Refugiados: Testemunhos de dor e esperança em Lesbos

Reportagem da ECCLESIA esteve nos campos da Grécia

Lesbos, Grécia, 25 fev 2017 (Ecclesia) – O iraniano Reza chegou à Grécia depois de arriscar a vida com a mulher e a filha numa viagem através da Turquia, e com uma travessia “terrível” num barco lotado, sem comida nem água, até solo helénico.

“Por diversas vezes eu e a minha mulher pensamos que íamos morrer. Pensamos que se calhar não tinha sido a melhor forma de fugir dos problemas que tínhamos no Irão. Tive muito medo pela minha filha, ela não tinha colete, tive que a enfiar no meu colete salva-vidas. Foi um risco enorme, com 100 pessoas a bordo e a possibilidade da morte iminente”, conta este refugiado.

A história de Reza é uma das várias que são contadas na edição mais recente do Semanário ECCLESIA, dedicada à situação dos refugiados na Grécia, e feita a partir da reportagem do nosso enviado especial Henrique Matos.

Na base deste trabalho esteve o acompanhamento a uma equipa da Cáritas Portuguesa, liderada pelo presidente daquele organismo católico, Eugénio Fonseca, e que teve como objetivo verificar e apoiar os projetos solidários dedicados aos refugiados, que estão em andamento na Ilha de Lesbos e em outros locais da nação grega.

Através de uma rubrica intitulada ‘Refugiados em discurso direto’, pode ficar a conhecer não só o que é que motivou os refugiados a deixarem o seu país, os perigos que enfrentaram ao longo do seu percurso, o acolhimento que estão a ter na Grécia, mas também os seus anseios e sonhos para o futuro.

Para Reza e a sua família, a prioridade é “chegar a um local seguro e mais definitivo”.

“Há um ano que estamos aqui. Continua a chegar muita gente e eu queria partir para outro país, porém o processo é muito lento e o governo grego tem muita dificuldade em dar resposta aos pedidos que são feitos”, conta o refugiado iraniano.

Para muitas das pessoas que chegaram à Grécia, foi a guerra e a violência, a perseguição e a falta de liberdade que motivou a fuga dos seus países.

“Partimos porque a situação era insustentável, a nossa casa foi bombardeada e tivemos que fugir”, adianta Noor, uma refugiada síria.

Zahra, que chegou vinda do Afeganistão, quer deixar para trás o clima de medo e opressão que vivia no seu país.

“As mulheres no Afeganistão enfrentam muitos problemas a nível social e religioso. São discriminadas na família e não têm acesso à justiça. Apenas desejo viver num país onde me sinta em segurança e possa ser feliz. Gostaria de voltar se houvesse paz, mas não acredito que seja possível”, lamenta.

Nem todos os refugiados quiseram revelar a sua identidade para esta reportagem, especialmente o que receiam poder ser alvo de represálias. 

“Eu sou muçulmano sunita e na minha região começamos a ser perseguidos pelos muçulmanos xiitas. Decidi vir para a Grécia que é o primeiro país europeu onde me sinto seguro”, conta um refugiado iraquiano.

“No Iraque havia muitos cristãos, mas todos tiveram de fugir e os que não o fizeram acabaram raptados ou mortos pelas milícias. Elas raptam, matam, violam todos os que se lhes opõem”, aponta outro, enquanto uma refugiada também vinda do Iraque deixa um desabafo:

“Estamos cansados da guerra. Não apenas no Iraque, mas na Palestina, Síria, todos esses países sofrem por estas situações. Gostava que isto acabasse”, realça.

Há também a realidade das crianças e jovens, que de um momento para o outro são obrigados a deixar tudo o que conhecem.

“Lembro-me da minha escola e das minhas tias e tios…  do meu avô e da minha avó, dos meus primos…  tenho saudades dos meus amigos de lá”, frisa Maha, uma refugiada síria.

‘Refugiados em discurso direto’, um trabalho feito pelo jornalista Henrique Matos na Grécia e que é um dos destaques da edição 202 do Semanário ECCLESIA.

HM/JCP

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