Quaresma: Papa «escolheu o mote certo para despertar consciências»

Diretor da Obra Católica Portuguesa de Migrações comenta mensagem de Francisco

Lisboa, 04 mar 2014 (Ecclesia) – O diretor da Obra Católica Portuguesa de Migrações (OCPM) considera que a prioridade que o Papa tem dado aos marginalizados e excluídos, reforçada na sua mensagem para a Quaresma, representa um sinal de “esperança”.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, frei Francisco Sales destaca o papel que o Papa argentino está a desempenhar na mudança de uma mentalidade moldada pelo fator económico e pouco atenta ao fator humano, e de uma Igreja Católica que precisa de “deixar de ser prestadora de serviços para ser missionária”.

Segundo aquele responsável, em muitas dioceses e paróquias, a urgência de estar junto daqueles “que estão à margem, particularmente com os imigrantes e com outras situações similares, ainda não foi assumida”, porque se trata de uma realidade que “incomoda”.

“São pessoas que estão em situações difíceis, que precisam de uma atenção especial, de ser ouvidas, acolhidas, amadas, são pessoas que precisam de amor, de esperança, de alguém que lhes fale de Deus, que ajude a dar sentido à vida”, sublinha o diretor da OCPM.

Num texto intitulado ‘[Cristo] fez-Se pobre, para nos enriquecer com a sua pobreza’, inspirado numa passagem da segunda carta de São Paulo aos Coríntios, o Papa chama a atenção para um eixo que tem de definir toda a ação pastoral da Igreja Católica: o combate à miséria “material, moral e espiritual”.

Para o diretor da OCPM, Francisco “escolheu o mote certo para despertar consciências e levar os cristãos a fazerem uma reflexão séria e um processo de caminhada e de conversão nesta Quaresma”.

Frei Sales recorda que a atual “estrutura social, com uma economia exacerbada que destrói a pessoa humana, teve como raiz um mundo dito cristão”.

“É quase” como se fosse revivida a passagem bíblica da “adoração do bezerro de ouro, moldado pelos hebreus, a humanidade criou o dinheiro e hoje vive à volta dele, adorando-o, substituindo-o como centro da vida a humanidade e Deus”, exemplifica.

No que toca à miséria espiritual, o sacerdote reconhece que “quem procura viver imerso numa realidade apenas material” acaba por rejeitar Deus e por coloca-lo “fora da sua vida”.

“É uma realidade muito palpável, as pessoas rejeitam Deus porque as incomodam, é um espinho na carne que lhes diz que aquilo está mal, a miséria espiritual passa também por aí”, frisa o responsável católico, voltando a destacar a importância da Igreja Católica intervir junto destas realidades, junto do “coração humano”, a verdadeira “terra de missão”.

Na sua mensagem para o tempo quaresmal, o Papa recorda todas as pessoas que vivem em dificuldades por falta de “condições sociais, de trabalho, de igualdade nos direitos” de acesso a bens essenciais como “o alimento, a água, as condições higiénicas, a educação, a saúde, a possibilidade de progresso e crescimento cultural”.

Por causa desta conjuntura, salienta o frei Francisco Sales, “milhões de pessoas estão a emigrar hoje” em “busca” de um futuro diferente.

“Hoje vivemos a era da mobilidade humana e a Igreja tem de ir ao encontro desta realidade”, reforça o sacerdote franciscano.

JCP

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