Portugal não pode esquecer as lições da emigração

Igreja apresenta primeiro Encontro das Comunidades Portuguesas D. Januário Torgal Ferreira, presidente da Comissão Episcopal das Migrações e Turismo (CEMT), defendeu hoje que Portugal não pode esquecer as lições que aprendeu com a emigração e pediu ao novo Governo que seja capaz de acolher os imigrantes que chegam até nós. “Seria oportuno que o novo Governo, por razões éticas e patrióticas de fraternidade e civismo, fosse capaz de aprender o acolhimento aos estrangeiros que nos batem à porta”, disse o prelado durante a conferência de imprensa para a apresentação do I Encontro Mundial das Comunidades Portuguesas, promovido pela CEMT e a Obra Católica Portuguesa de Migrações (OCPM). “É muito bonito dizer que só entram poucos para que os possamos acolher bem. O esforço do acolhimento existiu na retórica e, não nego, na prática, mas não foi tão generoso, rico ou imaginativo como os discursos diziam”, acusou. A iniciativa vai reunir personalidades como Jorge Sampaio, Rui Rio, o Cardeal Stephen Fumio Hamao (presidente do Conselho Pontifício para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes do Vaticano), o Cardeal-Patriarca D. José Policarpo, académicos, políticos, sindicalistas, conselheiros sociais e missionários. O presidente da CEMT considera que esta será uma oportunidade para estudar a forma como os portugueses foram acolhidos “em terras onde a imigração foi elemento essencial”. O Pe. Rui Pedro, director da OCPM, também chamou a atenção para esta questão, exigindo “políticas de acolhimento dignas da nossa memória de emigração”. D. Januário Torgal Ferreira assinalou ainda que a Comunicação Social Portuguesa tem sido, neste contexto, “um olhar desperto que analisou muitas situações, propôs aspectos positivos e ousou pôr o dedo na ferida”. Realidade invisível A OCPM apresentou esta iniciativa como uma forma de “identificar as mudanças psicosociais nas comunidades portuguesas”, “assumir a ‘memória sofrida’ da emigração”, “decidir novas formas de acompanhamento e inserção eclesial” e “responsabilizar e envolver as estruturas da Igreja em Portugal. Num momento de mudança política do País e das políticas migratórias, com a constituição do novo Parlamento e Governo, a Igreja pretende assim “rasgar o silêncio nacional que rodeia ‘questões adiadas’, sobre a plena cidadania dos portugueses emigrados”, como referiu o Pe. Rui Pedro. “A questão migratória foi removida do nosso imaginário”, acrescentou, criticando a “penumbra mediática” para a qual considera terem sido remetidos os emigrantes. Recuperar o “discurso real” sobre esta matéria é, pois, uma prioridade. Neste sentido, a Igreja Católica propõe-se reformular o “olhar redutor sobre a emigração” que detecta no nosso país, apresentando a vitalidade e potencialidades das comunidades emigrantes. “A desordem no acolhimento, causada por uma recente Imigração em situação de emergência social, deixa na penumbra política e condena ao silêncio cultural e mediático a realidade nacional de 5 milhões de portugueses ‘em diáspora’, por 121 países”, apontou o director da OCPM. Este responsável sublinhou a necessidade de se atender às mudanças existentes, hoje em dia, nos fluxos de saída, “com novos destinos, novos problemas e novas necessidades”. D. Januário Torgal Ferreira destacou a importância de se conhecerem, devidamente, “situações, pessoas e comunidades espalhadas pelo mundo” para mostrar uma realidade que não é conhecida de quem não emigrou. “Há cinco milhões da nossa raça que estão espalhados pelo mundo, não por uma questão de turismo empurrados pelas situações incómodas e injustas que encontraram em Portugal”, atirou. O presidente da CEMT frisou ainda que é necessário acabar com “o fantasma da inveja” que rodeia as histórias de sucesso dos emigrantes, que