Primaz anglicano visita o Papa

O Primaz da Comunhão Anglicana e Arcebispo de Cantuária, Rowan Williams, começou ontem sua primeira visita oficial ao Papa Bento XVI, que decorrerá de 22 a 26 de Novembro, naquilo que se interpreta como uma tentativa de reforçar os laços entre anglicanos e católicos. A viagem de Rowan Williams ao Vaticano é particularmente simbólica porque acontece 40 anos após uma reunião histórica entre o seu predecessor como Primaz anglicano, o Arcebispo Michael Ramsey, e o Papa Paulo VI (22-24 de Março de 1966). Um comunicado do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos explica que a visita pretende “exprimir a importância que a Comunhão Anglicana atribui às relações com a Igreja Católica e ao diálogo teológico iniciado com a criação da ‘Anglican-Roman Catholic International Commission’ (ARCIC)”. Esta comissão bilateral foi criada, precisamente, por Paulo VI e Michael Ramsey. O encontro privado entre o Arcebispo da Cantuária e Bento XVI terá lugar amanhã, 23 de Novembro. Após a audiência, os dois irão deslocar-se à capela Redemptoris Mater, do Palácio Apostólica, para a recitação da Hora Média da Liturgia das Horas. Hoje, o Arcebispo Williams e o Cardeal Walter Kasper, responsável pelo Dicastério para o ecumenismo, irão recolher-se em oração na Capela Sixtina, para recordar o encontro de há 40 anos. Durante esta visita, o Primaz anglicano e os representantes da Santa Sé irão debater os desenvolvimentos recentes das relações entre católicos e anglicanos, bem como sobre a programação e os conteúdos do novo ciclo de diálogo do ARCIC, após a publicação do último documento, em Maio de 2005: “Mary: Grace and Hope in Christ”. Em cima da mesa estarão ainda os trabalhos da Comissão Intarnacional Anglicano-Romana para a Unidade e a Missão (IARCCUM), instituída em 2000. Etapas do diálogo A Comissão Internacional Angliano-Católica Romana (ARCIC) foi o grande fruto do encontro de 1966 e, desde então, tem procurado aprofundar as relações entre as duas Igrejas, através da discussão das diferenças no campo teológico. Em 1981, o organismo apresentou um documento que representa, ainda hoje, uma referência sobre a eucaristia, o ministério dos sacerdotes e a autoridade do Papa. Outro momento importante foi o pronunciamento da Conferência de Lambeth (máximo órgão pastoral dos anglicanos), que em 1988 considerou a doutrina católica sobre a eucaristia e o ministério como “substancialmente” em harmonia com a fé dos anglicanos. Ficavam ainda divergências sobre a relação com a Escritura, a Tradição e o exercício da autoridade do magistério; a conciliariedade, a colegialidade e o papel dos leigos no processo de decisão; o ministério petrino do primado universal em relação com a Escritura e a Tradição. Em 2005, como se disse, a ARCIC publicou o documento “Maria, graça e esperança em Cristo”, abordando questões como os Dogmas da Imaculada Conceição e da Assunção, bem como o papel de Maria na doutrina e na vida da Igreja. Ainda este mês, os líderes das Igrejas Católica e Anglicana assinaram uma declaração comum na Inglaterra, na qual reconhecem a importância de trabalhar em conjunto, como resultado do histórico encontro de Leeds. Esta foi a primeira vez desde o reinado de Henrique VIII que os Bispos anglicanos com assento na “Câmara dos Bispos” do Sínodo Geral – cerca de um terço de toda a Igreja Anglicana na Inglaterra – se encontraram com os prelados da Conferência Episcopal da Inglaterra e Gales. Várias dificuldades têm surgido, contudo, nos últimos anos, com destaque para a ordenação de um bispo assumidamente homossexual e da escolha de uma mulher como primaz na Igreja Episcopaliana (ramo anglicano nos EUA). Em Fevereiro deste ano, o Sínodo Geral da Igreja Anglicana da Inglaterra votou, quase por unanimidade (348 a favor, 1 contra) uma moção que prevê “explorar” a proposta do Arcebispo da Cantuária, que deve levar à ordenação episcopal de mulheres. O Cardeal Kasper deixou claro que esta proposta, a ser aprovada, levaria a um “arrefecimento” na relação entre as duas Igrejas. Na Inglaterra, a ordenação sacerdotal de mulheres foi autorizada em 1994, as quais representam actualmente 16 por cento do total de clérigos da Igreja Anglicana.

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Agência ECCLESIA

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