Investigador da UCP fala em perda de capital humano que pode comprometer recuperação da crise
Lisboa, 11 ago 2014 (Ecclesia) – O professor Francisco Branco, coordenador da área de Ciências Sociais na Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica, diz que Portugal tem de olhar com mais atenção para a “sangria” que é a emigração dos jovens, motivada pela crise.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, o docente sublinha que estancar a delapidação do “capital humano dos jovens, muitos deles licenciados e com formação superior” deveria ser uma prioridade.
Até porque “Portugal não vai conseguir sair da situação em que se encontra sem dispor de um capital humano qualificado, e esse é um dos grandes problemas”, aponta aquele responsável.
Atualmente, o desemprego juvenil cifra-se entre os 40 e os 45 por cento, uma “taxa gravíssima” que tem levado “um contingente muito significativo de jovens a saírem” do país.
Paralelamente a estes dados, o investigador do Centro de Estudos de Desenvolvimento Humano da UCP alerta para o impacto que a crise e a consequente “inevitabilidade da emigração” estão a ter ao nível do equilíbrio das famílias.
“Se por um lado”, o recurso à emigração “permite a sustentabilidade económica da família, que de outra forma seria crítica”, ele “coloca problemas de acompanhamento, de sociabilidade familiar, de educação dos filhos”.
Toda esta indefinição no seio dos agregados “tem impactos sociais muito complexos”, complementa Francisco Branco.
Apesar de uma “perspetiva de retoma, de crescimento” ter estado em cima da mesa, os últimos tempos mostrarem que os problemas económicos “não estão resolvidos”.
Mesmo “depois de uma intervenção de um programa de assistência não estão resolvidos”, reforça o investigador, que alerta para “fenómenos que podem fugir ao controlo do país, de natureza económica, financeira, e comprometer os equilíbrios financeiros que estavam alcançados”.
Seguro é que, sem essa “perspetiva de retoma, de dinamização da economia, a geração de emprego não vai acontecer” o que poderá tornar a situação das pessoas insustentável “a médio e longo prazo”.
Para Francisco Branco, é necessário que haja uma “orientação das políticas públicas”, em consonância com o “quadro europeu”, que “permita reverter a situação”.
Ao mesmo tempo, o investigador considera “fundamental que, do ponto de vista das políticas sociais”, o Governo inverta a linha que tem seguido, em termos da “fragilização dos apoios concedidos aos setores mais vulneráveis da sociedade”.
Em causa estão por exemplo os cortes que foram feitos nos subsídios de desemprego e de reinserção social, e também nas pensões e reformas.
“Se é verdade que as políticas sociais são sustentadas pelo orçamento de Estado e pelos recursos do país, é um pouco paradoxal que, nas situações de maior dificuldade, se estejam a fazer cortes na despesa social que pode permitir enfrentar situações de vulnerabilidade que são muito graves”, conclui o investigador da UCP.
A Igreja Católica em Portugal está a assinalar até domingo a Semana Nacional das Migrações, este ano dedicada ao tema ‘Migrações: rumo a um Mundo melhor’.
LS/JCP