Quaresma: Via-Sacra mostra «dificuldades e erosão» da vida, mas também a fé que confirma o caminho – padre Nuno Branco (c/vídeos)

Jesuíta convida a olhar a 3ª e a 4ª estação sem esconder as quedas e a procurar o «amor primeiro» que gera e convida a multiplicar

Lisboa, 01 mar 2024 (Ecclesia) – O padre Nuno Branco disse que a fé “tem de ser beliscada”, que não há “vidas lisas” e que a queda de Jesus, segundo a tradição da Via-Sacra, mostra que “Ele encarnou e há esperança”.

“Eu acho que (a queda) é um sinal de esperança, porque às tantas poderíamos achar que o desgaste da vida não faria parte da equação, ou que a erosão, as dificuldades, as quedas, não deveriam estar a acontecer. A queda é o sinal que Ele encarnou mesmo”, explica à Agência ECCLESIA.

Convidado a revisitar os 14 desenhos da sua autoria, que acompanharam a Via-Sacra da Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2024, o padre Nuno Branco indica, a partir do desenho da 3ª estação – «Jesus cai pela primeira vez» – que a fé “não pode viver alheada da realidade”.

Imagem: 3ª Estação, padre Nuno Branco

“A primeira queda de Jesus vem assinalar que é no momento em que sentes que a tua fé atingiu o chão, a terra, ou caiu por terra, não quer dizer que não tenhas fé. A fé está à espera dessa ocasião, portanto, a fé não sobrevoa, nem fica alheada ou à margem da nossa vida. Encontrei uma frase de um padre norte-americano que dizia que a salvação é um mendigo a dizer a outro mendigo onde encontrar pão. Não sei se naquele momento Jesus assume a nossa queda, (mas) é também um mendigo que nos diz onde é que haveríamos de encontrar pão, e acho que é isso que nos faz levantar – é quando Deus assume literalmente a nossa queda”, explica.

O jesuíta reconhece um sentimento de solidão que as quedas podem causar, mas que esse acontecimento não deve estar associado ao “abandono”.

“No sofrimento ou na queda, sentimo-nos desamparados e eu acho que há aqui uma solidão que é incontornável e que é inevitável, que não quer dizer abandono, mas antes deparar-me honestamente diante de Deus e não encontrar à minha volta apoio ou suporte. Ninguém neste mundo pode-me dar aquilo que só Deus me pode dar”, acrescenta.

No caminho da Via-sacra, que na tradição cristã recorda os últimos passos de Jesus antes da morte, a quarta estação evoca o encontro com a sua mãe e o padre Nuno Branco reconhece neste encontro a evocação da “vida eterna”.

Imagem: 4ª Estação, padre Nuno Branco

“Encontrar a mãe não é desejar voltar à vida uterina, mas é encontrar o ponto de onde parti – encontrar aquela que me gerou, encontrar aquela que está na origem da minha vida. Portanto na quarta estação, que é ainda muito no começo, Jesus ao encontrar a mãe encontra sinais de vida eterna”, indica.

Recordando o “amor primeiro”, aquele que é “gerador”, o padre jesuíta convida a multiplicar os gestos de “compaixão” e atenção ao próximo.

“(Somos também convidados) a estarmos atentos, a ter atenção às pessoas com quem nos cruzamos, ter gestos de proximidade, de compaixão, de ter gestos de atenção, de cuidar, de zelo, mas ao mesmo tempo encaminhar e não deter, ou seja, são gestos que encorajar a pessoa a prosseguir”, finaliza.

O percurso da Via-sacra, com o padre Nuno Branco, é apresentado online, nos canais da Agência ECCLESIA, e no programa da Igreja católica na Antena 1 da rádio pública, a cada sábado de Quaresma, pelas 06h00.

LS

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