Padre Agostinho Jardim Moreira comenta dados divulgados pelo INE
Porto, 27 nov 2019 (Ecclesia) – O presidente da Rede Europeia Anti Pobreza Portugal (EAPN) defendeu hoje uma estratégia nacional para evitar a repetição de ciclos de exclusão e uma análise “capilar” para procurar superar o problema dos trabalhadores que vivem com menos de 501 euros.
“É uma injustiça que haja gerações que nascem e morrem sucessivamente sem poderem viver uma vida digna. Quer dizer que a justiça em Portugal está longe de se aplicar a todos os portugueses. Entendo que a democracia está doente porque não se aplica”, referiu à Agência ECCLESIA o padre Agostinho Jardim Moreira.
O entrevistado comentava os dados do Inquérito às Condições de Vida e Rendimento, relativo a 2018, divulgado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), segundo o qual 11% dos trabalhadores portugueses vivem com menos de 501 euros mensais e metade dos desempregados são pobres.
“Espero que as empresas sejam menos autofágicas, quando apenas dedicam alguma verba para a pobreza e no fim aplicam-na apenas nos seus próprios interesses internos”, realçou.
O padre Agostinho Jardim Moreira considera negativo o aumento da pobreza nos trabalhadores e alerta que “muitos empregos são mal pagos, são precários, o que não é razoável”.
Para o presidente da EAPN Portugal, o número “é tão elevado” que parece que todo o setor empresarial “precisa de ser despertado”.
É uma questão de justiça social, dos patrões e das empresas na empregabilidade, têm dificuldades de remunerar os trabalhadores É necessário despertar as empresas para a sua responsabilidade social, capacitarmos os excluídos para darmos inserção na vida laboral”.
O documento do INE, publicado esta terça-feira, informa que “17,2% das pessoas estavam em risco de pobreza em 2018”, menos 0,1 ponto percentual (p.p.) do que no ano anterior.
“Dá uma perspetiva de reduzida melhora na situação dos mais débeis”, observou o padre Agostinho Jardim Moreira, destacando alguns fatores como a descida do desemprego, o aumento do rendimento mínimo – que “também ajudou certamente outros a melhorar a sua receita mensal”.
Assinalando que a vida dos idosos “também melhorou, com aumento de algumas receitas, de alguns subsídios”, o sacerdote da Diocese do Porto alerta, sobre a ‘redução do risco de pobreza infantil’, que “não há crianças pobres”, mas “família pobres, sejam mais agregadas ou monoparentais”.
O presidente da EAPN Portugal considera que a pobreza é “um fator multidimensional e estrutural” e é necessário “entrar num entendimento do bem coletivo e não apenas no bem micro, ter uma atitude mais global e justa para todos os portugueses”.
Neste contexto, recorda que têm apelado desde o Presidente da República aos partidos na Assembleia da República para a necessidade de Portugal “ter uma estratégia concertada e que responda às causas geradoras da pobreza”.
O entrevistado salientou que “é importante” na atual Legislatura conseguirem, “com o Governo, aprovar uma estratégia nacional para evitar que os portugueses se reproduzam na pobreza” e recordou que o estudo apresentado o ano passado alerta que em Portugal “são preciso cinco gerações para sair da pobreza”.
A European Anti Poverty Network é a “maior rede europeia de redes nacionais, regionais e locais de organizações não-governamentais”, fundada em 1990, em Bruxelas, e criada em Portugal a 17 de dezembro de 1991.
CB/OC