Prosseguir a renovação

Nota Pastoral de D. Jorge Ortiga sobre o Ano Vocacional Nestes últimos anos temos concentrado as nossas energias num conhecimento aprofundado da vida e problemática juvenil para proporcionar aos jovens um itinerário de formação cristã. Desde o início, aceitamos como essencial e indispensável, a integração da experiência cristã na linha dum chamamento amoroso de Deus ao qual se deveria corresponder com uma adesão expressa em comportamentos quotidianos e através dum estado de vida interpretado como vocação. Se toda a pastoral tem esta indicação, o fenómeno juvenil necessita desta consciencialização. Conseguimos dar aos jovens esta dimensão vocacional da vida cristã? Agora, o discurso tem de ser alargado. Todo e qualquer cristão necessita de experimentar o chamamento e viver numa atitude de resposta. Quero, para isso, tornar o Ano Pastoral 2004-2005 um Ano Vocacional. Com este Ano, não pretendo delinear um conjunto de iniciativas pastorais aglutinadoras das vontades e dos talentos dos cristãos e das comunidades. Seria uma programação interessante mas que teria um início e um término. Não é esta a nossa intenção. Um “Ano Vocacional” quer significar um compromisso a marcar o dinamismo da pastoral diocesana para sempre. Não me move, somente, o número reduzido de vocações de especial consagração. Quero entrar no âmago da vida da comunidade e alertar para uma constante que determina a qualidade da nossa pastoral. O “Ano Vocacional” é, deste modo, um acentuar o dinamismo interno da vida eclesial. Damos-lhe uma atenção particular durante um ano e esperamos que o mesmo dinamismo perdura em atitudes e opções. Daí que o Ano Vocacional não pode terminar. Posteriormente iremos concentrar-nos na Pastoral Familiar. Também aí a vocação é a coordenada essencial. Esta Carta pastoral – e recordo que não é muito frequente recorrer a este meio – pretende ser muito concreta (e pouco doutrinal). A reflexão deve ser procurada noutros subsídios, entre os quais recordo as Bases para a Pastoral Vocacional da Conferência Episcopal Portuguesa e muitos outros que o Secretariado irá elaborando. Com estas iniciativas não pretendemos ser completos. Os Serviços Centrais sugerem e os Conselhos Pastorais Paroquiais individualizam outras actividades que testemunhem esta opção Diocesana. 1.Coordenadas para todo o projecto Perante o desafio de, em comunidade diocesana, celebrarmos um ano dedicado à “pastoral vocacional”, precisamos de ter sempre em conta duas dimensões: oração e acção. Se é verdade que o Senhor, no Evangelho, dá como solução para o problema da messe com poucos trabalhadores, a súplica, a oração, para que envie operários(Cf Lc 10,2), não é menos verdade que a nossa acção, concretizada de muitos modos e partindo sempre do testemunho de vida, é contributo indispensável para a pastoral vocacional. Por isso urge que toda a comunidade diocesana, nos seus diversos sectores – movimentos, comunidades paroquiais e religiosas, nas famílias, como igrejas domésticas e em todos os seus membros, começando pelos pastores, pelos sacerdotes encarregados de paróquias ou de outros sectores da vida da Diocese – se empenhe seriamente, com zelo e dedicação, com audácia e fortaleza, com criatividade e fidelidade, numa dinâmica vocacional que não deixe de lado nenhum aspecto nem nenhuma iniciativa possível. Ninguém pode deixar passar esta oportunidade diocesana, de levar por diante este grande projecto dum “ano vocacional”. Daí que, mais e melhor qualidade de oração em ordem à pastoral vocacional, mais e melhor qualidade de acção pastoral que faça colaborar com o projecto de Deus, que continua a chamar muitos e muitas para o serviço da Sua Igreja e da Humanidade, quer no sacerdócio, quer na vida consagrada, quer na vida missionária. A vocação é dom e mistério que implica sempre o envio, a missão. Deus chama para enviar aos outros. A Igreja e o mundo, precisam de vocações, precisam de enviados do Ressuscitado para testemunharem o amor do Pai e fazer chegar a todos a graça da redenção. O mundo hodierno, cheio de problemas e de crise de valores, às vezes tão longe de Deus e das exigências libertadoras do Evangelho, precisa de mais enviados do Senhor, de homens e mulheres em missão apostólica. 