Religião é assunto residual na informação

Encontro em Lisboa debate qual a relação entre o fenómeno religioso e os media, lamentando a falta de espaço para o tema Jornalistas, comentadores, autores de blogues, estudiosos e responsáveis de comunidades religiosas reuniram esta Quinta-feira em Lisboa para um encontro sobre o tema «Entre a vertigem e o silêncio – porque (não) há espaço nos media para o religioso». Da manhã de trabalhos, na Universidade Lusófona, emergiu a ideia de que a religião é, no espaço mediático, um assunto residual, que no caso da agência Lusa, por exemplo, representa menos de 1% da produção noticiosa. José António Santos, secretário-geral da Lusa, revelou que apesar deste ser classificado como um tema de “primeiro nível”, em 2008, houve 772 notícias sobre religião, apenas 0,6% do total. O panorama não se altera nas fotos, com 349 (1,1% do total). A religião é assim o antepenúltimo dos temas de primeiro nível (menos só a agenda e a meteorologia). José Manuel Vidal, jornalista responsável pela informação religiosa do “El Mundo” e director de www.religiondigital.com, defende que a Igreja tem de “mudar de chip” para entrar na agenda mediática. Para António Marujo, jornalista do “Público”, à ignorância nas redacções acerca do fenómeno religioso deve somar-se uma abordagem centrada sobretudo num lado mais institucional ou mais conflitivo, faltando um tratamento mais propositivo ou mais inesperado do fenómeno religioso. Jorge Wemans, director de programas da RTP 2, defendeu que em vez de silêncio, há um “murmúrio” sobre o religioso nos media. Apesar da incapacidade de “pensar o religioso”, este responsável lembrou que existem meios importantes e significativos, em Portugal, como os casos da Ecclesia e da Renascença, de presença da Igreja Católica na comunicação social. No debate que se seguiu às intervenções, falou-se na “descapitalização” do jornalista que percebe de religião dentro das redacções. Esta iniciativa é promovida por jornalistas que abordam o fenómeno religioso em diversos órgãos de comunicação social, tendo sido desenhada como uma oportunidade de reflectir sobre a relação entre o religioso e os media. Que importância jornalística aos temas religiosos? Esta questão ocupou os trabalhos da parte da tarde, com a presença do já referido José Manuel Vidal, António José Teixeira (SIC, director SIC Notícias), Raquel Abcassis (RR, subdirectora de informação) e Miguel Gaspar (Público, Editor Mundo), seguido de debate. O director da SIC Notícias lembrou que “o espaço, hoje, fragmentou-se, dissolveu-se e acabou por contagiar toda a narrativa jornalística”. Sobre o espaço que é dedicado ao religioso, frisou que a principal emissora de Rádio em Portugal é católica, há ainda cerimónias católicas na TVI, muita imprensa regional está ligada à Igreja e que há especialistas em todas as redacções importantes, para além de colunistas em vários jornais. O mal-estar, admitiu, pode vir de um tratamento jornalístico acrítico ou displicente. “Não há muita vontade de levar o jornalismo mais longe nestes domínios”, atirou. José Manuel Vidal referiu que há cada vez menos espaço num jornal de tiragem nacional para a religião, mais a mais em jornais claramente alinhados com os partidos políticos. Este responsável lamentou a falta de investimento em relações públicas por parte dos maiores responsáveis da Igreja, a quem apontou ainda a falta de linguagem estratégica. Para o jornalista espanhol, cada Conferência Episcopal deve ter “estrelas mediáticas” e afastar receios em relação à comunicação social, tratando os jornalistas como profissionais. Raquel Abecassis falou de impreparação e preconceito nos media, destacando que mesmo dentro da emissora católica há uma alteração na forma de comunicar o religioso, área na qual existe grande procura. Para esta responsável, é importante “ultrapassar os picos momentâneos em que o religioso surge com grande destaque, mas sem tocar a vida das pessoas”. Já Miguel Gaspar destacou que as abordagens heterodoxas ganham visibilidade e que a própria audiência sabe pouco sobre temas religiosos. O editor defende uma abordagem marcada pelo pluralismo, num espaço de liberdade religiosa, procurando compreender a relação que as grandes questões da religião com a realidade do mundo actual.

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