Reaprender a gramática do coração

Semana de Estudos Teológicos em Braga A professora da Faculdade de Teologia de Braga, Isabel Varanda defendeu, ontem a urgência de se «reaprender a gramática do coração e a justa conjugação dos verbos amar e pensar». «A nossa sobrevivência espiritual e mesmo física passa por aqui. Talvez, então, quando a geração dos nossos pais desaparecer, Deus ainda seja lembrado e ainda seja amado», disse a docente, que proferiu, no primeiro dia da XV Semana de Estudos Teológicos, uma conferência intitulada “Transmissão da fé: novos desafios culturais”. Por outro lado, «se continuarmos a descurar a educação das emoções, dos sentimentos e afectos, em geral, quando a geração dos nossos pais desaparecer Deus ainda será lembrado/pensado, mas já não será amado». A oradora falou sobre a forma como a geração dos nossos pais e avós traduzia «a presença, a intervenção e a relação com Deus, no quotidiano». Neste contexto, apresentou fórmulas, orações, breves narrativas, estórias e ditados populares, «com conotação religiosa, construídos pelo povo, para a vida quotidiana do povo. «É urgente reaprender a gramática do coração» reveladores do mistério» que habitava a sua vida. «Para cada momento do dia, e nas circunstâncias mais diversas, o crente não contava só consigo. Deus era presença permanente, a quem se suplica, a quem se louva e a quem se dá graças sem cessar». De acordo com Isabel Varanda, «vivemos na era dos construtores de tectos. O humano do século XXI já não constrói catedrais com as torres rasgando os céus, deixou de olhar as alturas e delas se projectar através das suas construções. O seu olhar vira-se para o interior, para o seu interior, e em vez de torres e pirâmides, o humano do século XXI aposta na engenharia de interiores, tornando-se construtor de tectos». Ser cristão «Ser cristão não é viver noutro lugar, mas de outro modo, com outro encanto, no lugar que é todos». A ideia foi apresentada ontem pelo secretário da Conferência Episcopal Portuguesa, Carlos Azevedo. «A qualidade do testemunho depende do rigor com que o cristão empreende a tarefa de dizer e actuar », com que ele «expressa aquilo de que é portador », acrescentou o prelado, que proferiu a primeira conferência da XV Semana de Estudos Teológicos. D. Carlos Azevedo, que falou sobre “Escritura, tradição e testemunho”, afirmou que «importa inventar uma linguagem e um novo modo de viver». Segundo o Bispo Auxiliar de Lisboa, as «parábolas ajudam a saltar da lógica banal para uma perspectiva de vida». «Se o anúncio da Salvação chegou até nós foi graças à tradição», acrescentou. «Quem transmite o estilo de viver de Cristo está a transmitir uma realidade essencial da vida da Igreja», disse. Para D. Carlos Azevedo, «a fé cria disposição para escutar uma palavra que é dirigida e que tem uma mensagem que não podemos inventar nem proclamar por conta própria».

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