Pe. Lino Maia, director do Secretariado Diocesano de Pastoral Social, explica mudanças
Contribuir para a promoção de menores, carecidos de lares familiares, incutindo-lhes hábitos de trabalho e assegurando-lhes a formação humana e o aperfeiçoamento das próprias aptidões, através do ensino profissional de um ofício e da educação moral e religiosa que lhes permitisse garantir o futuro era o objectivo do Padre Sebastião Leite de Vasconcelos quando, em 1883, fundava a Oficina de S. José (do Porto). Apoiava-se no espírito e nas obras educativas promovidas por S. João Bosco a favor dos jovens mais pobres e abandonados da sociedade. Nomeado como bispo de Beja em 1907, o fundador despediu-se da obra que, então, entregou à diocese em que se ordenara.
Outras instituições homónimas espalhadas pelo país a partir dos anos 80 do século XIX encontrariam directamente a sua inspiração nesta Oficina de S. José.
Ao longo dos anos, muitas foram as crianças ali acolhidas. O coração, a alma e as instalações eram grandes. Simultaneamente, chegou a ter uma centena. Procediam das situações mais diversas: meninos cujas famílias ali acorriam pela confiança que a Instituição lhes merecia e meninos pobres. A maioria provinha de situações da maior carência: abandono, desestruturação familiar, orfandade e pobreza. Todos encontravam naquela casa condições para crescer. Integralmente. Recomendavam-se a localização (privilegiada), as instalações (amplas), os educadores (com afecto para os valores) e o projecto educativo (de cada época). Havia estudo, formação cívica e formação moral. Também ali alguns faziam os primeiros ensaios para o exercício de uma actividade em ordem à autonomia. Com afirmação de excelência: por exemplo, em carpintaria e, sobretudo, tipografia e artes gráficas. E quantos dali saíram com arte, engenho e método para se afirmarem na sociedade ou para cursarem estudos superiores! Muitos ainda estão por aí a dar um preciosíssimo contributo à sociedade…
Claro que em todos estes anos houve um ou outro caso menos dignificante. Com olhares de hoje (talvez efémeros), poderão ter sido maus-tratos ou abusos. Porém, sem expressão em número numa Instituição por onde passaram centenas e centenas de meninos. E, sabendo como é um processo de crescimento, qual é a família estruturada que se perfila para atirar a primeira pedra?
Os tempos mudaram e muita coisa mudou na Oficina de S. José. A inserção no meio aconselhou a frequência da escola no exterior, encerraram as actividades laborais para acautelar qualquer tipo de “trabalho infantil” e os jovens ficaram com menos laços com os educadores internos e com mais tempo de “organização pessoal”.
Entretanto, as condições que outrora conduziam à Oficina já não são as mesmas: ali chegam exclusivamente rapazes colocados pela Segurança Social ou pelos serviços da Justiça. Mais velhos e progressivamente menos. Alguns talvez arrancados à pré-marginalidade. Uma Instituição com amplas instalações vê as suas oficinas degradarem-se e os seus espaços com ocupação reduzida.
Aliás, é irreversível: as Instituições de acolhimento de crianças e jovens devem ser pequenas, enquanto os diagnósticos revelam que, ao mesmo tempo em que diminui significativamente o número de crianças e jovens nas Instituições, aumenta a idade em que chegam lá. Com tudo o que isso implica. A acrescentar a tudo isso, há uma gestão centralizada de vagas…
Num futuro que já começou, algumas Instituições de acolhimento terão de ser repensadas. Até porque a vocação de muitas não é propriamente para aquilo que hoje lhes é pedido.
A actual direcção da Oficina de S. José soube ler as tendências da história e o Bispo do Porto decidiu que, doravante, não sendo tão necessária como Instituição de acolhimento (os poucos jovens que ainda ali restam terão colocação garantida), a Oficina de S. José é mais necessária como Instituição de formação para a vida activa. Integrada na Obra Diocesana de Promoção Social, cumprirá melhor essa sua vocação. Opera-se uma reconversão. Os trabalhadores serão respeitados. O assegurado acordo com o Instituto do Emprego e Formação Profissional será um instrumento.
Se outras instituições do país se inspiraram outrora na Oficina de S. José do Porto, outras virão agora segui-la na sua nova peugada. Ontem com um fundador que se fez bispo, hoje com um homem clarividente e sensível como é o Bispo do Porto.
Lino Maia