Quaresma: Miséria material «é gritante» na América Latina

Padre António Fernandes compara vivência quaresmal da Europa com experiência em países de missão

Lisboa, 04 mar 2014 (Ecclesia) – O provincial dos Missionários da Consolata, padre António Fernandes analisa a mensagem quaresmal do Papa fazendo a comparação entre as vivências diárias dos europeus e dos povos da América Latina com os quais viveu enquanto esteve em missão.

“Na América Latina, em África e em alguns locais da Ásia a miséria é muito diferente da europeia onde as condições de dignidade humana já estão presentes, fala-se muitas vezes em franjas de pobreza a nível europeu mas essa realidade não tem nada a ver com determinadas realidades de povos, pessoas e de comunidades no continente latino-americano” sendo que “na América Latina a miséria material é muito mais gritante devido à grande diferença e ao grande fosso que existe entre pobres e ricos”, revela o padre António Fernandes em declarações à Agência ECCLESIA.

“Em povos indígenas o material não tem tanto valor como na Europa” sendo que “aqui vive-se numa sociedade que vive acumulando muitas vezes o desnecessário e nestes povos indígenas” onde o padre António Fernandes trabalhou “não têm essa perspetiva, tentam apenas viver o dia-a-dia na providência de Deus”.

Ao recordar a forma como estes povos, com quem privou na América Latina, “geriam a relação com Deus com a quotidianidade da vida, pedindo por exemplo autorização a Deus para derrubar uma árvore da floresta” o padre António Fernandes conclui que “a pobreza ou a riqueza material muitas vezes impede-nos de nos relacionarmos com o nosso irmão e com Deus com total disponibilidade, com total liberdade.”

“Toda a vida tem de ser percebida como um dom de Deus e nesta perspetiva a vida tem de ser levada e construída como tal” colocando tudo isso ao “serviço de quem se encontra todos os dias” disponibilizando-se para “ser dom para essa pessoa, inclusive com bens materiais”.

Um exemplo que o provincial dos Missionários da Consolata viu acontecer na prática quando por exemplo “alguém numa comunidade indígena tinha mais do que suficiente para si chamava as outras comunidades para partilhar, fazendo uma festa.”

Um hábito de partilha e renúncia ao bem material que estes povos “fazem naturalmente” porque muitos daqueles com que o padre António Fernandes se cruzou “nem sequer sabiam o que era a Quaresma”.

“O tempo de Quaresma era aproveitado para fazer cursos de formação para as comunidades indígenas” em que se lutava muito pela conversão “tentando sempre combater o vício do álcool que este povo tinha muito”.

Para reverter esse hábito os missionários da Consolata promoviam “um compromisso cristão” perpetuando uma “conversão interior mas também coletiva” através “do batismo, de momentos de oração e jejum”, conta.

A mensagem para a Quaresma do Papa Francisco é interpretada pelo provincial dos missionários da Consolata como “um apelo a todos os que têm e dão sem consciência” algo que o padre António Fernandes considera “a pior coisa que pode acontecer a um cristão”.

“A caridade faz parte do dom de Deus, se a pessoa o tem não lhe pertence e portanto tem de doá-lo, oferecê-lo ao outro consciente de que ele é um irmão e não porque é um coitado que sofre, mas sim porque todos são corresponsáveis pelo outro que Deus colocou lado a lado”, refere o sacerdote em declarações à Agência ECCLESIA.

“Não há vida nem amor sem sacrifício e doá-lo e sacrificarmo-nos nas pequenas coisas é um grande ato de amor pelos meus irmãos e por quem está ao meu lado”, conclui.

LS/MD

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