2.A Igreja é “vocação” Antes de mais, partamos dum elemento fundamental da eclesiologia. A Igreja, como Povo de Deus, como Esposa de Cristo, é uma Igreja “vocacionada”, ou seja, chamada por Deus e enviada ao mundo com a missão de evangelizar, santificar, apascentar. Igreja enviada, que nasceu na manhã de Páscoa quando Jesus afirmou ao Apóstolos: “Como o Pai Me enviou também Eu vos envio a vós”(Jo 20,22). Igreja que no dia da Ascensão ouve as palavras de Cristo: “Ide, pois, e ensinai todas as nações, baptizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt 26,19). Jesus enviado pelo Pai, envia a Sua Igreja e, nela, a cada um de nós, pois há urgência do anúncio, dos sacramentos, do pastoreio do rebanho do Senhor. É na “vocação” da Igreja que se insere a vocação de cada baptizado, não só a vocação à santidade, mas a sua vocação particular e específica. É na “vocação” da Igreja que têm sentido todas as outras vocações: sacerdotal, vida consagrada, institutos seculares, missionária, contemplativa, matrimonial, laical, etc. Cada vocação particular enriquece a Igreja e ajuda-a a cumprir o mandato de Cristo. Nascemos na Igreja e somos para a Igreja, e nela, para o Pai, através de Cristo, pela acção do Espírito Santo. 3. A Pastoral é vocacional e necessita de momentos específicos Queremos que neste ano se faça sentir, dum modo mais claro e mais fecundo, que toda a Pastoral é vocacional, e só se compreende à luz desta dimensão. Devemos, por isso, insuflar de espírito vocacional todo o trabalho pastoral seja ele qual for. Por outro lado esta preocupação tem de ser de toda a Igreja diocesana, de todos os agentes de pastoral, de todos os movimentos, de todas as vocações. Nesta Pastoral vocacional, ouvindo o Espírito, saberemos descobrir os meios e os modos explícitos de chamamento. Enumeremos algumas ocasiões: 3.1. Pastoral profética O anúncio da Palavra, nas suas variadas formas e particularmente na catequese e preparação específica para a Confirmação, deve aproveitar todas as oportunidades para consciencializar do apelo de Cristo e sublinhar a alegria e felicidade da resposta positiva. Propostas explícitas: • aproveitamento das homilias sempre que os textos o proporcionarem; • celebrações da Palavra com leitura de textos bíblicos vocacionais; • “lectio divina”, com textos vocacionais, no início das reuniões; • encontros de reflexão e partilha da Palavra com textos vocacionais; • descoberta, em oração e em partilha, das grandes vocações na Bíblia; • anúncio, explícito e estimulante, das diversas vocações e carismas que todos devem conhecer; 3.2. Pastoral litúrgica No seu múnus de santificar, a Igreja, através dos sacramentos e da oração, tem um campo imenso para lançar e renovar a pastoral vocacional. Há momentos que devem ser aproveitados e ministérios que devem ser exercidos, em corresponsabilidade e alegria de servir. A liturgia não é um mero cerimonial ou sentimentalismo vago. Uma liturgia sóbria, verdadeira, espontânea, ligada à vida, não banalizada, pode tornar-se uma escola de vida cristã e uma autêntica iniciação à missão na Igreja. Propostas explícitas: • Horas Santas vocacionais, aproveitando os tempos litúrgicos; • Intenções vocacionais na “oração universal”, pelo menos aos domingos; • Celebração, nas Quintas-feiras, de Missa votiva pelas vocações; • Meses de Maio e Junho vocacionais, com Maria e o Coração de Jesus; • Novena da Imaculada Conceição; • Vivência do Crisma como graça a suscitar uma decisão para a vida; • Vivência do Advento e da Quaresma com