A DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA AJUDA A COMPREENDER E A AMAR MAIS O HOMEM. Uma vez que o cristão, na formação da sua consciência, deve ter em conta a doutrina social da Igreja, convido os leigos, que o possam fazer, a inscrever-se na Escola da fé e a frequentar o Curso deste segundo semestre, dedicado ao estudo da Doutrina Social da Igreja, rica de humanismo e de actualidade, e que abarca todos os aspectos e campos da vida do homem em sociedade. CAROS DIOCESANOS Desejo-vos uma boa Quaresma, rezo por vós e espero a vossa oração. Santa Maria da Graça, nossa guia no itinerário quaresmal, faça com que os crentes, especialmente os jovens, os anciãos e os pobres, conheçam profundamente Jesus morto e ressuscitado, que é a razão última do nosso viver. Que ela, a fiel serva do seu Filho divino, juntamente com os Santos Ana e Joaquim, interceda por nós “agora e na hora da nossa morte”. † Gilberto, Bispo de Setúbal. Quarta-feira de Cinzas. 9 de Fevereiro de 2005

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