Carlos Costa Gomes destaca as várias frentes que subsistem na defesa da vida, desde o aborto à gestação de substituição, passando pela eutanásia e a inteligência artificial
Lisboa, 18 jun 2019 (Ecclesia) – O novo presidente da Direção Nacional do Centro de Estudos de Bioética (CEB), Carlos Costa Gomes, traça como objetivo principal para o seu mandato “dar às questões da bioética uma voz mais ativa na sociedade”.
Em entrevista hoje à Agência ECCLESIA, o professor e investigador salienta a importância de conjugar o trabalho académico que o CEB tem feito, nomeadamente através “das publicações regulares na Revista Portuguesa de Bioética”, com uma maior “presença no plano nacional”, para que todas as problemáticas relacionadas com este setor “tenham uma maior visibilidade na sociedade”.
“Ter sempre uma voz presente e passar do campo académico para a sociedade civil. O professor Daniel Serrão (nr. um dos fundadores do CEB) dizia que nós teríamos que passar de uma bioética académica para uma bioética acessível a todas as pessoas para que depois possam tomar decisões por elas próprias, no sentido das melhores decisões. E esse é o desafio”, frisa Carlos Costa Gomes.
Para o novo presidente da Direção Nacional do CEB, são muitas as áreas que precisam de uma voz forte na defesa da bioética e da dignidade humana, a começar pelo “início de vida” e pelas novas “técnicas de reprodução humana” que estão em marcha, como a chamada “gestação de substituição”.
“A gestação de substituição levanta uma série de questões éticas e ao fim ao cabo acaba por estar sempre ferida na sua essência”, aponta Carlos Costa Gomes.
Aquele responsável realça outras preocupações “antigas mas nunca acabadas”, como “o aborto” e “a eutanásia”
“A questão da eutanásia vai estar com certeza na ordem do dia, quando os partidos se reorganizarem outra vez e creio que é um debate que não está terminado e irá também ser necessário intervir”, asseverou.
Outra vertente que o novo presidente do CEB pretende abordar a curto prazo é o debate à volta “das novas tecnologias” e da “inteligência artificial”, com todas as implicações “que se colocam, diretamente com o futuro do mundo do trabalho, nomeadamente nas atividades onde os postos de trabalho podem ser trocados por robots ou por máquinas inteligentes”.
Conjuntura que, segundo Carlos Costa Gomes, obrigará “a rever todo um processo de contrato social e que irá afetar a classe dos trabalhadores”.
“Depois também teremos uma frente que penso que é fundamental enfrentar, que é a questão da ideologia de género, numa era em que parece que passamos do biológico para o ideológico, a ponto de dizermos que a natureza humana é quase uma ideologia”, assinalou.
Quanto à forma de concretizar este horizonte, Carlos Costa Gomes pretende por um lado desenvolver mais canais de comunicação entre o CEB e o público em geral, com a aposta também nas novas “plataformas digitais”.
Para “divulgar atividades e passar o pensamento do CEB”, mas também para que por exemplo “quem trabalha na área da investigação possa recorrer mais facilmente à Revista Portuguesa de Bioética para publicar os seus artigos”.
“Queremos marcar alguma presença na comunicação social mas também dinamizar mais colóquios e ações de formação sobre questões éticas pertinentes que estão a surgir a nível nacional mas também internacional, com a participação em debates, em sessões temáticas, essas são formas em que queremos também cada vez mais apostar”, salientou Carlos Costa Gomes.
Nos últimos quatro anos, o CEB dinamizou vários colóquios relacionados com a temática da Família, em algumas das regiões e cidades do país onde marca presença, como Braga, Coimbra e Lisboa.
“Neste momento ainda não está definido qual o tema principal que iremos trabalhar nos próximos quatro anos, iremos fazê-lo na próxima reunião de direção”, adiantou o novo presidente da Direção Nacional do CEB, que quer também estimular o trabalho que é feito nos diversos polos do organismo.
“Para que cada um possa realizar as suas atividades locais mas que elas tenham depois também impacto a nível nacional através da divulgação que se vá fazendo”, defendeu o investigador.
No plano pessoal, Carlos Costa Gomes considera a sua nova missão como “um grande desafio, até porque o legado e a herança que está para trás”, em termos das figuras da bioética em Portugal, “é muito significativo”.
Aquele responsável recorda nomes como “Daniel Serrão, Walter Oswald, Luis Archer e Jorge Biscaia”, que foram inclusivamente “agraciados em 2008” pelo então presidente da República Portuguesa, Aníbal Cavaco Silva, com a Grã-Cruz da Ordem de Sant’Iago da Espada, pela sua condição de “pioneiros da Bioética em Portugal”.
“A obra feita também é muita, do ponto de vista do espólio que temos através da Revista Portuguesa de Bioética. Portanto é um desafio enorme mas que abraço com toda a determinação e dedicação”, completou Carlos Costa Gomes.
Fundado a 8 de dezembro de 1998, o Centro de Estudos de Bioética é a mais antiga instituição do país a dedicar-se ao estudo e à reflexão das questões bioéticas, suscitadas pelo avanço da biotecnologia aplicada à vida humana.
Entre os membros fundadores do CEB encontramos figuras de referência provenientes de diferentes áreas profissionais, como os médicos Daniel Serrão, Walter Osswald e Jorge Biscais, os sacerdotes Luis Archer (SJ) e Vasco Pinto de Magalhães (SJ).
A eleição dos novos corpos gerentes do Centro de Estudos de Bioética teve lugar em Coimbra, durante o colóquio ‘Família – De onde vem e para onde vai – Do seu destino, evolução e perenidade”.
JCP