Valdemar Medeiros é romeiro há 10 anos e fez o seu terço com uma espécie de milho, cultivado em São Miguel
Lagoa, São Miguel, Açores, 30 jan 2024 (Ecclesia) – Valdemar Medeiros, romeiro no Rancho do Rosário da Lagoa, na Ilha de São Miguel, constrói terços com o milho “lágrimas de Nossa Senhora”, uma espécie cultivada na ilha açoriana.
“Já não tenho a plantação, mas ainda consigo encontrar essas contas de milho”, disse Valdemar Medeiros, ao portal online ‘Igreja Açores’, da Diocese de Angra.
O romeiro do Rancho do Rosário da Lagoa explicou que tem terços feitos com outros matérias, naturais ou reutilizados, como a partir de peças de um cortinado, mas destaca que gosta de trabalhar “as lágrimas de Nossa Senhora”, que são uma espécie de milho que se cultiva na ilha açoriana de São Miguel.
“Não vendo terços, faço-os para quem me pede e muitas pessoas pedem. Já fiz um até de caroço de azeitona e foi talvez o mais difícil”, recordou.
Valdemar Medeiros não sabe o número de terços que já construiu, mas destaca também um com pedra de basalto, “uma inovação” com aquilo que a “terra dá” e que “há de ser rezado por todos”, na romaria quaresmal.
“Rezo muito, e quando estou a fazer o terço até parece que rezo melhor”, explicou.
Os ranchos devem cumprir um percurso, sempre com mar pela esquerda, passando pelo maior número possível de igrejas e ermidas de São Miguel, a pé, durante uma semana, começam a andar antes de o nascer do sol e terminam ao pôr-do-sol, onde são acolhidos pelas famílias, nas suas casas ou outros espaços; os homens usam um xaile, um lenço, um saco para alimentos, um bordão e um terço, entoando cânticos e rezando, recolhem intenções que vão sendo partilhadas ao longo da estrada, sobretudo dentro das localidades.
Os oito primeiros ranchos vão sair no primeiro sábado da Quaresma, este ano dia 17 de fevereiro; a romaria do Rancho do Rosário da Lagoa começa na última quinta-feira da Quaresma (21 de março) e regressa para a celebração da Missa da Ceia do Senhor, de Quinta-feira Santa (28 de março), na igreja do Rosário.
“O mais difícil é ouvir as orações dos outros irmãos; quando ouvimos e vemos as lágrimas de um irmão é muito duro, muito mais do que as dores do caminho, porque a caminhada se for de coração supera tudo. Nós carregamos muitas dores: as nossas e as de muita gente. O procurador das almas é quem mais sofre porque é ele que recolhe todas as intenções, assinalou.
Valdemar Medeiros é romeiro há 10 anos e afirma que “levar o neto”, que tem sete anos de idade é o que falta fazer numa romaria, mas “já não há de faltar muito”.
Para o romeiro do Rancho do Rosário da Lagoa o grande desafio neste momento passa pela equiparação dos trabalhadores do sector privado ao Serviço Público;
O Movimento de Romeiros de São Miguel divulgou o despacho da Presidência do Governo Regional sobre as ‘Romarias 2024’, onde José Manuel Bolieiro, determina, por exemplo, que “ficam dispensados de serviço os trabalhadores da Administração Pública Regional dos Açores que participem nas Romarias”, que se realizem nas ilhas São Jorge, Graciosa, São Miguel e Terceira, “durante o período da Quaresma” 2024.
A Diocese de Angra informa que se espera que saiam os 56 grupos na Quaresma deste ano – 54 de São Miguel e dois da diáspora – e que aumente o número de romeiros na estrada, embora possam não chegar aos habituais 2500 homens; existem grupos de romeiros nas ilhas Terceiras, Graciosa e São Jorge e grupos de romeiras.
No ano pastoral 2022/2023, os Romeiros de São Miguel comemoraram os ‘500 anos das Romarias Quaresmais’, que tiveram origem na sequência de terramotos e erupções vulcânicas registados no século XVI nesta ilha, que arrasaram Vila Franca do Campo e causaram grande destruição na Ribeira Grande, em 1522.
CB/OC