considerou verdadeiros “vencedores”. Igreja e emigrantes Sob o tema “Migrações em Portugal: ousar a memória, fortalecer a cidadania”, a Igreja Católica espera que o Encontro Mundial das Comunidades Portuguesas de 2005 seja uma oportunidade para repensar a sua presença junto das mesmas, um pouco por todo o mundo. Para os cerca de 5 milhões de portugueses dispersos por 121 nações, a Igreja Católica mantém estruturas próprias para os “portugueses no mundo” há mais de 50 anos – 242 missionários trabalham junto das comunidades portuguesas. A OCPM avançou hoje com algumas das conclusões do Inquérito aos delegados de missões juntos das comunidades portuguesas/emigrantes espalhadas pelo mundo. As respostas demonstram preocupação e alguma desilusão das comunidades, que se consideram esquecidas pela Igreja. Nesse sentido, as comunidades pedem “mecanismos de interligação com os países de acolhimento”, a criação de material pastoral para a situação de emigração, em português, e uma maior atenção das dioceses de origem, traduzida em visitas pastorais mais prolongadas ao estrangeiro. O Pe. Rui Pedro explicou que vários factores têm contribuído para a queda do número de missionários portugueses junto dos nossos emigrantes, mormente a falta de padres e as dificuldades económicas nas dioceses de acolhimento, que até hoje assumiam os encargos com os missionários, sobretudo na Suíça e na Alemanha. Para o director da OCPM, “há necessidades às quais não conseguimos fazer face, porque as dioceses têm procurado privilegiar outros sectores”. “É preciso valorizar, não diminuir o apoio”, ressaltou. O I Encontro Mundial das Comunidades Portuguesas decorrerá de 29 a 31 de Março de 2005, na casa diocesana do Vilar, Porto. Estão inscritas 150 pessoas em representação de comunidades portuguesas estabelecidas em 17 países. Programa – “Migrações em Portugal: ousar a memória, fortalecer a cidadania” 29 DE MARÇO DE 2005 – TERÇA-FEIRA 9.00h – Abertura do Secretariado e Acolhimento dos Participantes 9.30h – Sessão de Abertura: Moderador: D. Januário Torgal M. Ferreira, Presidente da Comissão Episcopal de Migrações e Turismo (CEMT) – Intervenção do Presidente da República Portuguesa, Dr. Jorge Sampaio (a confirmar) – Bispo do Porto, D. Armindo Lopes Coelho – Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, Dr. Carlos Gonçalves – Presidente da Câmara Municipal do Porto, Dr. Rui da Silva Rio – Governador Civil do Porto, Dr. Manuel Maria Moreira 10.00H – 1º PAINEL: “MIGRAÇÕES PORTUGUESAS AO LONGO DOS TEMPOS E NA DIVERSIDADE DOS ESPAÇOS: OS OLHARES E A MEMÓRIA” Moderador: Dr. Carlos Trindade, Departamento das Migrações da Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses/Intersindical (CGTP/IN) A/ Omissões na Visão e Presenças na Memória : Prof. Doutora Maria Beatriz Rocha-Trindade, da Universidade Aberta – Centro de Estudos das Migrações e das Relações Interculturais (CEMRI). B/ Um olhar a partir do Continente Europeu : Dr. José Rebelo Coelho, Conselheiro social da Embaixada Portuguesa em Berlim, na Alemanha. C/ Um olhar a partir do Continente Americano : Pe. John Jack Oliveira, Ex-consultor nacional da Conferência Episcopal dos Estados Unidos da América. 11.15h – Intervalo 11.30h – Debate 15.00H – 2º PAINEL: “MIGRAÇÔES: REDES SOCIAIS – SOLIDARIEDADES – INTEGRAÇÃO” Moderador: Ir. Isabel Rosário D. Martins, Comunidade do Luxemburgo. A/ Das Redes sociais simples às Redes transnacionais: conciliar Espaços de pertença e integração : Prof. Doutor Jorge Macaísta Malheiros, Universidade de Lisboa – Centro de Estudos Geográficos (CEG). B/ A Família e os conflitos intergeracionais : Dr. Joaquim Nunes, Assistente pastoral na Comunidade de Mainz-Offenbach, na Alemanha C/ A Participação cívica e o Associativismo : Dra. Manuela Aguiar, ex-Deputada e Presidente da Sub-Comissão para as Comunidades