dimensão vocacional; • Ter o tema vocacional presente nos tríduos, novenas e peregrinações; • Incrementar os acólitos e organizar encontros de zona e de diocese; 3.3. Pastoral sócio caritativa A solicitude pastoral de quem pretende responder às carências e problemas da comunidade pode suscitar a consciência de todos para responder. A salvação de Cristo tem repercussões variadas e a vivência da caridade conduz à entrega incondicional da vida. Propostas explícitas: • um voluntariado dinâmico junto dos mais pobres e doentes; • multiplicar as acções que conduzam ao serviço dos outros; • visita a hospitais, cadeias, etc, sensibilizando para este sector vocacional; • inserção dos jovens em espaços de serviço social; • desenvolver com os jovens o acompanhamento dos mais pobres; 4.Paróquia, comunidade vocacional Desde os primórdios da Igreja, a paróquia tornou-se o local onde as vocações crescem, amadurecem e ganham consistência. O Concilio Vaticano II veio reforçar esta ideia ao afirmar que “o dever de fomentar as vocações pertence a toda a comunidade cristã”(O.T. 2). A paróquia deve tornar-se local de recrutamento mas também espaço de formação. Aí o pároco e as famílias são a primeira escola para a formação dos futuros sacerdotes(P.O.11) e das outras vocações. A acção da comunidade cristã paroquial reveste-se dum significado especial. Aí os jovens inserem-se numa comunidade de baptizados que transmite a fé e educa para a caridade. Esta inserção permite-lhe a compreensão e o encontro com a variedade e complementaridade das vocações facilitando, num clima de liberdade, a possibilidade de aprofundar a sua própria vocação. “A paróquia é o lugar por excelência onde é proclamado o anúncio do evangelho da vocação e de todas as vocações de maneira a considerá-la como comunidade vocacional, ministerial e missionária”. Não desconsiderando a importância doutros ambientes vocacionais, a paróquia tem o dever e a obrigação de se tornar o primeiro instrumento de animação vocacional na sua globalidade e em todas as suas articulações pastorais. A acção para permitir que os diversos carismas e ministérios apareçam, nunca pode ser interpretada como mais um elemento ao lado do conjunto da pastoral orgânica. Ela é a expressão e sinal da vitalidade eclesial. Não basta, por isso, inserir de vez em quando na pastoral ordinária algum momento específico de sensibilização vocacional. Estas actividades explícitas são importantes mas não suficientes. Aí todos devem viver de modo habitual e permanente a sua vocação e colocar-se em atitude de resposta a uma especifica. A paróquia educa os seus membros mais por aquilo que ela é do que aquilo que faz. Nesta pastoral vocacional englobante há pormenores que denotam a solicitude vocacional da comunidade. 4.1. Testemunho e acção dos consagrados O testemunho e imagem que os párocos – sacerdotes, religiosos e religiosas aí residentes ou a trabalhar – manifestam são determinantes para o emergir das vocações. Onde o interesse de acompanhar a vida com sinais, porventura de reduzida dimensão, se apresenta com naturalidade, os jovens encontram o ambiente para iniciar um discernimento. Só a simplicidade de – nas palavras e atitudes – apresentar um estilo de seguimento de Cristo na radicalidade do Evangelho, consegue motivar e ultrapassar medos e resistências. 