«Realidade é muito mais sombria e dolorosa do eu que pensava» – D. Manuel Linda
Porto, 25 out 2022 (Ecclesia) – O bispo do Porto publicou hoje uma nota episcopal, com pedidos de “perdão” às vítimas de abusos sexuais e rejeitando a intenção de menorizar este “terrível crime”, nas suas intervenções.
“Temos amarguradamente de reconhecer que a realidade é muito mais sombria e dolorosa do eu que pensava. Fique muito claro que sofro e deploro liminarmente esse flagelo dos crimes de natureza sexual cometidos contra menores ou pessoas vulneráveis. E que tudo farei para lhes pôr cobro”, escreve D. Manuel Linda, no documento divulgado online e enviado à Agência ECCLESIA.
O responsável católico refere que as “várias notícias e comentários” que envolveram as suas declarações, nas últimas semanas, o levaram a “um período de silêncio, reflexão e discernimento”.
A nota assinala, no seu primeiro ponto, a respostada dada pelo bispo do Porto a jornalistas, quando questionado sobre “a obrigatoriedade ou não de denúncia dos casos de abuso sexual de menores”, deixando dúvidas quanto à noção de “crime público”.
Assumo que não fui feliz na expressão e que, porventura, tornei incompreensível o meu próprio pensamento. E disso peço desculpa a todos e perdão às vítimas que, possivelmente, se sentiram feridas”.
O texto recorda ainda a polémica relacionada com a expressão “queda de um meteorito”, a respeito da criação de Comissões Diocesanas para a receção de denúncias de abusos, há quatro anos.
“Algo ingenuamente, estava convencido que as estruturas existentes na Diocese e eu próprio seríamos suficientes para receber e tratar os casos que viessem a surgir”, assumiu D. Manuel Linda, recordando que, quando essas Comissões se tornaram obrigatórias, a da Diocese do Porto foi uma das primeiras em Portugal.
O bispo desafia a comunidade católica a “agir e ajudar as Comissões”, a Diocesana e a Independente, no seu trabalho de “investigar, acolher e prevenir”.
“Enquanto comunidade de fé, vivemos tempos sombrios e sentimo-nos ‘em choque’ pela dor causada a tantas vítimas inocentes, pelos delitos que foram cometidos e, também, pela falha da Igreja em proteger e acolher os mais frágeis que nos foram confiados”, acrescenta.
Este é o tempo propício para assumirmos todos, clérigos e leigos, a responsabilidade de erradicar dos nossos ambientes eclesiais e de toda a sociedade qualquer tipo de abuso, defendendo intransigentemente os mais frágeis, acautelando preventivamente qualquer situação de risco e denunciando os crimes para que se faça justiça”.
D. Manuel Linda quis afastar “qualquer dúvida” sobre o compromisso da diocese nesta matéria.
“A ‘tolerância zero’ que o Papa Francisco declarou para toda a Igreja é a que desejo igualmente na nossa Diocese. É tempo para escutar as vítimas, sofrer com elas e prestar-lhes todo o apoio”, escreve.
A nota convida à participação no programa formativo sobre o tema “Comunidades seguras e sãs”, agendado para dezembro, que visa “sensibilizar para a temática da proteção e cuidado das crianças, jovens e adultos vulneráveis”.
“Serão produzidos materiais didáticos a serem distribuídos pelas comunidades e a todas as pessoas que lidam com crianças, jovens e adultos vulneráveis. Sejamos muito ativos neste compromisso em ‘cuidar’ melhor! E não percamos a esperança”, conclui o bispo do Porto.
OC