Publicações: «Somos pobres mas somos muitos», um desafio à sociedade

Livro resulta de uma conversa entre frei Fernando Ventura e jornalista Joaquim Franco

Lisboa, 21 nov 2013 (Ecclesia) – O ‘Somos pobres mas somos muitos – sobre o Papa Francisco e o mundo’, apresentado esta quarta-feira, junta frei Fernando Ventura e o jornalista Joaquim Franco para refletirem sobre “a construção de uma sociedade” em relação.

“Este título é um desafio de proposta de início de reflexão sobre a possibilidade de construção de uma sociedade feita de redes de relação, sem senhores nem escravos, sem denominadores nem dominados. Na possibilidade de uma horizontalidade de relações que é condição prévia à possibilidade de sonhar uma verticalidade de relações”, revela frei Fernando Ventura à Agência ECCLESIA.

Em «Somos pobres mas somos muitos», as perguntas são feitas pelo jornalista Joaquim Franco que explica que o livro “traz à discussão, a partir do exemplo do Papa Francisco e das várias pistas de reflexão não só para a Igreja mas para o mundo, esse desafio para se partir à procura das questões importantes da vida, do dia-a-dia”.

Para o jornalista, o Papa “se não desencadeou, está a ser o protagonista de um processo de mudança de mentalidade a vários níveis” e desde a sua eleição leva as pessoas “da surpresa e do espanto à perplexidade e ao desconcerto”.

“Nós existimos e exercemos o nosso ser cidadania e o nosso ser gente ao nível da relação interpessoal. O desafio passa por uma construção de consciência pessoal interventiva na história, de cidadania praticante, independentemente dos credos religiosos ou das formas de celebrar a vida mas de uma cidadania militante que pode marcar a diferença”, acrescenta por sua vez o frade capuchinho, que é a voz das respostas.

A apresentação do livro foi dividida entre a jornalista Ana Lourenço e frei Bento Domingues, em Lisboa.

Ana Lourenço destacou que a meta “é a inquietação de atravessar a crise sem deixar ninguém para trás” e que os escritores “exortam à revolução dos afetos, da divisão que chega à multiplicação”, “um desafio global e sem fronteira”.

Frei Bento Domingues considerou que o livro é “uma forma de intervenção” porque dá voz às pessoas e surge na “sequência de destabilização que o Papa Francisco veio trazer”: “É preciso ampliar o desassossego que precisa de ser ouvido, é importante que os católicos não se deem por vencidos e não deem o trabalho todo ao Papa”.

Os autores do ‘Somos pobres mas somos muitos’ são duas pessoas da comunicação “que fizeram a profissão da não ocultação, que é uma tarefa sem fim”, acrescentou o Frei Bento Domingues.

O livro e o título são uma viagem que começou com os dois autores em Roma, nas vésperas da eleição do Papa Francisco, e termina com o frei Fernando Ventura em Moçambique, mais concretamente em Quelimane, a 1565 quilómetros a norte da capital Maputo, onde estão os Franciscanos Capuchinhos e a Ordem Terceira Secular, com mais de três mil membros que “percebeu que havia gente ainda mais pobre”.

Os capuchinhos tinham um terreno com “um pavilhão enorme” que deram à Ordem Terceira que fez a “revolução possível naquele espaço” para acolher quem se deslocava ao hospital local mas “não tinha dinheiro para pensões ou hotéis”, desenvolve o frade.

Para além disso construíram mais seis casas para receber quem necessita de mais silêncio e recato: “Eu disse-lhe com a minha cabeça europeia ‘mas isto custou uma fortuna’ e ele sorriu e respondeu, ‘somos pobres mas somos muitos’”, explica frei Fernando Ventura.

CB

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