«Nós não gostamos de nenhuma das crises» – Rita Valadas
Lisboa, 11 nov 2022 (Ecclesia) – A presidente da Cáritas Portuguesa disse hoje que “sem uma alteração dos rendimentos”, dificilmente vai haver “uma alteração a nível da pobreza”, assinalando que o aumento dos custos de vida originou “mais pedidos de apoio” à instituição da Igreja Católica.
“O que assistimos neste momento é que mal começou a haver sinais do aumento dos custos de vida, começamos a receber mais pedidos de apoio e não em onda mas em permanência. E, neste momento, crescendo com esta clareza que a situação que se vive em Portugal vai trazer muita gente a esta situação”, explicou Rita Valadas, em entrevista à Agência ECCLESIA.
Segundo a presidente da Cáritas Portuguesa, organização católica que esta semana alertou para um cenário “muito preocupante” de crise social no país, a atual crise social “é uma crise arrastada”, começou num período em que se estava a “retomar o pós-crise de 2008”, e a conseguir ter “indicadores muito interessantes, até à frente de outros indicadores da Europa”, em 2019, quando surgiu a crise pandémica do coronavírus Covid-19.
“Temos a pandemia, depois a crise de rendimento, e no retomar da crise sabia-se que íamos ter um aumento do custo de vida que nunca percecionamos, no fim do ano passado, que pudesse atingir estes valores que a guerra proporcionou e que ninguém sabe quando terminará”, resumiu.
Rita Valadas explica que a atual crise, como na pandemia Covid-19, afetou outros patamares sociais, nomeadamente a classe média, como “empreendedores e pessoas com pequenos negócios da área do turismo e cultura”.
“As pessoas que nos chegam são pessoas não daquelas que já acompanhamos, ainda que a situação dessas pessoas tenha um grau de severidade bastante maior do que no momento em que começaram a estar com o nosso apoio, mas são essas famílias da classe média – média baixa, média -, que estão na linha de risco e que não tendo aumento de rendimento, tendo aumento de custo ficam numa situação de grande vulnerabilidade”, desenvolveu.
Neste contexto, a presidente da Cáritas Portuguesa afirma que “sem uma alteração a nível dos rendimentos, dificilmente” vai haver “uma alteração a nível da pobreza”, seja a pobreza resistente, sejam estas situações que a organização espera que “não fiquem nesta situação e consigam ter ferramentas suficientes para a ultrapassar”.
“A situação da questão do emprego foi um murro no estômago muito claro; rendimento baixo leva as pessoas a uma situação de risco porque o seu rendimento não permite fazer face aos custos básicos de vida. Faz tudo para encontrar um emprego e depois tem um e não consegue sustentar a família”, acrescentou.
Este domingo, 13 de novembro, a Igreja Católica celebra o VI Dia Mundial dos Pobres, uma data instituída pelo Papa Francisco no penúltimo domingo do ano litúrgico, no contexto do Jubileu da Misericórdia, em 2016; este ano tem como tema ‘Jesus Cristo fez-Se pobre por vós’ (cf. 2 Cor 8, 9).
“A figura de Jesus não é de ostentação, mas fez-se pobre e marcou essa presença. Pobre entre os pobres, olhando para todos, e essa mensagem é muito forte”, salientou Rita Valadas, destacando que a “desigualdade é um cancro das crises sociais”, e, em Portugal, as desigualdades têm “vindo a aumentar muito”.
A Cáritas Portuguesa vai lançar brevemente a campanha ‘10 Milhões de Estrelas – Um Gesto pela Paz’, onde propõe aos portugueses uma adesão simbólica aos valores da paz, associados à vivência do Natal, com a aquisição de uma ‘vela estrela’ de cor branca ou vermelha, por 2 euros, e que este ano comemora 20 anos.
“O objetivo era que se falasse sobre a paz e, este ano, por maioria de razão, faz sentido quando temos a guerra na Europa mas também é muito feliz o facto de ser uma estrela e ser luz. Fazer 20 anos, falar de 10 milhões de estrelas, quando somos mais ou menos 10 milhões de portugueses, é quase como se tivéssemos direito a ter uma luz que é nossa”, acrescentou Rita Valadas, no Programa ECCLESIA, transmitido hoje na RTP2.
Para a entrevistada, esta iniciativa que surge anualmente no tempo do Natal perdura no tempo “porque faz sentido”, tem o seu “ponto forte nesta altura mas é utilizada todo o ano”, por exemplo, há pessoas que “se aproximam da Cáritas” para saber se é possível ter velas para batizados, para casamentos.
“A luz é um símbolo que nos convoca e nos aproxima”, realçou Rita Valadas, a presidente da Cáritas Portuguesa.
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