4.2. Família e Pastoral Familiar A Família que vive e se empenha num itinerário de vocação cristã é o ambiente favorável para que a perspectiva dum serviço total à Igreja possa nascer e crescer dum modo sério e correcto. A educação que se proporciona aos filhos e as orientações de sentido de vida que se sugerem não deixam instaladas as crianças, os adolescentes e os jovens. Vendo a alegria de dar numa entrega incondicional é de esperar que o chamamento de Deus a “dar-se” aconteça para a alegria de todo o agregado familiar. A família, como “igreja doméstica”, é lugar privilegiado para se falar da vocação, para se rezar pelas vocações, para ajudar a crescer o gérmen vocacional que o Senhor deposita no coração dos jovens. Daí a necessidade de todas as famílias cristãs, ajudadas pelos diversos movimentos que integram o sector da Pastoral familiar, reflectirem sobre o problema das vocações e tomarem a peito, com entusiasmo, o projecto vocacional que a Diocese tem para este ano. Que não faltem nas famílias espaço e tempo para se falar das diversas vocações de consagração, que não falte oração em comum pelas vocações, que não falte a participação activa na paróquia ou noutros sectores. Que nenhuma se sinta dispensada, que nenhuma pense que o problema vocacional não lhe diz respeito, que nenhuma julgue que não tem nenhum contributo a dar. As famílias cristãs da nossa Diocese são uma grande esperança para alcançarmos alguns frutos neste “ano vocacional”. A Pastoral familiar deve ajudar as famílias a possuir esta capacidade de propor e acompanhar. Há subsídios educativos, e compete, ao Departamento da Pastoral Familiar esta responsabilidade de os fornecer para despertar e acompanhar os germens da vocação como o fruto e a acção mais bela da sua actividade. 4.3. A Catequese Paroquial A catequese, em todo o itinerário, deve conduzir a esta experiência de Igreja como comunidade de chamados numa atitude mistagógica de quem experimenta o mistério de Deus como amor que se revela. A caminhada catequética, ligada à liturgia, é um dos meios mais eficazes para fazer nascer um amor sincero pelas coisas de Deus. São muitos e variados os momentos onde este convite pode ser oferecido. Os sacramentos da Eucaristia e da Confirmação, quando compreendidos na sua vivência, oferecem todas as condições para lançar a semente. A história da Salvação, alicerce do itinerário catequético, não é só para ser conhecido. O “vem e segue-me” para dar felicidade ao mundo tem de ecoar permanentemente. 4.4. Pastoral Juvenil Ninguém duvida que uma cuidadosa pastoral vocacional deve ter sempre em conta uma pastoral juvenil dinâmica, integrada na Igreja, alimentada pela Palavra, ajudando os adolescentes e os jovens, a descobrirem Jesus Cristo, e a apaixonarem-se por Ele. Só com uma vida de fé e de oração, com uma prática sacramental séria e frequente, é que a pastoral juvenil poderá desabrochar em pastoral vocacional. Daí que exortamos a todos os que trabalham na pastoral juvenil que continuem a dar do seu melhor, para ajudem a descobrir a vocação como dom e chamamento, e estimular todos a saberem dar uma resposta fiel ao apelo do Senhor. Que se inventem, na criatividade do Espírito Santo, meios concretos para permitir que todos, os que são atingidos pela pastoral juvenil, a conheçam mais e melhor a voz do Senhor que chama e que seduz. 5.Pastoral Universitária Pelo número crescente dos estudantes universitários da Diocese e tendo presente a sua idade e a maturidade, aí a Pastoral Universitária parece um sector privilegiado para dinamizar o nosso Ano Vocacional. Na colaboração diversa dos agentes que trabalham neste sector, não deixando também de ajudar os jovens universitários a serem apóstolos junto dos seus companheiros, não se deixem de organizar diversidade de encontros e actividades, de celebrações e de “recordação” na Eucaristia dominical da Pastoral Universitária. Que se fomentem encontros, de pequenos grupos, de reflexão bíblico-vocacional, retiros, etc. E não se deixe de estar atento a todas as sugestões que acima foram indicadas nos sectores da pastoral profética, litúrgica, e sócio caritativa. Entre os universitários, ao contrário do que alguns possam pensar, há gente muita generosa e dedicada, bem capaz de saber optar por Cristo e pelo serviço da Igreja a templo pleno e numa vida de consagração. Que não deixe de chegar junto deles o nosso projecto vocacional que será um dos meios de que o Senhor se poderá servir para chamar mais trabalhadores para a sua messe. 