D. António Marcelino, bispo emérito de Aveiro, em entrevista à Sala de Imprensa do Santuário de Fátima Em continuidade ao programa estabelecido pelo Santuário de Fátima para a comemoração dos 90 Anos das Aparições, entre os próximos dias 11 e 14 de Janeiro (2007), será levado a efeito na Casa de Nossa Senhora do Carmo, no Santuário, um novo retiro de oração. O orientador será D. António Marcelino. 1 – O que acha desta iniciativa do Santuário, de incluir a realização de retiros, e também de vigílias, num programa celebrativo que integra também iniciativas de estudo e manifestações artísticas nas mais diversas áreas? D. António Marcelino – Os santuários são sempre lugares adequados para que além da peregrinação livre de quem a quiser fazer, se façam propostas enriquecedoras de reflexão, oração e formação. Desde há muito que Fatima é em Portugal a maior e mais aberta escola de múltipla formação dos cristãos. Muitos milhares passam pelo Santuário em cada ano com esse propósito. Ainda bem. Também as manifestações artísticas consentâneas com a missão evangelizadora do Santuário são bem vindas e enriquecedoras, porque não há verdadeira beleza que não espelhe a seu modo a eterna e inesgotável beleza de Deus é não nos leve à união com Ele. 2 – Dizem que o ambiente sobrenatural que se vive/sente no Santuário é fundamental para a realização destas acções de oração e meditação? Concorda? D. António Marcelino – Certamente que o que mais ajuda neste tipo de manifestações é o ambiente espiritual que o Santuário proporciona a quem nele procura caminhos novos e força espiritual para os poder andar proveitosamente. Um dos muitos deveres dos responsáveis do Santuário é preservar este ambiente convidativo à interioridade, tornando-o ao mesmo tempo mais propício ao enriquecimento espiritual para quem procura este local e quer ser ajudado pelo ambiente que ele proporciona. 3 – O tema deste retiro: “Próximo… é o que usa de Misericórdia”, remete em primeira instância para quê? D. António Marcelino – Os “outros”, mormente os que mais precisam, sempre estivam no horizonte das preocupações de Jesus Cristo, por isso mesmo têm de estar sempre presentes nas preocupações da Igreja e da sua acção apostólica e pastoral. Quem usa de misericórdia para com alguém é sempre um mediador de Deus, um Pai rico em misericórdia. É preciso acordar os cristãos e todas as pessoas de boa vontade para esta mediação da misericórdia divina. Sempre esta mediação tornará Deus conhecido e amado, como uma experiência concreta do amor misericordioso. 4- Como está a preparar este primeiro retiro? D. António Marcelino – Mesmo as coisas mais habituais do ministério episcopal não podem cair na rotina da vida. Reflectir sobre a necessidade e o dever de ser misericordioso junto de quem se sente menos amado e acolhido, faz parte da preparação deste retiro. É preciso que quem nele participar se sinta mais próximo e disponível de todos os carentes de pão, de fé, de amor, de atenção, de justiça, de alegria e de paz. E também mais consciente de que um cristão convicto é um obreiro generoso da partilha destes bens. Como ajudar a caminhar generosamente os que já caminham neste sentido e acordar os instalados, é propósito da preparação que estou fazendo. 5 – Agora como Bispo Emérito, como tem ocupado o seu tempo? D. António Marcelino – Um bispo emérito continua a ser bispo da Igreja, dom de Deus aos seus filhos. Ele não é bispo para si, mas para todos. Por isso, o governo diário de uma diocese não esgota o ministério episcopal, de modo ao bispo ficar inactivo ou inútil, quando se torna emérito. Um bispo tem sempre muito para fazer por fidelidade diária ao ministério de ensinar e de santificar. Ele ordenado bispo para uma Igreja sem fronteiras e sendo emérito permite-lhe estar mais atento e disponível para as urgências da missão e viver em concreto a solicitude de todas as Igrejas. No pouco tempo que tenho de bispo emérito já me foi pedido serviço para diversas dioceses do país e até para fora em favor dos emigrantes, serviço em órgãos nacionais de pastoral, para além do que me foi solicitado pela Conferência Episcopal. E estão em carteira projectos pessoais e eclesiais que me proponho levar a cabo. Não há, portanto, perigo de ficar desocupado ou sem ter que fazer. Quando um dia já não puder fazer estes serviços, há outros, feitos num silêncio orante e num acolhimento sereno da vontade de Deus, que não menos importantes, nem de menor dimensão apostólica.