Prémio Árvore da Vida: «Comove-me, surpreende-me e faz-me chorar de alegria» – Luís Miguel Cintra

Ator e encenador recusou valor monetário associado ao prémio e pediu mais intervenção da Igreja na sociedade

Fátima, 03 jun 2017 (Ecclesia) – O ator e encenador Luís Miguel Cintra recebeu hoje o Prémio Árvore da Vida – Padre Manuel Antunes e mostrou-se comovido com a distinção da Igreja Católica.

“Comove-me que a Igreja me dê um prémio que para além de significar 'agradecemos o teu trabalho, de que gostamos', diz, ou eu gostava que dissesse, 'reconhecemos-te como irmão'”, disse no discurso de receção do prémio, no final da Jornada Nacional da Pastoral da Cultura, em Fátima.

Luís Miguel Cintra recusou o valor monetário associado ao galardão ‘Árvore da Vida’.

No seu discurso, o ator e encenador alertou para “um poder sem cara, que banaliza e despreza” a sociedade e considerou que “tem de haver uma mudança” para que o mundo e a Igreja “mais uma vez se recolham na oração”.

A sociedade capitalista, referiu ainda, tornou-se “monstruosamente castradora de todas as liberdades, burocrática”.

“Cada vez menos há lugar para repararmos uns nos outros, ou para assumirmos um direito esquecido da dignidade de cada um diferente da do outro. E cada vez mais dou comigo a sonhar com uma Igreja como julgo que Jesus encarregou São Pedro de a fundar”, assinalou.

Contudo, “hoje nem tudo é mau”, realçou, desejando que a Igreja “transforme o vício em virtude e que, sem dinheiro nem armas, com a autoridade de não ter nada a perder, ser apenas Palavra”.

Para Luís Miguel Cintra, a Igreja Católica deve também defender a paz, estar “fora das armadilhas da acumulação de capital” e recuperar para o mundo “o ideal de pobreza que os artistas já tantas vezes lhe apontaram”.

“Que a Igreja se orgulhe das condições que tem para ser a terra sem fronteiras da imensa liberdade”, destacou, incentivando à presença na “gestão da política mundial” onde represente todos que “lutam por seguir o único Mandamento que Cristo deixou”.

“Tenho permanentemente na cabeça uma ideia de Igreja ideal, onde todos fizessem um trabalho que se parecesse com brincar, jogar com os outros, estabelecer cumplicidades, sem sofrimento nem culpa”, revelou o ator.

Para o premiado, o que a Igreja traz às pessoas “é a confiança no que transcende” e alertou que o “homem está à beira de desistir da sua humanidade” sendo a evangelização atual “a luta contra o poder do dinheiro”, o regresso à simplicidade original.

Luís Miguel Cintra recordou a figura do padre Manuel Antunes, sacerdote jesuíta que dá nome ao prémio.

"Com quem tanto aprendi na Faculdade de Letras e cuja amizade foi para a minha família fundamental”, explicou, numa intervenção, publicada na íntegra no sítío online do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura.

Segundo o cofundador da companhia teatral Cornucópia, “é voz comum” que a Igreja “sempre se entendeu mal com o Teatro”, mas esta é uma ideia “errada”.

“Haverá mais magnífico teatro que todo o aparato das celebrações solenes? E quantas peças de teatro religioso não se escreveram ao longo da História?”, questionou, na 13.ª Jornada da Nacional da Pastoral da Cultura que teve como tema ‘Out of the box: A relação dos jovens com a Cultura’.

A intervenção evocou ainda o momento da reaproximação do ato à prática religiosa: "Passa por um momento em que, sem qualquer espécie de reflexão e depois de bastantes anos de silêncio, me saíram boca fora as palavras do Pai.Nosso, a oração que Deus nos ensinou: perante o cadáver de meu irmão".

Luís Miguel Cintra falou à Agência ECCLESIA antes da cerimónia realizada hoje em Fátima; a entrevista está publicada na mais recente edição do Semanário Ecclesia e vai ser emitida no programa 70×7 deste domingo (às 13h30, na RTP2).

CB/OC

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