Proteção de Menores: «Não pode haver vítimas, agressores e silenciadores» – D. Nuno Almeida

Bispo eleito de Bragança-Miranda reconhece que abusos sexuais «não são questão periférica» na pastoral e que Igreja tem responsabilidade na reparação de vítimas e agressores

Foto: Agência ECCLESIA/PRLisboa, 23 jun 2023 (Ecclesia) – D. Nuno Almeida, bispo eleito de Bragança-Miranda, considera que na Igreja não pode haver “agressores e silenciadores” de abusos sexuais, na Igreja, apontando a responsabilidade que a instituição tem para “fazer tudo o que humana, moral e eticamente” deve ser feito.

“É claro que não pode haver vítimas na Igreja, nem na sociedade; não pode haver agressores e não pode haver silenciadores. Isto é claro. A mim faz-me tremer, se nós não estamos vigilantes e não nos ajudamos mutuamente, se não criamos a cultura de colaboração e cooperação, se não abrimos canais, mesmo com as autoridades civis, porque diante de indícios ou até de alguma denúncia, só quem legalmente pode fazer uma investigação deve fazê-lo. Tem de haver uma relação e confiança, mas que seja clara e em tempo útil. Não se adie”, sublinha, em entrevista à Agência ECCLESIA.

Questionado sobre o modo a forma de reparação das vítimas de abuso sexual na Igreja, o responsável católico diz ser fundamental “a justiça”.

“O mais possível. Tudo o que humanamente, também em termos éticos e morais e jurídicos, devemos fazê-lo. Nunca é possível reparar totalmente mas é necessário compreender caso a caso, e ir até onde é possível, ou até anteciparmos, porque há situações que não podem ficar à espera que decorra um processo na justiça – há situações de ajuda material ou até médica que tem de ser imediata”, acrescenta.

D. Nuno Almeida afirma que os abusos sexuais na Igreja Católica não são uma questão “periférica”, mas antes, estão “centro da missão”, uma vez que não se pode “fazer o anúncio do amor de Deus se as comunidades não são sãs e se as pessoas não se sentem seguras”.

O responsável afirma ser responsabilidade da Igreja cuidar das vítimas, mas também dos “eventuais agressores”: “Sem isso fica algo que se vai perpetuar”.

Antigo responsável pela Comissão de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis (CPMAV), em Braga, o entrevistado explica ter sentido necessidade, em nome da equipa que coordenava, “que estava preocupada com o modo como a comunicação, a partir da conferência de imprensa, tinha acontecido naqueles dias”, de esclarecer as orientações que a Igreja é obrigada a seguir, a partir da publicação do «vade-mécum», pelo Papa Francisco.

“A exposição pública surgiu na circunstância em que havia ali alguma confusão com termos canónicos que, para as pessoas em geral, não são muito importantes. O essencial era passar a mensagem de que nós cumpriríamos os passos que estavam previstos no «vade-mécum»”, sublinha.

O responsável encontra nas orientações da Santa Sé “todas as etapas a percorrer, sem possibilidade de erro”, para que as denúncias e os eventuais abusos sejam investigados e punidos.

Em termos de normas, doutrina e até de discurso, as coisas estão claras. A dificuldade é quando é necessário agir numa situação concreta. Tive essa experiência na CPMAV, em Braga, e esses momentos implicam um trabalho em conjunto com as pessoas devidamente preparadas nas diferentes áreas nas ciências sociais e humanas, nas questões jurídicas. Tem de ser um trabalho em equipa, mas é necessário agir”.

D. Nuno Almeida reconhece “diversidade de pontos de vista e ritmos de cada bispo” dentro da Conferência Episcopal Portuguesa mas, sublinha o “consenso” no que “era essencial, de atuação”.

O responsável saúda ainda o trabalho que a Igreja está a realizar neste âmbito e fala na necessidade de olhar para o funcionamento da “vida pastoral”: “catequese, escuteiros, liturgia” e “acompanhamento dos padres”.

Foi aprovada a ‘Ratio’, onde foi acrescentado um capítulo para a formação inicial dos sacerdotes e para a formação permanente. Estão ali as linhas necessárias a implementar. Cada bispo, na sua diocese, tem a obrigação de perceber até que ponto o que está definido está a acontecer, precisamente para nos dedicarmos ao que é essencial e fundamental que é o anúncio do amor de Deus, do Evangelho”, aponta..

D. Nuno Almeida assume a “dor” que enfrentar “este drama e realidade” provoca, mas considera que essa resistência não pode conduzir ao escondimento ou ao não “enfrentar realidades difíceis”.

Sobre a realização de um “gesto público” durante a JMJ Lisboa 2023, o bispo eleito de Bragança-Miranda afirma que deverá ser pensado com “equilíbrio, atenção e cuidado”, entendendo que o mesmo pode ser importante, ao ajudar para que “mais pessoas” denunciem e se caminhe para um “reencontro interior”.

A entrevista ao novo bispo de Bragança-Miranda vai ser emitida este domingo, pelas 07h30, no Programa ’70×7′ (RTP2) e está também em destaque na emissão do Programa ECCLESIA, pelas 06h00, na Antena 1 da rádio pública.

LS

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