6.Os Movimentos e as Vocações A história da Igreja testemunha fenómenos variados como respostas concretas às solicitações do povo que era necessário salvar. Ninguém ignora que a grande novidade do século XX foi os Movimentos a começar pela Acção Católica. Ainda hoje notamos e reconhecemos aqueles e aquelas que exercem uma influência positiva na sociedade. Duma maneira ou doutra na sua história pessoal está uma passagem ou militância em algum movimento. Hoje, olhar a vida interna da Igreja pode dizer-nos que os Movimentos e grupos, com os seus carismas especiais, testemunham um verdadeiro “Pentecostes do Espírito Santo”. É aí que muitos cristãos fazem a “sua” experiência de Igreja, efectuam a sua formação cristã e experimentam o compromisso que lhe é solicitado. Daí que todos os Movimentos, qualquer que sejam os seus carismas, especificidade ou campo de acção, devem preocupar-se com a dimensão vocacional na sua oração e nas sua acções concretas. É ao nível dos Movimentos e dos grupos espalhados pela diocese que se pode e deve ter uma catequese vocacional e uma acção pastoral vocacional, intensa e cuidada. Quero sugerir e propor que sejam apresentadas as diversas vocações de especial consagração e que se efectuem experiências de contacto com os diversos carismas. Urge conhecer e amar os Seminários e, com estes, todos os outros Centros de Formação. 7.Seminários e Noviciados As Casas de formação de Seminaristas e Noviços das diversas Congregações podem ser um “rosto” de dinamismo vocacional, pois a vida dos jovens e das jovens que preparam a sua consagração pode ser motivadora para outros jovens. Daí que essas Casas de formação se devem dar a conhecer, devem, com a prudência e segundo o regulamento da sua própria vida “comunitária” determina, abrir-se para que outros possam entrar, ver, partilhar oração e vida. Só se ama e deseja com sinceridade aquilo que se conhece. Daí a necessidade imperiosa das Casas de Formação se darem a conhecer, abrirem suas portas, partilharem sua vida. Não menos importante será a passagem dos jovens Seminaristas e Noviços por grupos de jovens, por paróquias, onde possam dar a conhecer a sua vocação e carisma, o seu dinamismo vocacional, a história da sua vocação, etc. A partilha da riqueza das suas vidas e das suas vocações será luz a iluminar o caminho de muitos outros jovens. Procure-se, portanto, ao longo deste ano vocacional, que se faça uma e outra destas duas experiências, na certeza que quer os Seminaristas e Noviços, quer os jovens que visitarem as Casas de formação ou que forem visitados nos seus grupos e paróquias, ficaram muito enriquecidos. Desafio os Seminários e os Noviciados a que apareçam com maior visibilidade e promovam iniciativas que mostram a sua vitalidade. Os Seminários e os Noviciados, sem enveredar pela pastoral do rumor, podem e devem chegar à sociedade através de iniciativas ousadas e de cariz diversificado. Não haverá medo de percorrer os caminhos da humanidade: são necessários sinais – choque que incomodem e façam levantar interrogações. Estas casas não são meras residências. Aí vivem jovens que testemunham e manifestam muita alegria e realização pessoal. Neste ambiente de Formação não posso ignorar o papel importante da Universidade Católica que ensina disciplinas variadas em cursos diferentes mas que só corresponderá à sua missão se for uma ajuda efectiva a quem está em discernimento e se tornar uma instância de apelo a quem a frequenta. Com cristãos adultos, as vocações nascem. 