«Temos de voltar a uma economia justa, que inclua todos» – Teresa Paiva Couceiro
Lisboa, 22 abr 2020 (Ecclesia) – A Fundação Gonçalo da Silveira (FGS) associou-se ao ‘Manifesto por uma recuperação justa e sustentável,’ que quer “alertar que o investimento não pode ser feito da mesma forma” no pós-pandemia, com 93 organizações e personalidades da sociedade portuguesa.
“Temos obrigação de alertar que para investimento sejam feitos de forma justa, sustentável. Investir no futuro, em empresas, em negócios, em pessoas que pensam de forma sustentável, que inclua a preocupação com recursos naturais, do futuro das pessoas, o cuidado com a natureza, com o amanhã. Se continuamos só numa lógica de gastar, usar e não ter cuidado voltamos ao mesmo”, disse Teresa Paiva Couceiro à Agência ECCLESIA.
A diretora da Fundação Gonçalo da Silveira afirma que “o investimento não pode ser feito da mesma forma”, após o final da crise provocada pelo Covid-19.
“Temo que o foco vai ser uma recuperação económica sem olhar às questões que levaram a esta situação, como a ambiental. Um manifesto como é este é tão importante nem que seja para alertar que o investimento não seja, por exemplo, em empresas de investimento fósseis”, analisou a responsável pela organização não-governamental para o desenvolvimento católica.
O estado pré-pandemia não é algo a que desejemos voltar, e uma recuperação económica justa e sustentável é o único caminho para promover a criação de emprego digno e garantir a saúde e o bem-estar dos portugueses”.
(Manifesto por uma recuperação justa e sustentável)
Teresa Paiva Couceiro explicou que na FGD sentiram-se “muito alinhados com o discurso do manifesto” e recorda que “os termos sustentabilidade e proteção da natureza” não apareceram no discurso do Governo português, “dos ministro e dos especialistas”, sobre o momento de “começar a ter uma recuperação” e “voltar a uma nova normalidade pós-Covid-19”.
“Temos de voltar a uma economia justa, que inclua todos, não foi uma questão nem só económica, só social, nem só de saúde, foi uma situação que tem de incluir toda a gente, mas sobretudo um olhar para os diversos setores de uma maneira conjunta e uma resposta conjuntural e sustentável”, desenvolveu.
Neste contexto, salientou que é preciso “uma integridade ecológica” e parar de “dar cabo dos recursos naturais”, e “só desbravando” a natureza, “não respeitando”.
A diretora da FGS referiu também que é preciso analisar a forma como se vai sair do isolamento social, com mudanças na “maneira de trabalhar” e mesmo na diminuição das viagens, “das pegadas ecológicas, pode ter repercussão no aumento da tecnologia que implica o uso de matéria-prima que pode implicar exploração em terras como no Congo”.
O ‘Manifesto por uma recuperação justa e sustentável’ congrega 93 organizações e personalidades da sociedade portuguesa e Teresa Paiva Couceiro destaca que “uma das forças é” esta diversidade, ter mobilizado “três setores, as empresas e ONGD e pessoas”.
“Três grupos diferentes na missão, mas um fim igual: transformar o mundo para melhor, onde possamos todos viver com paz, segurança e realização”, destacou.
A diretora da FGS salienta que “é preciso modelo diferente económico”, cada um a partir do seu setor – a “economia de proximidade” onde as ONGD estão mais ativas, as empresas “em economia mais agressiva”, e as pessoas “que têm influência na definição de pensamento”.
Na celebração do Dia Mundial da Terra, o Papa quis alertar para a destruição da natureza e o perigo que essa devastação representa para a humanidade: “Não há futuro para nós se destruirmos o ambiente que nos sustenta”.
“O Papa diz que falhamos enquanto guardiões da terra. Foi um murro no estomago, quando vemos as coisas escritas no papel é aflitivo. Se queremos cuidar da terra, da casa, tudo tem de mudar e este dia alerta-nos para um investimento no bem-comum, naquilo que somos e naquilo que temos, temos de transformar para melhor”, desenvolveu Teresa Paiva Couceiro.
A entrevistada observa que comemorar o ‘Dia da Terra’ alerta para “a preservação dos recursos naturais do planeta”, e o manifesto, a ‘Carta da Terra’ e a encíclica papal ‘Laudato Si’ “é tudo para chamar a atenção”, e este período de confinamento por causa da pandemia do coronavírus Covid-19 incentiva a uma mudança “de atitude e de relação com a natureza, com o mundo, a maneira de estar na vida
A ONGD católica Fundação Gonçalo da Silveira foi criada pela Província Portuguesa da Companhia de Jesus (Jesuítas) e atua, por exemplo, na formação de educadores, na reflexão e produção de conhecimento sobre transformação social, no contributo para a “definição de políticas públicas e na promoção do bem-estar de diversas comunidades”.
CB/OC