Bispos católicos publicam reflexão sobre sociedade a construir no pós-Covid-19
Fátima, 17 jun 2020 (Ecclesia) – A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) publicou hoje uma reflexão sobre a sociedade a construir no pós-Covid-19, alertando para uma crise económica e social sem paralelo, por causa da pandemia.
“Como consequência indireta da pandemia Covid-19, espera-nos uma crise económica e social de uma dimensão que não tem paralelo na história mais recente. É de prever que o desemprego e o agravamento da pobreza atinjam níveis muito elevados”, refere o documento, divulgado no final da Assembleia Plenária que decorreu desde segunda-feira, em Fátima.
O texto aponta para o aumento dos pedidos de ajuda para bens alimentares, “que se têm multiplicado como nunca se viu no passado recente”, e apela a um esforço conjunto entre empresários e trabalhadores, para fazer face ao drama do desemprego.
A CEP sublinha que esta crise levou a uma redescoberta da importância do papel do Estado e dos serviços públicos, em particular na área da saúde, destacando que “as despesas com esses serviços não são supérfluas ou facilmente dispensáveis”.
A pandemia pôs a descoberto o perigo de manter pessoas em situação de miséria, como os sem-abrigo, os imigrantes recentes e requerentes de asilo, bem como os habitantes de bairros de lata ainda infelizmente presentes no nosso país”.
O texto sublinha que o confinamento, “com todas as limitações que acarretou”, salvou “muitas vidas” e elogia o esforço acrescido de solidariedade, que se vê na sociedade, na “redescoberta do valor inestimável de cada vida humana.
“A morte não teria remédio, a crise poderá tê-lo nos seus aspetos mais dramáticos com esse esforço acrescido e inédito de solidariedade. Sem a solidariedade efetiva nunca conseguiríamos vencer esta crise”, pode ler-se.
“Manifestamos o nosso apoio às iniciativas das Cáritas (Paroquial, Diocesana e Portuguesa), das Conferências Vicentinas e de tantos outros movimentos e associações, bem como à disponibilidade para implementar e ampliar a partilha de bens”, escrevem os bispos.
O episcopado elogia o esforço desenvolvido pelas Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS), alertando que o Estado “nem sempre tem atualizado as comparticipações devidas”.
Não pode deixar de lamentar-se que muitas das mortes provocadas por esta pandemia tenham ocorrido em lares de idosos, mortes que, porventura, poderiam ter sido evitadas se esses lares tivessem beneficiado de outros apoios”.
A reflexão intitulada “Recomeçar e Reconstruir” pede que as medidas do desconfinamento sejam guiadas por “critérios éticos”, distinguindo “exigências de curto prazo e excecionais e o que são opções de mais vasto alcance”.
A solução de recurso do ensino à distância veio acentuar desigualdades, pois nem todas as famílias dispõem dos necessários meios informáticos, nem da capacidade de suprir funções que são próprias dos professores”.
A CEP aponta o dedo ao debate sobre a eutanásia, realçando que durante a pandemia ficou claro que “toda a vida humana tem um valor inestimável, a vida de um idoso ou de um doente, mesmo que com menor expetativa de anos pela frente”.
Não podemos deixar de anotar como a legalização da eutanásia e a mensagem cultural que essa legalização acarreta contraria notoriamente estas lições e redescobertas, relativas ao valor inestimável de cada vida humana e à nobreza da missão dos profissionais de saúde”
O texto deixa um convite a repensar o sistema económico e social, por uma “economia mais amiga do ambiente” e pela “globalização da solidariedade”.
“A reconstrução económica e social que se seguirá a esta pandemia e à crise que dela é consequência direta deve evitar destruir o que a globalização tem de positivo e, ao mesmo tempo, corrigir o que ela tem tido de negativo”, refere a CEP.
Os bispos portugueses sublinham que é necessário tornar universal o acesso à futura vacina contra a Covid-19, convidando ainda a União Europeia a “agir como verdadeira comunidade, e não como simples conglomerado de interesses contrapostos em busca de compromissos”.
A CEP decidiu celebrar a nível nacional uma Eucaristia em sufrágio das vítimas da pandemia em Portugal, no final da próxima Assembleia Plenária de novembro, no Santuário de Fátima.
OC