8.A Escola e a pastoral vocacional A escola é definida como “lugar de formação integral da pessoa através da assimilação sistemática e crítica da cultura”. Deste modo, as suas características fundamentais e primárias são o quadro doutrinal capaz de guiar o estudante a uma acção crítica perante os problemas e os compromissos que a vida lhe irá oferecer. Podemos referir que todas as actividades culturais e didácticas da escola estão dotadas duma incidência vocacional em sentido lato. Mas se quisermos que as escolhas vocacionais sejam preparadas e motivadas, o ensinamento da Educação Moral e Religião Católica deve tornar-se um instrumento para dar ao estudante uma visão teológica da vida e do mundo e ajudá-lo a escolher em conformidade com a Palavra de Deus. Estas aulas não atingem a sua finalidade e razão de ser se não conseguem transmitir um conjunto de conteúdos teológicos que devem tornar-se convicções pessoais: Deus é criador e Pai; Deus quer salvar-nos; Deus tem um plano sobre cada um; Deus chama-nos como povo e como pessoas; guia-nos e ajuda-nos por meio de Jesus, Mestre e Salvador, chama-nos para a Igreja e na Igreja: quer-nos colaboradores em formas diversas e complementares; todos são chamados mas existem vocações de especial consagração que convidam o chamado a uma total dedicação a Deus e à salvação dos outros; é necessário conhecer este chamamento e interrogar-se sobre o apelo pessoal que Deus me dirige; devo empenhar-me em conhecer e utilizar os instrumentos que Deus na sua Igreja me oferece para realizar a minha vocação pessoal… estes e outros elementos tornam a escola intelectual mas não intelectualista pois suscitam uma adesão e uma escolha. Papel primordial desempenha o professor em qualquer área mas particularmente no ensino da Religião Católica. Ele deve ser um anunciador-testemunho que alia os dotes de clareza e de capacidade de diálogo à arte de persuadir. As ideias devem ser acompanhadas pela experiência concreta que manifesta que a vocação pessoal se descobre na leitura, na meditação, na oração. Tudo como diálogo entre Deus e a pessoa, um Deus que chama e uma pessoa convidada a responder. Aqui o professor terá de assumir-se como orientador vocacional. Não é fácil e terá de possuir convicção, preparação e zelo que o conduz a colóquios pessoais e efectivos com os alunos onde observa qualquer sinal de vocação. Só com um diálogo capaz de esclarecer dúvidas se vencem as possíveis hostilidades dos colegas. Para além deste acompanhamento personalizado são necessários retiros de espiritualidade e formação como momentos fortes que facilitarão uma integração em grupos vocacionais ou no Pré-Seminário. É chegado o momento de responsabilizar os professores católicos desde o primeiro ciclo e reconhecer que a Igreja Diocesana espera muito mais dos Professores de Educação Moral e Religião Católica. Empenhar-se nas vocações não é facultativo. Situa-se no cerne duma actividade e presença da Igreja na Escola. Uma palavra de apelo e de maior compromisso vocacional para com as Escolas Católicas. O Papa referia que “o Evangelho é a alma da Escola Católica, a norma da sua vida e da sua doutrina”(28.06.84). É a Boa Nova do anúncio duma proposta de adesão a Cristo e ao Seu projecto salvador que tem de comprometer, ainda mais, os professores que trabalham nesta missão que a Igreja lhes confia. Importa o profissionalismo mas importa aliar à qualidade a originalidade duma vida de compromisso na Igreja para bem da humanidade. 9.Estruturas de apoio Numa comum responsabilidade de todos os cristãos e das respectivas comunidades, torna-se necessário reconhecer a importância do apoio de estruturas nacionais. Recentemente foi constituído o Serviço Nacional das Vocações. Em articulação com este, queremos que o nosso Departamento da Pastoral Vocacional se estruture e disponha de todos os meios – pessoais e económicos – capazes de colocar a Arquidiocese em ambiente de permanente chamamento vocacional. O ano pastoral 2004-2005 será um momento especial para agir vocacionalmente dum modo mais intenso, mas terá de tornar-se um espaço de revisão para reconhecer carências e delinear prioridades em termos de apoio. Importa, porém, que ninguém espere que seja o