Irmã Irene Guia, a viver no Curdistão iraquiano, aponta drama de menores que se perdem
Dohuk, Iraque, 13 jan 2017 (Ecclesia) – O Dia Mundial do Migrante e do Refugiado é para a religiosa Irene Guia, responsável pelos projetos do Serviço Jesuíta aos Refugiados em Dohuk, no Curdistão Iraquiano, uma oportunidade para “lembrar aos distraídos” que esta realidade existe.
“Esta celebração é para lembrar aos distraídos que esta realidade existe. Este dia é necessário e deve ser assinalada com maior ênfase nos países onde as pessoas andam distraídas e, parece-me que a Europa anda distraída”, assinala à Agência ECCLESIA a Escrava do sagrado Coração de Jesus que desde setembro de 2016 se encontra na região autónoma do Curdistão Iraquiano em contacto com refugiados e deslocados internos.
O Dia Mundial do Migrante e Refugiado é assinalado pela Igreja católica no próximo dia 15 e foca, este ano, a realidade dos “migrantes menores de idade, vulneráveis e sem voz”.
Indica a religiosa que esta data “não vai ser celebrada” no local onde se encontra.
“Isso é o paranoico. Estamos a viver a realidade concreta das pessoas”, assinala a Escrava do Sagrado Coração de Jesus que procura através da sua presença nesta região escutar, acompanhar e dar esperança através da sua ação.
A vulnerabilidade das crianças que nas movimentações e fugas se perdem das famílias é o foco eleito pelo papa Francisco para a mensagem deste ano.
Lembra a Irmã Irene Guia “histórias dramáticas” de quem “não tem voz” e que acaba por ser vítima nas viagens mas também da burocracia.
“Em Lesbos, no campo de refugiados de Mória, assisti ao desespero de um pai e de uma mãe, porque na trajetória de barco uma parte da sua família tinha saído erradamente numa ilha a meio do caminho. A burocracia e a dificuldade de reunir esta família em terreno seguro é inimaginável”.
A religiosa enaltece o papel “importante” que comunidades locais, organizações, movimentos e instituições que acolheram pessoas provenientes da Grécia e os esforços que estão a ser desenvolvidos para o acolhimento de menores não-acompanhados.
O Serviço Jesuíta aos Refugiados está em Sharia a desenvolver um projeto para povoação yazidi investindo na sua “ocupação” e “formação”.
“É por um lado essencial manter as pessoas ocupadas mas é também necessário formá-las para promover um melhor regresso”.
O projeto, que a religiosa designa de “promoção de esperança”, presta formação em costura, cozinha, informática, cabeleireiro, mas centra-se também na escuta e acompanhamento.
A proximidade ajuda a discernir e a optar pelas respostas a dar aos deslocados internos e refugiados uma vez que “os próprios manifestam interesse”.
“É sobretudo o contacto com as populações, estando com elas, ouvindo. As pessoas denunciam a forma como as ONG podem criar projetos para dar seguimento a fundos ou para estar com eles. São muito transparentes nesse sentir e percebem a diferença entre «fazer com» e o «fazer para»”.
A Irmã Irene Guia assume a “responsabilidade de relatar” o que experimenta e vive na região autónoma do Curdistão Iraquiano.
“Eu fico muito fragilizada. Parece uma desonestidade pensar que eles me estão a agradecer por estar aqui e não calar a realidade que encontro, quando na realidade eles são alvo de salvação e agradecimento para mim”.
LS