Porto: Homilia da Ceia do Senhor de D. António Francisco Santos

Irmãos e Irmãs,

1.Na tarde desta Quinta-Feira reunimo-nos na nossa Igreja Catedral, trazidos pelo desejo de aprender o exemplo de Jesus e de cumprir este imperativo do Mestre: “Dei-vos o exemplo, para que, assim como Eu fiz, vós façais também” (Jo 13, 15).

Também nós desejamos ardentemente, como Jesus, celebrar esta Ceia pascal. É a Páscoa do Senhor que hoje se evoca, que hoje começa e que hoje se renova em perene memorial da nova e eterna Aliança. Uma Aliança firmada e enraizada na fidelidade do Povo de Israel, salvo da opressão do Egito e conduzido à Terra da Promessa e da Liberdade.

Mas a Aliança nova, hoje celebrada, conduz-nos à plenitude da vida de Cristo, por nós entregue, e do seu Sangue, por nós derramado. Hoje tem pleno sentido e mais vivo significado a palavra de Jesus, dita aos seus discípulos: “Fazei isto em memória de Mim”. (1 Cor. 11, 24).

Este é, por excelência, o dia da Eucaristia, o dia do Sacerdócio e o dia do Mandamento Novo que nasce da Eucaristia e de que os sacerdotes devem ser infatigáveis mensageiros e exemplares servidores. A Igreja é chamada a alimentar-se da Eucaristia para ser capaz de anunciar, celebrar e testemunhar esta capacidade de um amor sem fronteiras nem limites, sem cálculos nem medos.

2. No percurso histórico da vida da Igreja, atravessando épocas de civilização tão diversificadas e momentos de cultura tão diferentes, é na Eucaristia que a Igreja diariamente se edifica, se alimenta e se congrega, para que se torne fonte de vida para os crentes, sinal de salvação para o mundo e alimento de pão partilhado com os pobres e de esperança multiplicada com os que sofrem.

Convido os sacerdotes, diáconos, consagrados(as), leigos e leigas de toda a Diocese a lermos e a aprofundarmos em sede de grupos e movimentos apostólicos e nos percursos das nossas Comunidades cristãs a Exortação Apostólica do Papa Francisco “Alegria do Evangelho”.

O magistério da Igreja deve ser sempre fonte de sabedoria e de santidade a iluminar a inteligência dos crentes, a orientar o sentido da vida das comunidades e a estabelecer pontes de diálogo entre a fé e a cultura, entre a Igreja e a Sociedade, particularmente nestes tempos difíceis para muitos dos nossos irmãos.

3.A missão da Igreja consiste essencialmente nisto: anunciar a alegria do evangelho ao mundo, faminto de verdade, à procura de caminhos de liberdade e tantas vezes em desencontros múltiplos com a vida e celebrar os mistérios sagrados da nossa fé, de que a Eucaristia é o centro e o vértice. A Eucaristia dá-nos Cristo: “caminho da verdade e da vida” (S. Agostinho).

Como podem os cristãos evangelizar o mundo se não lhe oferecem Cristo, como alimento da verdade e da vida?

Como pode a Igreja ser sacramento de amor celebrado na Eucaristia se não alimentar nos cristãos o amor pelos sacramentos em procura assídua e em vivência espiritual aprofundada?

A Páscoa antiga passou. Já não há necessidade do cordeiro imolado. Ele era apenas figura da nova e eterna aliança, realizada em Cristo e celebrada em cada Eucaristia. “Cristo é o verdadeiro Cordeiro pascal, Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”.

4. Como podem as famílias cristãs crescer na fé sem a Eucaristia? Como podem as nossas Comunidades ajudar as famílias e os seus filhos a consolidarem um verdadeiro itinerário catequético de iniciação cristã se as famílias não acompanham as crianças nesta experiência comum da participação da Eucaristia?

Receber o Batismo, a Confirmação e abeirar-se pela primeira vez da Eucaristia são momentos decisivos não só para a pessoa mas também para toda a sua família.

A família – igreja doméstica – é um âmbito primeiro da vida da Igreja, especialmente pelo papel decisivo que tem na educação dos filhos.

A Eucaristia é verdadeiro pão repartido para a vida do mundo, alimento da verdade e resposta a tantas procuras e carências da Humanidade. A Eucaristia é alimento de uma vida nova, mas pressupõe, também, a vivência da novidade da vida iniciada em nós pelo batismo.

5. “Dou-vos um mandamento novo: amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 15, 12), disse Jesus aos discípulos reunidos no Cenáculo, nesse momento sublime de maior confidência antes da hora da paixão, da condenação e da morte.

Uma das formas mais benéficas e preciosas da Igreja cumprir este mandamento e de viver hoje a pedagogia do serviço de que o lava – pés é exemplo emblemático, consiste em proporcionar com renovado e infatigável empenho aos crentes batizados o gosto, o encanto e a beleza da Eucaristia. Consiste em ajudar a sociedade e o mundo a descobrir o imenso e insubstituível contributo que a Eucaristia oferece à celebração da fé na Comunidade, à partilha fraterna dos bens, à atenção solidária com os pobres, à compaixão com os que sofrem, à construção da paz social e da comunhão humana, sem distinções nem descriminações de raças, de culturas ou de povos.

É urgente para os cristãos reencontrar o caminho da Eucaristia e do Cenáculo. A Eucaristia, sacramento do amor de Deus, é sempre a fonte e o início da vida e da missão da Igreja e por aí passa o caminho da justiça, do perdão e da paz para o mundo.

Que Nossa Senhora, Mãe da Igreja, que acolheu incondicionalmente o dom de Deus e desta forma ficou associada à obra da salvação nos ajude a saber acolher a doação que Jesus fez de Si mesmo na Eucaristia. Ámen.

Porto, Igreja Catedral 17 de Abril de 2014

António, Bispo do Porto

 

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