Departamento a fazer tudo substituindo a responsabilidade pessoal de pessoas e instituições. Os Departamentos fornecem elementos para um dinamismo. Os intérpretes estão em todos os sectores referenciados anteriormente. Espero a hora que, em cada arciprestado, um sacerdote se dedique como delegado para este sector agregando a si uma Equipa Arciprestal constituída por pessoas a quem se confia o encargo de articular as Equipas Paroquiais ou Delegados Paroquiais ao Conselho Pastoral. A articulação da Equipa Arciprestal com todas as paróquias, levará a efectuar acções comuns a nível de zona, arciprestado ou inter-arciprestado. Os Conselhos Pastorais Paroquiais devem aceitar a dinâmica vocacional como algo a integrar em todas as actividades. Não basta o interesse esporádico ou ocasional. É necessário um empenho permanente que pode encontrar maior visibilidade em momentos especiais como são as festas, os lausperenes, as peregrinações, etc. 10.Acções comuns a ter em conta Há algumas acções que, de algum modo, atingem toda a Igreja diocesana, mas precisavam, neste “ano vocacional”, de serem mais vividos e dinamizados. – A Semana dos Seminários (1.º Trimestre- -Novembro de 2004) – O Dia do Consagrado (2.º Trimestre-Fevereiro de 2005) – Semana de Orações pelas Vocações (3.º Trimestre-Abril de 2005) – Participação nas Ordenações e nos Votos dos consagrados – Missas Novas preparadas com empenho para serem interpelação – Retiros Vocacionais, em silêncio e com oração, para discernimento vocacional. – Retomar a instituição das “madrinhas” que se oferecem para rezar por Seminaristas e Noviços. – Esmerada orientação espiritual dos jovens para ajudar a detectar e a fazer crescer os gérmens vocacionais. – Aproveitamento das aulas de Religião e Moral para fazer passar a dimensão vocacional e o conhecimento que isso implica. – Particular atenção às grandes peregrinações diocesanas ou arciprestais, para que tenham uma componente vocacional. Conclusão: testemunho e optimismo Iniciei esta Nota Pastoral com duas palavras: oração e acção. Queria termina-la com outras duas: testemunho e optimismo. Desejo que o testemunho de pastores e de fiéis, o empenhamento de toda a Comunidade diocesana nas diversas actividades deste “Ano Vocacional”, sejam feitas em clima de são optimismo cristão, de renovada esperança. Deus não abandona o Seu Povo, o Senhor conhece as necessidades humanas e espirituais dos seus filhos, o Senhor é o nosso Bom Pastor. A nós compete-nos rezar, trabalhar e confiar n’Ele e no Seu amor. Ele, como Pai Providente, saberá cuidar de nós e dar-nos as vocações que necessitamos. Ninguém ganha com o pessimismo. Confiamos em Deus e abrimo-nos a novas formas de celebrar e viver a fé. A Igreja necessita de vocações de especial consagração: sacerdotes, religiosos e religiosas, missionários, Institutos Seculares… Importa, porém, situar-se na novidade dos novos tempos e criar as condições para que as nossas comunidades disponham de todos os meios de salvação. Os sacerdotes terão de fazer o que lhes compete e renunciar a muitas coisas que os leigos podem assumir. Os leigos devem preparar-se para viver os carismas e os talentos que Deus lhes confiou na alegria e na generosidade. A uns e a outros é pedido muito trabalho e dedicação. Mais ainda, sem uma mudança de mentalidade, não responderemos às exigências novas dos tempos actuais. Deus nos dará a força para acolher a graça do momento presente e a alegria de continuar a ser colaboradores competentes na edificação do Reino. Não deixemos nunca de recorrer à Virgem Maria, Senhora do Sameiro e Mãe dos consagrados, implorando o seu auxílio e protecção para este Ano Vocacional. Encontremos n’Ela o modelo do “sim” generoso e radical que todos os que são chamados por Deus devem assumir. Iremos, com Ela, preparar-nos para o futuro. D. Jorge Ortiga

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