Portugal: Respeitar identidades religiosas

Lisboa, 20 dez 2012 (Ecclesia) – O sociólogo e professor da Universidade Católica Portuguesa (UCP) Alfredo Teixeira afirmou hoje em Lisboa que se vive no país um “silêncio gravoso” sobre o que denominou como “criatividade social” do campo religioso.

“Porventura até no próprio espaço académico, interiorizou-se o paradigma de privatização da religião”, disse o especialista, na apresentação da obra ‘Identidades religiosas em Portugal’, por si coordenada.

Inserido num projeto mais vasto sobre a “morfologia do campo religioso em Portugal”, patrocinado pela Comissão da Liberdade Religiosa, o ensaio interdisciplinar destaca a “diversificação” neste mundo.

O antigo diretor do Centro de Estudos de Religiões e Culturas da UCP realça que a intenção do livro é oferecer um retrato “microssocial”, que veja as comunidades crentes a partir das suas “dinâmicas históricas”, mais do que uma “simples coleção de informação”.

O volume, editado pelas Paulinas, conta também com contributos de Luís Aguiar Santos, Rita Mendonça Leite, historiadoras, e Teresa Líbano Monteiro, socióloga.

Para Alfredo Teixeira, este estudo pode encorajar as próprias comunidades crentes “a pensarem de uma forma diferente o seu próprio lugar no espaço público”, face ao “pressuposto de superioridade de uma visão não religiosa do mundo” e de “irrelevância social” das religiões.

“Como é que se pode construir um espaço de cidadania quando se diz aos que são crentes que ponham entre parênteses aquilo que os define, enquanto identidade?”, questionou.

Na apresentação da obra, o diretor do Centro de Estudos de História Religiosa da UCP, António Matos Ferreira, falou numa reflexão que visa “conduzir” a uma compreensão da realidade em “mudança”.

Segundo o historiador, é necessário “compreender a complexidade interna dos universos religiosos”, com diversas “vivências e legitimações”.

“A pertença é fundamental, mas é por vezes o rastilho daquele conflito abrasador que faz sempre alguma fogueira, nalgum sítio”, observou.

O diretor do Centro de Estudos de História Religiosa disse que o religioso “é uma instância de concorrência e de conflito” na construção do sentido e da verdade na sociedade.

“Espero que este trabalho se possa inscrever no desenvolvimento da consciência cívica, da cidadania e da liberdade religiosa”, prosseguiu.

A introdução à obra assinala que “as ciências sociais da religião mostraram, ao longo das últimas duas décadas, que a religião continua na agenda social”.

O catolicismo é abordado a partir das “amplas remodelações quanto à sociabilidade crente, privilegiando a caracterização das formas de territorialização das pertenças e a apresentação dos traços que descrevem as novas formas de identificação católica”, apresentadas “entre o território e a rede”.

No caso do protestantismo, por outro lado, destaca-se “uma enorme diversidade”, sem deixar de desenvolver “formas de cooperação quanto à sua presença na cena pública”.

Os promotores do estudo esperam que o mesmo ajude a “cultivar, no espaço público, uma racionalidade aberta à crítica das práticas sociais com origem nas tradições e comunidades religiosas”.

OC

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