Cristãos esperam processos de transformação que vençam «a inércia sem cair na ideologia da mudança, nem na mera cosmética»
Porto, 20 Jun 2022 (Ecclesia) – Os elementos da comissão sinodal da Diocese do Porto concluíram, após a análise às respostas recebidas, que o clericalismo é “um obstáculo à escuta e à mudança”.
“O clericalismo de padres, diáconos e leigos é um obstáculo à escuta e à mudança e parte do clero não anuncia, não pratica o Evangelho e os valores de Cristo, procuram a ostentação e a riqueza e não seguem as orientações da Igreja”, refere a síntese da Diocese do Porto em relação ao Sínodo dos Bispos.
Para preparar a assembleia geral ordinária do Sínodo dos Bispos, que vai decorrer em outubro de 2023, e que tem como tema «Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão», as pessoas que participaram têm “a esperança de que daqui resultem verdadeiros processos de transformação, que vençam a inércia sem cair na ideologia da mudança, nem na mera cosmética”, lê-se no documento.
O desejo de alargar a consulta aos âmbitos “menos tradicionais do espaço eclesial pediria uma mobilização nacional, com ampla divulgação nos meios de comunicação, fazendo da consulta um acontecimento público, mas “como assim não aconteceu, a possibilidade de escutar as periferias e a sociedade em geral cingiu-se às estruturas eclesiais que já têm trabalho nesses âmbitos, chegando a níveis de participação bastante discretos”, realça a síntese.
A comunicação é um “aspeto fundamental a qualquer caminho sinodal”, que, para o futuro, deve ser trabalhado com uma “estratégia sólida e uma persistência sem tréguas”.
O documento sublinha que “algumas comunidades” foram “bastante criativas no modo de gerar participação”, usando os dois modos de encontro de grupo e questionário individual, com a colocação de pontos de recolha de respostas em lugares públicos, ainda que “o nível de participação registado seja modesto”.
Dos temas mais debatidos, o primeiro que se destaca é o que engloba tudo quanto se refere “à pouca participação na vida eclesial, sobretudo dos jovens que se sentem pouco tidos em conta, mas também dos jovens adultos que muitas vezes se sentem cansados e sem tempo”.
“O desinteresse dos jovens e a rutura com a moral cristã, são referidos pela maioria”, acrescenta.
Depois da reflexão e análise sente-se também que “é pouco valorizado o compromisso cristão na vida profissional, sem envolvimento em grupos mais formais”.
“A pouca participação sente-se ainda, de modo especial, na diminuição da frequência da Eucaristia”, lê-se no comunicado.
Da participação litúrgica, mormente na Eucaristia, emerge um segundo tema que é o da “dificuldade de encontrar uma linguagem compreensível, nas palavras e sinais”. “Manifesta-se o desejo de maior cuidado na preparação das celebrações, que se querem atuais, alegres e significativas, e sobretudo das homilias. A homilia é muito apreciada e, por isso, ao mesmo tempo, muito criticada”.
Para que não seja uma Igreja só de alguns, discute-se a necessidade “de escutar e acolher, até porque estas situações tocam de perto as famílias todas”.
“Também fraturantes são as propostas abundantes de tornar opcional o celibato dos sacerdotes e da ordenação de homens casados e de mulheres. De perto com estas propostas, anda a preocupação pela diminuição do número de sacerdotes, muito ocupados com tarefas administrativas e pouco disponíveis”, salienta o documento.
A questão dos abusos sexuais no seio da Igreja e o modo de a tratar é “tema recorrente e debatido, com preocupação e desejo de maior transparência e celeridade”.
“A abertura da Igreja aos sinais dos tempos e à sociedade, a sua falta de visibilidade no espaço público, o aparecer ainda ligada ao poder, o uso dos meios de comunicação, a falta de compromisso e testemunho dos cristãos, a necessidade de transparência na vida eclesial, sobretudo nas questões económicas, a necessidade de formação, sobretudo bíblica, para todos, mesmo para os sacerdotes, são outros tantos temas relevantes, entre muitos que ficam por referir”, aponta o documento.
LFS