Iniciativa chega a sete hospitais do país, com a ajuda de empresas parceiras
Coimbra, 26 fev 2022 (Ecclesia) – A ‘Palhaços D’Opital’ leva, há nove anos, “sorrisos e afetos” aos doentes idosos de hospitais parceiros, “trabalhando a parte saudável” do paciente, através da “música, performances e poesia”, refere Isabel Rosado, da associação, em declarações à Agência ECCLESIA.
“Uma visita a um serviço começa com uma conversa com o enfermeiro chefe para recolher informação sobre os pacientes, somos uns privilegiados porque não nos interessa a parte do doente, nós só trabalhamos com a parte saudável do paciente, pretendemos saber porque está ali, se vai ser operado, se tem visitas e o estado anímico da pessoa”, explica.
Isabel e Jorge Rosado eram professores e foi Jorge quem “sonhou primeiro este projeto” e levou “de arrasto” a Isabel, “depois de se apaixonar pela arte do doutor palhaço “ e pelo impacto que pode ter.
“Na altura que iniciámos os Palhaços D’Opital existiam projetos mas direcionados a crianças e percebemos que os hospitais eram mais do que as crianças e que os benefícios do humor são para todos, os mais velhos são os que têm taxas de internamento mais prolongadas e os familiares têm dificuldade em acompanhá-los ficando muitas vezes sozinhos”, destaca a entrevistada.
A associação nasceu há nove anos, com “a ajuda de empresas parceiras”, sob o lema “alegria, amor e afetos com foco nos mais velhos”, e os cinco palhaços que compõem atualmente a equipa vai uma vez por semana a cada hospital, “trabalha praticamente a tempo inteiro” para o projeto.
Na região centro, trabalhamos em seis hospitais e, na região norte, em Matosinhos. Somos uma equipa de cinco palhaços e temos mais dois em formação, a equipa no geral somos 14 pessoas, é uma equipa profissional, remunerados, a cada ano os palhaços fazem mais de 250 horas de formação, por exemplo todas as quartas feiras de manhã têm aulas de música e canto e à tarde preparam as performances que vão levar para os hospitais, todas originais e pensadas por nós”.
Isabel Rosado, que começou como “dra. Belita”, atualmente assume a gestão da Associação para o Jorge continuar ser o “dr. Risoto” que faz visitas aos hospitais.
Os palhaços visitam as áreas Oncológica, de Demência, Paliativos e Continuados e a cada visita sentem “que aquelas pessoas podem ter dado o último sorriso”.
Por parte das famílias, “nem sempre é fácil a aceitação” mas, segundo a responsável, “há mais reticências do que pela parte da pessoa doente”.
“Talvez o melhor medidor de impacto que podemos ter é que os nossos hospitais perguntavam se podíamos mudar os dias, (as visitas aconteciam em dias fixos), porque as administrativas estavam com dificuldades de marcação porque as pessoas só queria marcar tratamentos e consultas naqueles dias em que estávamos no hospital”, assinala.
Isabel Rosado recorda vários episódios desde o início do trabalho da Associação mas há uma que a tocou de forma diferente.
“Estávamos na sala de espera do hospital, era Verão e estava muito calor; ali sentada estava uma jovem mulher, com camisola de mangas compridas e isso chamou-me a atenção, dado o ambiente quente. Quando terminámos a performance a jovem veio até mim, pegou-me no braço e agradeceu o momento em que se riu, como não o fazia há muito tempo, estava à espera para ser avaliada por um médico legista, por ter sido vítima de maus tratos”, conta.
Nestes “momentos mais difíceis” a entrevistada aponta que o palhaço tem de se “focar na sua missão e levar um pouco de alegria, humor e afetos” e ali sente “que tem o poder de mudar o ambiente da sala de espera ou de um quarto de hospital” para que, por momentos, quem ali está “se esqueça da doença”.
Em tempo de pandemi,a os palhaços fizeram uma aposta crescente nos meios digitais, lançando mesmo “uma pequena série online”.
A conversa com Isabel Rosado, da Associação Palhaços D’Opital, foi um dos momentos do programa ECCLESIA deste sábado, na Antena 1 da rádio pública, emitido às 06h00.
SN