Preservar o riquíssimo património

O grande desafio da igreja «O grande desafio da Igreja é saber preservar e valorizar o muito e riquíssimo património» que tem em mãos, tanto os edifícios em si como o vastíssimo e valioso espólio espalhado pelos diversos templos. Esta foi uma das ideias principais deixadas ontem num colóquio realizado no Santuário de Senhora de Porto de Ave, Póvoa de Lanhoso, onde houve uma recuperação considerada exemplar. O colóquio foi organizado pela Real Confraria de Nossa Senhora de Porto de Ave e pela JovemCoop, com apoio da Câmara Municipal da Póvoa de Lanhoso e da Signinum. Os últimos dados divulgados indicam que entre 70 a 80 por cento do património nacional está nas mãos da Igreja. Se por um lado é uma honra pela dimensão do acervo, não deixa de ser um “fardo” bastante pesado, em termos de preservação e restauro. «O grande desafio da Igreja é saber preservar o seu riquíssimo património. Por isso, salvo raras excepções, não estamos em tempo de construir, mas sim de restaurar», disse o cónego José Paulo Abreu, moderador do colóquio e membro da Comissão de Arte Sacra da Arquidiocese de Braga. Luís Aguiar Campos, responsável da Signinum, empresa que fez o restauro do santuário, mostrou alguns dos passos dados na intervenção realizada, dando conta das dificuldades experimentadas, quando se quer fazer um bom trabalho. «São obras que exigem preparação, muito cuidado com a memória do povo e ter sempre em conta princípios ético-deontológicos», disse, sublinhando que, quando se faz um restauro do género, há que pensar na possibilidade da reversibilidade. Os jornalistas do Diário do Minho Francisco de Assis e José Carlos Ferreira, autores do suplemento “Património”, que é às quintas-feiras, deram o seu testemunho na tarefa de divulgação do património no distrito de Braga, realçando a importância de um restauro bem feito. «Nenhum padre ou responsável de uma instituição deve ter a pretensão de saber tudo. E quando não sabe, a atitude inteligente deve ser perguntar, pedir ajuda aos técnicos e não lançar-se em obras que, obviamente, ficam mal feitas, danificando o património». Parcerias na preservação e divulgação do património Na sessão de abertura, além dos anfitriões, Carlos Rufino, juiz da Real Confraria de Nossa Senhora de Porto de Ave, e o padre Augusto, capelão da confraria, também o presidente da Câmara Municipal, Manuel Baptista, esteve presente, não só como autarca, mas sobretudo como um «apaixonado» pelo santuário. «A minha presença aqui tem um sabor especial. É uma casa que me diz muito, não só pela minha fé em Nossa Senhora como pela sua importância no contexto do desenvolvimento turístico da Póvoa de Lanhoso», disse. Aliás, Manuel Baptista deu conta dos projectos de desenvolvimento do concelho, ancorados no património, na filigrana e na gastronomia, apostando numa nova imagem da vila e do concelho. «O santuário de Porto de Ave é um ponto de visita obrigatório», disse. Por seu turno, Ana Patrícia Ferreira, da Signinum e com formação em Tomar e Évora, mostrou alguns avanços na investigação para melhor conhecimento do santuário, respondendo a uma das questões que intrigava muita gente. Isto é, quem é D. Luís Vermiel, nome que está cravado numa das colunas da igreja. Segundo esta investigadora, trata-se de um insigne escultor/ pintor, com a alcunha de “peregrino espanhol”. Um homem que no século XIX não poupava em elogios à beleza e à riqueza patrimonial do santuário, estranhando que ninguém tivesse escrito sobre o edifício. Encarregou-se então de escrever não só o monumento, mas também as festas, com pormenores verdadeiramente espectaculares. O presidente da ATAHCA, Mota Alves, foi outro dos convidados do colóquio, para falar da importância das parcerias na tarefa, que é de todos, de preservar e divulgar o património. Aceitou o desafio do cónego José Paulo Abreu para a feitura de um catálogo para as peças do Museu da Confraria. A ATAHCA, que tem sido parceira em várias obras de restauro, mostrou-se disponível para trabalhar em parceria com a autarquia e com a confraria. Coube ao presidente da JovemCoop, Ricardo Silva, a tarefa de encerrar o colóquio. Na sua intervenção, também se mostrou disponível para ajudar a divulgar o património construído e natural, contribuindo para uma maior consciencialização e sensibilização das populações nas questões do património. Ricardo Silva ofereceu uma medalha ao juiz da confraria, como homenagem ao trabalho realizado. Seguiu-se uma visita guiada à intervenção que a Signinum está a fazer nos calvários e nas 100 imagens.

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