D. José Ornelas admite necessidade de reconhecer «nódoas dolorosas» do passado
Lisboa, 06 out 2022 (Ecclesia) – O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), D. José Ornelas, disse à Agência ECCLESIA que a Igreja vive “tempos difíceis”, por causa da crise dos casos de abusos sexuais de menores, mas rejeita generalizações neste campo.
“Quer-se criar a ideia de que a Igreja está em crise, é feita de pedófilos e encobridores. Isto não é a Igreja, não é verdade”, assinala o bispo de Leiria-Fátima.
O responsável assume a necessidade de “reconhecer as nódoas dolorosas” do passado e aceitar que existem “problemas”.
“Reconhecemos que esta Igreja tem de estar constantemente a renovar-se”, observa.
Temos de nos converter daquilo que não se coaduna nem exprime o ser da Igreja. É isso que estamos a fazer”.
11 meses após o anúncio da criação de uma Comissão Independente para o estudo de casos de abusos sexuais, o presidente da CEP deixa uma convicção: “Nunca pensei que este caminho fosse fácil”.
A mudança, acrescenta, tem de ser feita num clima de “sinodalidade fraterna”, como pede o Papa, para enfrentar as dificuldades “com esperança”.
“Nós não estamos resignados, não estamos parados, queremos construir uma Igreja e um mundo melhor”, conclui.
A 1 de outubro, D. José Ornelas, manifestou o seu “compromisso de total colaboração” na investigação de quaisquer denúncias de abusos sexuais, após a divulgação de notícias sobre uma investigação do Ministério Público por alegada “comparticipação em encobrimento” de casos de abusos sexuais.
Em comunicado, a CEP explicou que a situação em causa remonta a 2011, quando o atual bispo de Leiria-Fátima era superior geral dos Dehonianos, relativamente a “possíveis abusos cometidos no Centro Polivalente Padre Leão Dehon, na cidade de Gurué, em Moçambique”.
Segundo a nota, o responsável deu então “indicações para que estas suspeitas fossem investigadas pelas competentes autoridades locais da Congregação, as quais não encontraram nenhuma evidência de possíveis abusos”.
“Posteriormente, quer a Procuradoria-Geral de Moçambique, quer a Procuradoria italiana de Bergamo, Itália, onde residia um dos sacerdotes visados (cuja nacionalidade é italiana), investigaram detalhadamente todas as situações e arquivaram essas mesmas investigações, ilibando o missionário dehoniano em questão”, precisa a CEP.
Também no último sábado, D. José Ornelas foi recebido no Vaticano pelo Papa, que também se reuniu com o núncio apostólico em Portugal, D. Ivo Scapolo, para abordar assuntos relativos à Igreja Católica em Portugal.
PR/OC