Portuguesas da Assembleia da Republica (SCP). D/ O Trabalho, os Deveres e os Direitos : Dr. Manuel Beja, Conselho Permanente do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP) 16.30h – Intervalo 17.00h – Debate 18.30h – Celebração Eucarística, preside D. Armindo Lopes Coelho, Bispo do Porto, pelos Missionários, Capelães, Religiosas e Leigos falecidos 21.30h – Espectáculo Musical Inter-cultural aberto à Cidade, com a participação de grupos das Comunidades migrante e portuguesa, organizado pelo SDPM do Porto. DIA 30 DE MARÇO DE 2005 – QUARTA-FEIRA 9.30H – 3º PAINEL: “OLHAR RETROSPECTIVO SOBRE A ACÇÃO DA IGREJA NAS MIGRAÇÔES: EXPERIÊNCIAS VIVIDAS E NOVOS CAMINHOS” Moderador: Pe. Manuel Gonçalves, Universidade Católica de Angola (UCA). A/ Emigrantes e Cidadania : D. Manuel da Silva Martins, bispo emérito de Setúbal, vogal da Comissão Episcopal de Migrações e Turismo (CEMT). B/ O futuro da Missão Católica numa Sociedade Multicultural : Pe. Manuel Nobre Soares, Secretariado Diocesano da Pastoral de Migrações de Setúbal (SDPM). C/ Presença nas Estruturas e Movimentos da Igreja local : Dr. José Coutinho da Silva, Serviço Nacional da Pastoral dos Migrantes de França (SNPM). 11.00h – Intervalo 11.15h – Debate 15.00H – 4º PAINEL: “OLHAR CRÍTICO SOBRE A ACÇÃO DA IGREJA NAS MIGRAÇÔES: RELACIONAMENTOS E REDES DE INSERÇÃO” Moderador: Pe. Carlos Gabriel, da Comunidade de Benoni-Joanesburgo, na África do Sul A/ A Igreja católica perante as migrações internacionais. Intervenção na formação de redes e de laços sociais : Prof. Doutora Maria Engrácia Leandro, Universidade do Minho – Instituto de Ciências Sociais (ICS). B/ Desenvolvimento Cultural e Social : Pe. Abílio Cardoso, ex-missionário em França e nos Estados Unidos da América. C/ Regresso ou Re-emigração? : Sr. Victor Martins da Silva e Sra. Maria Arlinda O. Pinhal, casal da Venezuela. 16.30h – Intervalo 17.00h – Trabalho de Grupos / Workshops temáticos 18.00h – Plenário 19.00h – Celebração Eucarística, preside o Cardeal Stephen Fumio Hamao, em memória do padroeiro dos migrantes, Beato João Scalabrini no centenário da sua morte (1905). DIA 31 DE MARÇO DE 2005 – QUINTA-FEIRA 9.30H – 5º PAINEL: “MOBILIDADE E CIDADANIA: RECONCEPTUALIZAÇÃO DA CONDIÇÃO MIGRANTE” Moderador: Pe. John Cabral, missionário da Comunidade de Toronto, Canadá A/ Diversidade cultural e os novos direitos de Cidadania : Prof. Doutora Ana Paula Beja Horta, da Universidade Aberta – Centro de Estudos das Migrações e das Relações Interculturais (CEMRI). B/ Nova Evangelização e desafios à “Igreja de origem” à luz da Instrução “Erga Migrantes Caritas Christi” : Card. Stephen Fumio Hamao, Conselho Pontifício para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes (CPPMI). C/ A acção de “advogacy” e a Convenção ONU para a Protecção dos Direitos dos Trabalhadores Migrantes e suas Famílias : Dra. Mariette Grange, Internacional Catholic Migration Comission (ICMC). D/ O Estudo da Mobilidade Humana e a Formação específica na Igreja : Pe. Geraldo Finatto, da Capelania dos Portugueses na França, em representação do Scalabrini International Migration Institute (SIMI). 10.45h – Debate 11.15h – Intervalo 11.30h – Apelo e Recomendações 11.45h – Sessão de Encerramento Moderador: D. António de Sousa Braga, bispo de Angra do Heroísmo, vogal da Comissão Episcopal de Migrações e Turismo (CEMT). – Intervenção do Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, Cardeal-Patriarca D. José da Cruz Policarpo – Presidente do Conselho Pontifício para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes, Cardeal D. Stephen Fumio Hamao. – Director-Geral dos Assuntos Consulares e das Comunidades, Emb. Dr. José Duarte Sequeira e Serpa – Alto-Comissário para a Imigração e Minorias Étnicas, Pe. António Vaz Pinto

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