Portugal em risco

Ano Internacional dos Desertos e Desertificação A opinião pública portuguesa tem vindo a acordar, progressivamente, para os riscos da desertificação em várias zonas do país. A seca, uma das expressões mais claras da desertificação, tem gerado uma onda de preocupação, dado afectar quase todo o território nacional, com as situações mais graves a registarem-se no interior do Alentejo e no nordeste de Trás-os-Montes. O presidente da Câmara Municipal de Bragança, Jorge Nunes, refere à Agência ECCLESIA que, para sensibilizar as pessoas para o valor primordial da água, “temos trabalhado com as escolas e alertamos os alunos para a importância dos recursos hídricos”. “Desenvolvemos com as escolas uma acção que designamos “A palavra aos mais novos” – estilo assembleia municipal – onde os jovens das escolas do 1º ciclo preparam temas e os discutem. Nas últimas assembleias, estes têm discutido o tema da água”, relata. No nordeste transmontano existem poucas reservas de água para abastecimento público, pelo que a ajuda da população é indispensável. Recentemente, a Câmara promoveu uma campanha de sensibilização para as pessoas pouparem água e “tivemos resultados muito positivos” porque “verificámos uma redução de consumo”, aponta Jorge Nunes. Situação semelhante é a que se vive no Alentejo. O Pe. Domingos Pereira, vigário-geral da Diocese de Beja, destaca a importância das acções desenvolvidas pela Cáritas, apesar de admitir que não há um projecto concertado na Diocese. A inauguração do Alqueva prometia mudanças profundas na região, mas o responsável admite que “para estes anos mais próximos temos dúvidas”. “Não tem havido empreendimentos”, lamenta. O Pe. Domingos Pereira estranha que as populações sejam “postas completamente à margem de qualquer iniciativa” de aproveitamento da barragem. “O lago, neste momento, ainda é uma coisa que lá está morta, por enquanto ainda não rega nada”, critica. O vigário-geral da Diocese de Beja não poupa palavras para lamentar o “esquecimento voluntário, político” a que é votado o Baixo Alentejo. Ângela Almeida, Presidente da Acção Católica Rural (ACR), confessa à Agência ECCLESIA que “temos muitos militantes (essencialmente do interior) preocupados com as questões ambientais”. “A nossa Revista “Mundo Rural” aborda com frequência o tema da ecologia e é eco do trabalho realizado nestes domínios”, para além de promover campanhas de sensibilização para a poupança da água, explica. Carlos Neves, militante da ACR e membro de uma associação de jovens agricultores mostra-se particularmente preocupado com a situação do mundo rural. “É terrível o que acontece no nosso país em relação à floresta. Situações que resultam do desleixo e da incúria das pessoas”, alerta. “Temos que gerir melhor a água e tomarmos consciência que ela é um bem essencial. Há muita água que não é aproveitada”, prossegue. Despovoamento O despovoamento (desertificação humana) é uma das expressões da desertificação que mais se sentem em Portugal. Para Carlos Neves, seria essencial “propor ao Governo para que crie condições para a fixação de jovens no meio rural”. “É preciso que os agricultores sejam apoiados financeiramente – como às vezes acontece – mas também do ponto de vista psicológico”, adianta. No Alentejo, assegura o Pe. Domingos Pereira, “as pessoas estão a fugir porque não há nada”. O mesmo se vive no nordeste transmontano. “Os municípios de Trás-os-Montes não podem fazer muito mais para que a população não abandone o território”, lamenta o presidente da Câmara Municipal de Bragança. “Quem tem de fazer muito é o governo e desenvolver políticas de âmbito nacional – com incidências regionais – que criem mais postos de trabalho nesta área”, acrescenta Jorge Nunes. Em conclusão, o edil lembra que “se as aldeias perdem gente, o território fica mais abandonado e mais vulnerável aos incêndios”.

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top