Portugal: «Uma política de erradicação da pobreza deve encará-la como um problema da sociedade», destacou economista José António Correia Pereirinha

Jornadas de Ação Sociocaritativa  do Algarve refletiram sobre a «pobreza, problema que teima em persistir»

Lagoa, 27 fev 2024 (Ecclesia) – O economista José António Correia Pereirinha disse que “a pobreza é uma realidade estrutural em Portugal”, alertando para uma “fábrica da pobreza” no país, nas XXII Jornadas de Ação Sociocaritativa  da Diocese do Algarve, este sábado, em Ferragudo.

“Uma política de erradicação da pobreza deve encará-la como um problema da sociedade. Quando olhamos para a pobreza como um problema exclusivo dos pobres olhamos para a mitigação da pobreza e não para a erradicação”, disse o professor aposentado do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), divulga o jornal ‘Folha do Domingo’, da Diocese do Algarve.

José António Correia Pereirinha frisou que “a pobreza não é um problema dos pobres” mas da “sociedade”, salientando que uma estratégia de luta contra a pobreza “não pode apenas atender aos processos individuais, tem de atender principalmente aos processos sociais”.

Nas XXII Jornadas de Ação Sociocaritativa da Diocese do Algarve, promovidas pela Cáritas Diocesana, com o tema ‘Pobreza, problema que teima em persistir’, o conferencistas explicou que “a pobreza é uma realidade estrutural em Portugal” e alertou para a existência de uma “fábrica da pobreza” mas “parar a fábrica é difícil”.

Para o economista são necessárias medidas com vista à “erradicação da pobreza” e não apenas a sua “mitigação”, diferenciando que “a mitigação tem efeitos imediatos, mas não são sustentáveis”, enquanto “a erradicação tem efeitos sustentáveis, mas não são imediatos”.

O professor catedrático do ISEG referiu que os jovens e os idosos são os grupos que têm uma taxa de pobreza “superior à da média do país”, e lembrou que há 20 anos eram os idosos os mais pobres, hoje são os mais jovens, “as políticas públicas, através da criação do CSI, fizeram com que isso acontecesse”.

“Se o salário [de um trabalhador] aumentar agora sabemos que isso vai ter efeito positivo quando ele for idoso daqui a uns anos. Um idoso hoje é pobre porque quando era ativo recebia salários baixos e, se calhar, descontou pouco tempo para a Segurança Social”, desenvolveu José António Correia Pereirinha, destacando que “um salário justo exige a intervenção da sociedade, envolve não só o Estado, mas também o empresário”.

As jornadas, realizadas este sábado, dia 24 de fevereiro, no Centro Pastoral de Ferragudo, contaram com a participação de cerca de 50 agentes da pastoral sociocaritativa da diocese algarvia: da Cáritas, de centros paroquiais, de grupos de ação sociocaritativa das paróquias e das conferências da Sociedade de São Vicente de Paulo.

A organização convidou também a responsável do Centro Distrital de Faro do Instituto da Segurança Social pela atribuição das prestações de família, de deficiência e de combate à pobreza e exclusão social, que explicou as condições para receber o Rendimento Social de Inserção (RSI) e o Complemento Solidário para Idosos (CSI), os deveres e as obrigações dos beneficiários.

“A solidariedade no Estado, responsabilidade coletiva, pratica-se através de transferências de recursos entre a comunidade para permitir a todos uma efetiva igualdade de direitos e de oportunidades e para combater as desigualdades sociais e prevenir e erradicar as situações de pobreza e de exclusão”, assinalou Sónia Barão.

O bispo do Algarve, D. Manuel Quintas, também esteve presente nas XXII Jornadas de Ação Social da diocese, assinalou que o trabalho da Igreja Católica nesta área procura, sobretudo, “mitigar situações de pobreza” e espera que esta edição das jornadas ajude “a sair de certas situações de menos dignidade”, informa o jornal ‘Folha do Domingo’.

A Cáritas Portuguesa lançou hoje, dia 27 de fevereiro, um novo estudo intitulado ‘Pobreza e exclusão social em Portugal: uma visão da Cáritas’, alertando para as 500 mil pessoas que vivem em “privação material e social severa”, bem como as que ficam fora das estatísticas oficiais.

CB/OC

Portugal: «Estatísticas oficiais subestimam a magnitude da pobreza e exclusão» – Cáritas

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Agência ECCLESIA

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