Portugal entra na rota das caricaturas de Maomé

O jornal “Público” reproduz hoje três das 12 caricaturas de Maomé publicadas pelo jornal dinamarquês “Jyllands-Posten”, colocando assim Portugal na lista dos países que as divulgaram. José Manuel Fernandes, director do periódico, justifica a decisão “para que os leitores possam tomar conhecimento do que se está a discutir”, mas nega ter qualquer obrigação de “repetir a «provocação» por dever de «solidariedade»”. O dossiê, com cinco páginas, tem uma peça intitulada “Religiões reclamam direito ao protesto”, na qual o director da Faculdade de Teologia da UCP, Pe. Peter Stilwell, lembra que a bandeira e o hino nacional “não estão disponíveis para qualquer uso”. A publicação, a 30 de Setembro, pelo “Jyllands Posten” de 12 caricaturas do profeta Maomé – cuja representação gráfica é proibida no Islão -, está a motivar vários protestos no mundo muçulmano. O secretário-geral da ONU reagiu ontem à controvérsia gerada, declarando que a liberdade de expressão deve respeitar a religião e apelando ao diálogo pacífico para resolver o problema. A Santa Sé tem mantido um silêncio prudente a este respeito, mas o Cardeal Achille Silvestrini, prefeito emérito da Congregação para as Igrejas Orientais, já lembrou que é possível admitir sátiras sobre “usos ou costumes” dos muçulmanos, mas não sobre “o Corão, Alá ou o seu Profeta”. O Cardeal, de 82 anos, é um dos especialistas mais respeitados na Igreja Católica quando o assunto é o mundo árabe. “Diria que se pode compreender a sátira sobre os padres, por exemplo, mas não sobre Deus”, exemplificou, em entrevista ao jornal italiano “Il Corriere della Sera”. Sátira? Se for inteligente… O secretário do Conselho das Conferências Episcopais da Europa (CCEE), que engloba os episcopados católicos de quase todo o Continente, defendeu que a sátira só faz sentido “quando não ataca o outro” e é “inteligente”. Falando hoje à Rádio Vaticano, D. Aldo Giordano assinalou que “todo o mundo cristão está triste com as ofensas feitas aos seus irmãos de outras religiões”. O prelado lembra que não é possível satirizar “os fundamentos de uma fé religiosa” sem que isso fira os sentimentos dos fiéis. Nessa linha, assinala que a própria liberdade de imprensa está limitada e não pode “atingir os direitos das outras pessoas”. “Nesta questão é preciso ter inteligência, perceber quem é o outro que se está a atingir”, apontou. Procurando explicar a dimensão dos protestos no mundo muçulmano, que surpreendem a Europa, D. Aldo Giordano assinala que, no Cristianismo, há um “Deus incarnado, que se expõe”, recordando que, mesmo nos Evangelhos, Jesus aparece “exposto à sátira dos seus contemporâneos”. Essa diferença cultural deve, segundo o secretário do CCEE, ser compreendida pelo mundo Ocidental.

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