Reflexos da crise na Cáritas Diocesana de Leiria

Associada como está a Cáritas, em Portugal, à mobilização da solidariedade dos portugueses para socorrer as vítimas de grandes catástrofes, e estando à vista a agudização de uma crise económica e social que se afigura cheia de privações para muitas famílias, justifica-se e tem de considerar-se normal o interesse da comunicação social para dar a conhecer os modos como a Cáritas se organiza, como mobiliza os seus recursos para atender nas necessidades mais urgentes, nas actuais circunstâncias. Neste depoimento, porém, é na Cáritas de Leiria que devo centrar-me, correspondento ao objectivo que me foi apontado: um apontamento sobre o modo como está a Cáritas em Leiria a responder à situação que decorre da actual crise chamada, primeiro, financeira, depois económica e social, mas que todos os desenvolvimentos posteriores impõem que se atribua à ausência escandalosa de princípios éticos mais elementares. Assim, a realidade mais notória, é o crescimento contínuo, primeiro mais discreto e silencioso, no número de pessoas que demandam a Cáritas no sentido de obterem algum tipo de ajuda. Um movimento que vem de há cerca de um ano, mas que cresce de dia para dia, principalmente na procura de bens alimentares. A todos a Cáritas tem podido atender de alguma forma, quer as pessoas se lhe dirijam por iniciativa própria, quer por sugestão de organismos oficiais. Os bens disponíveis são os recebidos, por ocasião do Natal, de campanhas numa ou noutra paróquia, bem como de uma iniciativa de solidariedade promovida na cidade de Leiria, na mesma ocasião, por uma organização juvenil laica, mas também por particulares na mesma quadra. Como várias vezes o tem feito nos anos mais recentes – as dificuldades das famílias não são de agora – a Cáritas não hesitará em continuar a adquirir, com os seus próprios recursos, os bens alimentares necessários, ao menos para as necessidades mais prementes. Está mesmo preparada para alargar o seu esforço para atender às situações que se justifiquem, e certa de que não ficará isolada neste desígnio. A Colecta Paulina para os pobres que, por iniciativa de D. António Marto, teve lugar no passado domingo, dia 25 de Janeiro em todas as Eucaristias da diocese, está já a ser entregue na Cáritas. Gostaria a Cáritas, e é a mensagem que está a difundir, que o produto da colecta que veio das comunidades, a elas pudesse retornar, por intermédio dos seus grupos sócio-caritativos locais. Além de um atendimento que desejamos sempre humano e compreensivo, é também no que se poderia designar por banco de bens móveis, que as pessoas encontram a resposta a muitas das suas necessidades. Em vestuário e agasalho, roupa de cama, calçado, móveis e equipamentos domésticos, material escolar e outros, ascendeu a cerca de 34 000 o número dos bens entregues a 400 pessoas no ano que findou. São, na sua maioria, portuguesas as pessoas que mais demandam a Cáritas. Mas também um bom número de imigrantes. O crescente afluxo de pessoas do sexo masculino, não anula a predominância das mulheres, com algumas jovens mães imigrantes. Provêm, na maior parte, de zona urbana e suburbana de Leiria São também muito diversas as situações de precariedade que nos chegam e a respectiva caracterização não difere da que é mais comum em todo o país, a avaliar pelos relatos de outras Cáritas Diocesanas. Prevalecem as situações de desemprego, magreza das pensões, mais agravadas estas quando as pessoas vivem sós, perturbações do foro psíquico e, sobretudo, a desagregação familiar; mas também muitos imigrantes chegados sem nada ou sem trabalho, e que procuram na Cáritas todo o género de ajudas. Algumas necessidades de meios financeiros, nomeadamente as relacionadas com os custos fixos da vida na cidade, como o são a renda de casa ou do quarto, as despesas com água, electricidade, gás, transportes e outras, são igualmente atendidas. De um modo geral mas, sobretudo, nestes casos de ajudas financeiras, a Cáritas privilegia a interacção com organismos oficiais e grupos socio-caritativos locais, já que, por razões de conhecimento pessoal, de vizinhança e de proximidade, permitem uma necessária e mais correcta avaliação de cada caso. Ainda no âmbito das necessidades básicas e de subsistência, a acção da Cáritas de Leira alarga-se também à participação, como instituição mediadora para o concelho de Leiria, no Programa Comunitário de Ajuda Alimentar a Carenciados (PCAAC). Assim, através deste programa gerido pela Segurança Social, antes do Natal foram feitos chegar, através de grupos locais, a perto de 800 famílias (2000 pessoas) e a 36 instituições (1100 pessoas) cerca de 65 toneladas de bens alimentares disponibilizados para o concelho de Leiria. Não saindo ainda do âmbito das necessidades de subsistência de que nos estamos a ocupar, ficaria o presente apontamento incompleto, se não fizesse menção da parceria com o Centro de Acolhimento de Leiria (CAL). O CAL é um serviço criado pela paróquia da Sé de Leiria, vai para dez anos, para acolher as pessoas mais pobres, desprovidas de suporte familiar, e a satisfazer, com respeito e dignidade, as suas carências primárias. A Cáritas continua a ser, entre os poucos parceiros, o principal financiador, através de uma verba mensal e de uma parte bem significativa do peditório Cáritas na cidade de Leiria. Atenta e operante, e com a activa participação das comunidades cristãs e de todas as pessoas de boa vontade, a Cáritas em Leiria propõe-se, assim, continuar a oferecer a sua disponibilidade para colaborar no esforço de superação das dificuldades mais graves por que estão ou irão passar muitas famílias, e a contribuir para a edificação de uma sociedade renovada, justa e solidária, onde prevaleça o reconhecimento da primazia do bem comum e da satisfação das necessidades autenticamente humanas. Ambrósio J. Santos, Cáritas Diocesana de Leiria

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