Portugal: «Temos de encontrar um equilíbrio para que não haja um descalabro na inflação» – Carlos Neves

Militante da Ação Católica Rural aborda impactos da crise, da seca e dos incêndios

Foto: Carlos Neves

Lisboa, 17 jul 2022 (Ecclesia) – Carlos Neves, agricultor e militante da Ação Católica Rural (ACR), alertou para a necessidade de responder, de forma solidária, às consequências das sucessivas crises, da seca e dos incêndios sobre os produtores e consumidores.

“Temos de encontrar um equilíbrio, uma solidariedade entre toda a sociedade, para que não haja um descalabro na inflação, mas também para que os agricultores recebam aquilo que precisam, o que nós chamamos o preço justo, que lhes permita continuar a trabalhar”, refere o convidado da entrevista semanal conjunta Ecclesia/Renascença, emitida e publicada ao domingo.

O membro da ACR, na Diocese do Porto, alerta em particular para o impacto económico da guerra na Ucrânia, que se soma aos problemas levantados pelos anos de pandemia.

“Está tudo mais caro. O gasóleo está mais caro, as rações, a energia e depois, muitas vezes, querem que sejam os agricultores a segurar o preço dos alimentos”, aponta, assumindo as “dificuldades económicas das pessoas”.

Se não temos agricultura, depois também não temos segurança alimentar e estamos sujeitos à importação de produtos, com uma maior pegada ecológica e com um custo muito maior”.

Carlos Neves recorda os sistemas agrícolas “completamente dependente do clima”, num contexto em que “as charcas, as poças estão vazias”.

“Podemos e devemos, naturalmente, investir na modernização do regadio e usar técnicas que nos permitam produzir, gastando menos água”, acrescenta.

Evocando algumas manifestações de desconfiança relativamente à agricultura e ao seu impacto na crise ecológica, o membro da ACR sustenta que “os agricultores têm de ser parte da solução”.

“Nós precisamos, dentro do possível, de ter comida de proximidade, agricultura de proximidade, de consumirmos os produtos da época, os produtos mais próximos, digamos assim, do mercado, e não andar com produtos a viajar de um lado para o outro no mundo”, justifica.

O entrevistado lamenta que, na questão dos incêndios, se mantenha a tendência de “correr atrás do prejuízo”, em vez de prevenir.

“A agricultura está abandonada, os terrenos estão abandonados, a erva cresce no inverno, no verão está a seca e arde com uma velocidade enorme”, adverte.

A agricultura é essencial para o meio rural, para evitarmos e para nos protegermos dos incêndios, mas essencialmente para termos alimentos para a população”.

A ACR promoveu a 9 e 10 de julho a sua 10ª Assembleia Nacional de Delegados, na qual assumiu como prioridade próxima “acolher, dinamizar, participar e viver” a Jornada Mundial da Juventude 2023, que vai ter lugar em Lisboa.

Para Carlos Neves, este vai ser um “evento único” que pode ajudar a revitalizar o movimento católico.

A assembleia da ACR assumiu ainda a importância da defesa da vida, “como marca identitária do movimento”, num momento em que se debate, em Portugal, a legalização da eutanásia.

“É seguramente um desafio para o movimento, para toda a sociedade, porque isto tem tudo a ver com o meio rural envelhecido e com o desafio que é acompanharmos normalmente os mais velhos, os mais frágeis, os mais doentes”, assinala o entrevistado.

Henrique Cunha (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)

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