RC Congo: Papa lança mensagem de paz e reconciliação, para travar violência que destrói o país

Francisco presidiu a Missa para mais de um milhão de pessoas

Kinshasa, 01 fev 2023 (Ecclesia) – O Papa presidiu hoje à Missa no aeroporto de Kinshasa-Ndolo, perante mais de um milhão de pessoas, desafiando os católicos a “romper a espiral da violência” que destrói o país africano há décadas.

“Jesus conhece as tuas feridas, conhece as feridas do teu país, do teu povo, da tua terra! São feridas que ardem, continuamente infetadas pelo ódio e a violência, enquanto o remédio da justiça e o bálsamo da esperança parecem nunca mais chegar”, disse, na homilia da celebração.

Francisco é o segundo Papa a visitar a RDC – São João Paulo II esteve no antigo Zaire, em 1980 e 1985 -, país com 105 milhões de habitantes, onde os católicos representam 49,6% da população, segundo dados do Vaticano.

“Irmãos, irmãs, somos chamados a ser missionários de paz, e isto nos encherá de paz. Trata-se duma opção: é dar espaço a todos no coração, é acreditar que as diferenças étnicas, regionais, sociais e religiosas vêm em segundo lugar e não são obstáculo”, apelou.

Numa intervenção em italiano – e lida em francês, por um sacerdote, para a multidão – o Papa convidou a contrariar os sentimentos de um “mundo desanimado com a violência e a guerra”.

“Hoje, juntos, acreditamos que, com Jesus, sempre temos a possibilidade de ser perdoados e de recomeçar, bem como a força de nos perdoarmos a nós mesmos, aos outros e à história”, apontou.

Francisco visita o país num momento de tensão no leste da RD Congo, sobretudo na fronteira com o Ruanda, zona rica em minérios onde existem mais de 100 grupos armados ativos, nomeadamente o Movimento 23 de Março (M23) e as Forças Democráticas de Libertação do Ruanda (FDLR).

A viagem, inicialmente programada para julho de 2022, foi adiada devido aos problemas no joelho que afetam o Papa; a passagem por Goma, no leste do país, foi retirada do programa, devido a questões de segurança para a população.

Que seja o momento propício para ti, que, neste país, te dizes cristão e todavia praticas a violência; a ti diz o Senhor: ‘Depõe as armas, abraça a misericórdia’. E a todos os feridos e oprimidos deste povo, diz: ‘Não tenhais medo de colocar as vossas feridas nas minhas, as vossas chagas nas minhas chagas’!

Foto: Lusa/EPA

O Papa convidou todos os participantes a promover uma “grande amnistia do coração”, para promover o perdão e a paz.

“Como é bom abrir à sua paz as portas do coração e as de casa! E por que não escrever no vosso quarto, na vossa roupa, no exterior da vossa casa as suas palavras: A paz esteja convosco?”, recomendou.

Francisco deixou votos de que o testemunho dos católicos seja uma “profecia para o país”, sublinhando que “não há cristianismo sem comunidade, tal como não há paz sem fraternidade”.

A homilia alertou para os perigos “do poder e do dinheiro”, defendendo comunidades atentas aos mais pobres e sem divisões.

“A paz esteja convosco: diz Jesus hoje a cada família, comunidade, etnia, bairro e cidade deste grande país. A paz esteja convosco: deixemos que ressoem no coração, em silêncio, estas palavras de nosso Senhor. Ouçamo-las dirigidas a nós e escolhamos ser testemunhas de perdão, protagonistas na comunidade, pessoas em missão de paz no mundo”, concluiu.

A Eucaristia, segundo o rito zairense, teve como intenções a paz e a justiça, contando com orações em francês, lingala, tshiluba, swahili e kikongo.

No final da Missa, o Papa foi saudado pelo arcebispo de Kinshasa, o cardeal Fridolin Ambongo Besungu, que falou num país em crise, vítima de uma “agressão injusta”, apelando a eleições livres e pacíficas.

OC

Esta tarde, Francisco recebe na Nunciatura Apostólica um grupo de vítimas da violência na RD Congo, onde nas últimas semanas se verificou a morte de mais de 200 civis e a fuga de mais de 50 mil pessoas nas províncias de Ituri e Kivu do Norte nas últimas seis semanas; mais de 1,5 milhões de pessoas permanecem na região, como deslocados internos.

Esta é a quinta viagem do atual Papa ao continente africano, onde esteve em 2015, 2017 e 2019, por duas vezes, tendo passado pelo Quénia, Uganda, República Centro-Africana, Egito, Marrocos, Moçambique, Madagáscar e Maurícia.

A visita prolonga-se até domingo, passando, a partir de sexta-feira, pelo Sudão do Sul.

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