Publicações: Padre Tolentino Mendonça propõe Fé que responda às questões da existência

«Elogio da sede» recolhe 10 reflexões apresentadas ao Papa Francisco

Lisboa, 26 abr 2018 (Ecclesia) – O padre e poeta português José Tolentino Mendonça apresentou hoje em Lisboa o seu novo livro, ‘Elogio da Sede’, propondo uma Fé capaz de “partir do real mais próximo”, o de cada pessoa.

“Hoje, estamos confrontados com a necessidade de criar uma espiritualidade que parta disto que somos: se o teu ponto de partida é a ferida, vamos falar da ferida”, assinalou o autor, ao falar sobre a obra que recolhe as 10 reflexões que preparou para o Papa, no seu retiro de Quaresma deste ano.

A obra, editada pela Quetzal, esteve no centro de uma conversa entre Tolentino Mendonça e Anabela Mota Ribeiro, no auditório Cardeal Medeiros, da Universidade Católica Portuguesa (UCP).

O autor defendeu a urgência de traduzir “existencialmente” a Fé, sem recorrer exclusivamente a categorias ou termos “abstratos”, sem “corpo” nem “peso”, que “não tocam realmente a existência nem contam com ela”.

Desafiado a comentar o quadro ‘Melancolia’, de Edvard Munch (1863-1944), o padre Tolentino Mendonça falou do retiro como “um tempo de fronteira”.

“As viagens imóveis que fazemos, muitas vezes, são as peregrinações maiores, as mais decisivas”, declarou.

O sacerdote assinalou a importância de “reentrar numa unidade interior” para evitar a tentação de “baixar os braços” e “aceitar uma vida a 70%, a 40%, a 30%, cada vez menos”.

“Este texto é um manifesto sobre e contra a acédia”, acrescentou.

O diálogo começou com uma citação sobre a “sede de liberdade”, da escritora brasileira Clarice Lispector, uma “sede estranha e profunda”.

Segundo Tolentino Mendonça, o recurso à Literatura traz o “fluxo da realidade” ao discurso espiritual e teológico.

O padre e poeta citou, entre outros, autores como Emily Dickinson, Fernando Pessoa, Clarice Lispector, Antoine de Saint-Exupéry ou o italiano Tonino Guerra.

“Para mim a poesia é, sobretudo, atenção e hospitalidade”, declarou Tolentino Mendonça.

A apresentação do livro começou com uma intervenção do provincial da Companhia de Jesus em Portugal, José Frazão Correia, que falou numa reflexão “desinstaladora”, uma obra para “rezar, pensar”, um “livro de sabedoria” que pode dar “muito que fazer” a quem o lê.

O religioso deixou o convite à interrogação sobre a forma como a sociedade “cuida espiritualmente dos seus”.

O livro usa como prefácio o agradecimento que o Papa dirigiu ao padre Tolentino Mendonça no final do retiro, que decorreu entre 18 e 23 de fevereiro em Ariccia, localidade nos arredores de Roma.

Francisco agradeceu ao padre português pelas suas meditações sobre uma Igreja “para todos” e elogiou, em particular, as advertências de Tolentino Mendonça contra o “mundanismo burocrático” na Igreja.

O Papa sublinhou as várias citações de autores não-crentes e de outras confissões religiosas, mostrando que o Espírito de Deus “é para todos”.

José Tolentino Mendonça nasceu em Machico (Arquipélago da Madeira) em 1965 e foi ordenado padre em 1990; é doutorado em Teologia Bíblica.

Biblista, investigador, poeta e ensaísta, Tolentino Mendonça foi condecorado com o grau de Comendador da Ordem de Sant’lago da Espada por Aníbal Cavaco Silva, presidente da República, em 2015.

OC

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Agência ECCLESIA

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