Organização católica defende uma Europa unida «na dignidade e humanidade» para ajudar os mais vulneráveis
Lisboa, 05 mar 2020 (Ecclesia) – A confederação europeia da Cáritas lançou hoje um apelo à União Europeia e aos seus Estados-Membros para que encontrem “urgentemente” uma solução “humana e digna” para a situação na Grécia, depois da Turquia ter aberto as suas fronteiras.
A organização católica fala numa situação humanitária “dramática”, sublinhando que “os migrantes são pessoas em situação de vulnerabilidade”.
“Em resposta aos dramáticos desenvolvimentos na fronteira mais recentes entre a Grécia e a Turquia, a Cáritas apela a uma Europa unida na dignidade e humanidade para aliviar o sofrimento dos mais vulneráveis”, assinala uma nota enviada à Agência ECCLESIA pela Cáritas Portuguesa.
O comunicado sustenta que os acontecimentos” terríveis e desesperados” dos últimos dias exigem uma reação por parte do Conselho ‘Justiça e Assuntos Internos’ e dos ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia (UE).
Não podemos aceitar que crianças morram quando tentam alcançar a segurança da UE. E não podemos assistir passivamente quando a nossa guarda-costeira ataca e empurra os migrantes a bordo de um bote em dificuldades, tentando chegar a terra firme, como aconteceu na Grécia nesta semana”.
O texto cita as críticas do Papa Francisco contra a “globalização da indiferença”, convidando a Europa a “assumir as suas responsabilidades e valores fundamentais”.
“As pessoas que tentam chegar à Europa em busca de proteção devem ser tratadas com dignidade e respeito, e nunca ser recebidas com gás lacrimogéneo, armas ou ódio. A Europa deve defender os valores da humanidade e da solidariedade, que estão no centro da fundação da UE”, refere Maria Nyman, secretária-geral da Cáritas Europa.
Segundo a organização católica, o foco exclusivo no controlo de fronteiras “resulta na criminalização das pessoas em movimento e alimenta o pânico irracional”.
A Cáritas considera que os Estados-Membros da UE devem realocar “com urgência” os requerentes de asilo, começando pelos mais vulneráveis, como os menores não acompanhados.
Segundo o ACNUR, 40 mil migrantes estão instalados em campos oficiais nas ilhas gregas, projetados para acomodar apenas 6 mil pessoas.
“Tal como o ACNUR, a Cáritas recomenda que todas as partes se abstenham de fazer uso da violência contra migrantes e as ONG que os resgatam e apoiam. Condenamos veementemente as restrições aplicadas ao acesso ao asilo e repudiamos o que está a ocorrer na Grécia e ao longo da fronteira com a Turquia”, pode ler-se.
O texto evoca a situação na Síria, pedindo ajuda humanitária para as pessoas recém-deslocadas na região de Idlib.
A UE e a Turquia celebraram em 2016 um acordo no âmbito do qual Ancara se comprometia a combater a passagem clandestina de migrantes para território europeu em troca de ajuda financeira.
OC
Europa/Turquia: «Usar os refugiados como peões não é solução» – Eugénia Quaresma (c/áudio)