Livro de contos «Voar na Fantasia”» evoca temas relacionados com a pandemia
Lisboa, 03 nov 2021 (Ecclesia) – A psicóloga Margarida Cordo, co-autora do livro “Voar na Fantasia”, das edições Salesianas, disse à Agência ECCLESIA que é necessário perceber a “complementaridade entre a tristeza e a alegria” na vida de cada um e fazer bom uso do silêncio.
“O silêncio é uma oportunidade de aprendizagem, o silêncio inteligente é um silêncio que ensina, estamos num tempo em que o silêncio discreto pode ajudar cada um a fazer caminho, mas está em desuso, porque as pessoas não estão a fazer nada para si, para seus, ou para o verdadeiro serviço, fazem alguma coisa para mostrar, para exibir, e nós somos menos importantes para os outros do que pensamos”, afirma à Agência ECCLESIA.
Olhando os primeiros dias de novembro, em que a recordação de quem já partiu se torna bem presente e, apesar da “saudade”, Margarida Cordo salienta a necessidade do “silêncio inteligente”.
A entrevistada remete este silêncio do mês de novembro para as “perdas e partidas” e que, a pandemia “levou tantas pessoas queridas de tantas famílias”, é necessário “usar o silêncio para sarar as feridas que precisam de tratamento, da sua abordagem e resiliência”.
“Que nós saibamos que há lugar para vários sentimentos, uns só existem porque outros também existem, conhecer a complementaridade; aceitar a tristeza e dar nome quando surge, processar interiormente e perceber que a alegria é algo muito mais profundo do que uma felicidade estrondosa”, refere a psicóloga.
Margarida Cordo assinala que se vive “num tempo em que não é moda ser infeliz” mas a tristeza faz parte da vida, “não é patologia, é um sentimento proporcionado por uma determinada situação ou circunstâncias e que é saudável”.
Parece que temos de mostrar coisas maravilhosas que vivemos, o mau uso das redes sociais, por exemplo, as pessoas só lá põem coisas maravilhosas, quem está em baixo ou mais triste e vai ver redes sociais, onde só há coisas fantásticas, sente-se ainda mais triste e isso depois tem consequências”.
A autora chama ainda a atenção para as “pessoas que se mostram sempre felizes” e que não pode ser natural, “vivem em representação”, mas destaca que sentir-se alegre, serem pessoas encantadas com a vida significa que vivem “um estado de espírito que permite encarar a realidade com inspiração criativa”.
O outro autor do livro, padre Aires Gameiro, refere que fantasiou nos seus contos temas atuais e que se referem à pandemia.
“Fala-se pouco do futuro e tentei fantasiar o pós pandemia, esse tempo que trouxe tantas interrogações, e ninguém sabe como vai acabar; a pandemia é um desmancha prazeres, em que numa época de tanto progresso apareceu isto e pôs tudo em causa”, disse à Agência ECCLESIA.
O irmão de São João de Deus considera este tempo como “humilhante” referindo os “funerais feitos à pressa, escondidos, e com medo” que faz “pensar no limite humano que é muito grande”.
“A humanidade continua a não querer ler os sinais dos tempos para fazer partilha e bem comum, esperava-se mais alteração dos comportamentos do que se está a observar”, alerta.
A publicação “Voar na Fantasia”, das edições Salesianas, foi lançado recentemente e trata-se de um livro com pequenos contos que remetem para assuntos relacionados com o tempo de pandemia, da autoria de Margarida Cordo e Aires Gameiro.
As conversas com os autores são o mote para os programas de rádio ECCLESIA desta semana, de segunda a sexta-feira, pelas 22h45, na Antena 1 da rádio pública, ficando depois disponíveis online.
SN