Padre Pedro Manuel, Diocese do Algarve
É habitual, nos dias de hoje, falar da Pandemia provocada pelo novo coronavirus como sendo o motivo de tantas calamidades e dificuldades que têm surgido na nossa vida social, académica, eclesial e familiar. É um facto que a vida se alterou de modo profundo e que tudo o que era dado como assumido, deixou de o ser. Muito do que foi sendo experimentado, passou a ser desafio e laboratório de novas oportunidades que sendo felizes, podem ser replicadas por outros. Na catequese, como na vida em geral, também foi e é assim!
Desde março, que os ritmos comunitários das nossas paróquias se alteraram substancialmente. A celebração da eucaristia em comunidade, vetada por motivos de confinamento durante alguns meses, tem feito agora um caminho real e “duro” de reestruturação e de verdadeiro convite do Pai, para que os filhos regressem a casa. A evangelização, a partir de novos areópagos (que talvez já não fossem assim tão novos, mas para muitos, verdadeiros desconhecidos), o reajustar de tudo o que se fazia e a mudança no modo de fazer, levou-nos a navegar noutros mares e a re-descobrir o mundo digital como porta que se escancara para que todos tenham acesso a Quem “veio para dar vida a todos” (Jo 10,10). Eis o desafio, fazer chegar às superfícies “as coisas antigas e novas” (Mt 13, 52) com as ferramentas que teimavamos em não usar.
Os últimos meses do passado ano pastoral, foram para a catequese da Diocese do Algarve, e para todas, um desafio… “Sessões via Zoom” ou noutras plataformas congéneres, foram uma constante. Provavelmente, nalguma circunstância em excesso, mas o aproveitamento das redes para uma catequese de partilha e de vivênvia diferente, foram oportunidades que nos fizeram olhar “esse” presente como possibilidade para um futuro que se impunha baseado e movido por tantas incertezas.
Nesta sequência, o início deste ano pastoral trouxe consigo a necessária reflexão acerca das dinâmicas a usar, não esquecendo o desejo e preferência pela presença, mas conscientes de que a sã separação continuaria a ser, para bem de todos, uma necessária opção. Neste contexto, como fazer para que “o coração continue a arder” (Lc 24, 32) cada vez que o Senhor nos fale? – Aqui está a regra! Fazer de toda a nossa ação, um verdadeiro caminho de Emaús e de encontro com o Senhor. De forma presencial ou mais distante, com o necessário cruzamento dos olhares ou com o possivel toque no ecrã, alicerçados pelo programa pastoral da nossa diocese, queremos ajudar a recentrar a catequese e a vida celebrativa em Jesus, que “recapitula em Si todas as coisas” (Ef 1, 10).
O mundo mudou e continua em mudança, a linguagem mudou e a gramática das nossas ações e dos nossos afetos também, por isso “o hoje” é necessariamente diferente “do ontem”. Não podemos permitir que o isolamento nos feche em nós mesmos, e se ainda há realidades paroquiais que conseguem reunir a sua catequese em cada semana, também há aquelas que por falta de espaço ou outras dificuldades se intercalam entre presenças e ecrãs…
Oportunidade bonita para redescobrir a beleza das nossas igrejas e percebê-las como casa de cada baptizado e comunidade de irmãos, é fazer das mesmas uma oportunidade catequética. Em muitas paróquias as catequese voltaram hoje a sentar-se nos bancos das igrejas porque aí se conjuga o distanciamento social que pede espaço com a dimensão de alguns grupos que pela sua fisionomia expressam vida em abundância… Talvez seja esta a primeira forma de “desescolarizar” a catequese (como tantas vezes se lamenta e refere), saímos da sala e redescobrimo-nos no espaço…
Ser catequista hoje… eis o novo desafio! Como? Com a humildade de quem descobre que a sua missão não é pessoal, mas da Igreja e como quem se sente especial colaborador de Jesus e de uma familia para chegar ao coração da criança, do adolescente e do jovem…
Vivemos tempos novos. Nada do que tinhamos adquirido é hoje seguro, mas não muda a certeza de sermos todos parte de um caminho que nos leva a Jesus que “é o mesmo ontem, hoje e sempre” (Heb 13, 8). Se tudo parte d’Ele, tudo para Ele se dirige e o ardor missionário das primeiras horas não pode fraquejar… Não podemos deixar que esmureça ou desapareça. Olhando para cada um dos nossos catequizandos também nós lhes dirigimos o mesmo apelo que o Senhor lançou aos pescadores junto ao mar da Galileia: “Vinde comigo” (Mt 4, 22).
A época que nos é dado viver agora fez-nos perceber que as certezas e seguranças que tinhamos já não criavam cristãos. A diferencça cristã daqueles a quem se dirige a nossa missão já não os fazia (em muitos casos) ser diferentes num mundo de iguais. Estou convicto de que a oportunidade do momento presente é a possibilidade de nos redescobrirmos para melhor servirmos e para fazer de forma nova o anúncio, também ele novo, mas de sempre.
Feliz ano catequético para todos!
P. Pedro Manuel
Director do Secretariado Diocesano da Catequese – Diocese do Algarve
Pároco de Boliqueime, Ferreiras e Paderne