Prisão: «Não há vida humana sem horizonte» – Papa Francisco a reclusos

Francisco afirmou que os estabelecimentos prisionais são “locais de grande humanidade” e escutou palavras de agradecimento de quem se sente olhado pelo Papa

Verona, 18 mai 2024 (Ecclesia) – O Papa Francisco disse hoje que os estabelecimentos prisionais são “locais de grande humanidade” e assumiu que os reclusos lhe fazem bem.

“Entrar numa penitenciária é sempre um momento importante, porque o presídio é um lugar de grande humanidade. De humanidade provada, às vezes exausta pelas dificuldades, sentimento de culpa, julgamentos, incompreensões e sofrimento, mas ao mesmo tempo repleta de força, de desejo de perdão, de vontade de redenção”, afirmou perante os reclusos da prisão de Montório, em Verona, no norte de Itália.

“Não há vida humana sem horizonte”, acrescentou.

Na sua viagem pastoral, este sábado a Verona, o Papa Francisco quis estar junto dos 592 pessoas naquele estabelecimento, provenientes de várias regiões italianas, mas também de Marrocos, Índia, Paquistão, Polónia, Arménia, Guatemala, Moldávia, Sri Lanka.

“Somos uma parte do mundo inteiro”, afirmou Leonardo, detido com 22 anos, que assegurou a Francisco que nenhum reclusos “jamais” vai esquecer este dia.

“O Papa dedica o tempo mais longo entre as diversos encontros e enche-nos de alegria e emoção. Está a dizer que aos seus olhos a nossa vida é preciosa”, sublinhou.

O jovem, “dos mais jovens na prisão”, lamentou a invisibilidade dos reclusos perante o mundo e partilhou um sonho: “Que entre nós, com todos os detidos e agentes policiais, os que nos acompanham no caminho humano, voluntários, possamos construir aqui as relações que tem o perfume de família, amizade e fraternidade. Esta imagem sua entre nós será vistas por tantos em todo o mundo. Que ajude os outros a ver-nos como pessoas e não apenas como autores de um crime”.

“O senhor é um pedaço de coração”, finalizou o jovem.

O Papa aproveitou a ocasião para pedir a melhoria das condições dentro dos estabelecimentos prisionais, para que a superlotação, na origem de “tensões e dificuldades”, possa ser resolvida.

Francisco lamentou recentes acontecimentos na prisão de Montório, onde “algumas pessoas, num gesto extremos, desistiram de viver”.

“Esse é um ato terrível, ao qual só o desespero e a dor insuportáveis podem causar. Portanto, ao unir-me em oração às famílias e a todos vocês, quero convidá-los a não se entregar ao desânimo, a olharem para a porta da esperança. A vida sempre é digna de ser vivida, e sempre há esperança para o futuro, mesmo quando tudo parece se apagar”, afirmou.

O Papa quis oferecer aos reclusos uma imagem que expressasse uma das três virtudes de Deus e decidiu entregar uma imagem de Maria com o menino ao colo, expressão da “ternura” e porque “a figura de Maria” une todos os reclusos, uma vez que 50% dos reclusos naquele estabelecimento são de fé islâmica, ortodoxos, evangélicos e testemunhas de Jeová.

Francisco convidou cada um dos reclusos a falar com deus sobre a dor que carregam e a ajudarem-se uns aos outros como “companheiros de caminhada e com as pessoas boas que estão ao nosso lado”.

“Não é fraqueza pedir ajuda: façamos isso com humildade e confiança. Todos nós precisamos uns dos outros, e todos temos o direito de ter esperança, além de cada história e de cada erro ou fracasso”, indicou.

O Papa assegurou que ninguém é “material de descarte” e que a existência de cada um é importante para Deus: “Deus, que nunca nos abandona e que, de fato, sabe escutar, se alegrar e chorar connosco, e perdoa sempre. Com Ele ao nosso lado, podemos vencer o desespero e viver cada instante como o tempo oportuno para recomeçar”. 

Aos reclusos, Francisco lembrou ainda que o ano jubilar é uma oportunidade de “conversão, renovação e libertação”, uma oportunidade para “deixar de lado o lastro do passado e renovar o impulso em direção ao futuro”.

“Vamos celebrar a possibilidade de uma mudança, de ser e, quando necessário, de voltar a ser verdadeiramente nós mesmos, dando o melhor. Seja também esse um sinal que nos ajude a nos reerguer e a tomar nas mãos, com confiança, todos os dias, a nossa vida”, finalizou.

No final, o Papa quis dar a bênção, mas optou por fazê-lo em silêncio, permitindo que cada um recebesse a bênção “na modalidade em que acredita”.

Os reclusos entregaram ainda a Francisco uma caixa de pensamentos e cartas escritas por cada um e uma réplica de um mural de uma atividade realizada na prisão de Montório onde cada recluso completou a frase «Eu creio em… ».

O Papa Francisco seguiu para um almoço com os reclusos e de tarde irá presidir a uma celebração eucarística no Estádio Bentegodi, finalizando a visita pastoral a Verona.

LS

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