Porto: Encontro com Manoel de Oliveira, Siza Vieira, Valter Hugo Mãe, Jaime Rocha e João Duque foi «memorável»

«É preciso continuarmos a ligar fé e razão, a arte e o sagrado, o invisível e o visível», diz diretor da Pastoral da Cultura da diocese

Lisboa, 11 jan 2012 (Ecclesia) – O diretor da Pastoral da Cultura da diocese do Porto qualifica de “memorável” o colóquio ‘Ver o invisível e dizer o indizível’, que na sexta-feira reuniu em Serralves um cineasta, dois escritores, um arquiteto e um teólogo.

A “iniciativa pioneira e arriscada” realizada no museu de arte contemporânea portuense marcou mais uma etapa no trabalho que a Igreja Católica tem vindo a desenvolver com artistas do Porto em torno da arte e do sagrado”, explica Joaquim Azevedo em texto publicado hoje no site do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura.

Perante um auditório “quase cheio” decorreram duas mesas redondas: na primeira tomaram parte o poeta Jaime Rocha e o teólogo João Duque, que substituiu o previamente anunciado pintor Júlio Pomar.

No segundo painel participaram o arquiteto Siza Vieira, o escritor Valter Hugo Mãe e o realizador Manoel de Oliveira, “uma das surpresas” da tarde.

“O cinema é a expressão do dizível, a música mostra o invisível. O invisível, para mim, são os sentimentos. É a alma, o nosso espírito. É por ai que a gente vive, pelo invisível”, afirmou o cineasta de 103 anos que a Igreja Católica distinguiu em 2007 com o Prémio Árvore da Vida – Padre Manuel Antunes.

O realizador mencionou a espiritualidade que pressente na Casa de Chá de Leça e na igreja de Marco de Canaveses, “duas obras excecionais de Siza Vieira”: a arquitetura da primeira “abre para o infinito, para o transcendente” e a porta da segunda sugere a vida depois da morte.

“A porta, altíssima, parece ser a porta para o céu, e quando se entra o Cristo aparece à esquerda na parte detrás do altar, onde de uma espécie de chaminé desce uma luz, vinda de cima. É uma outra espécie de absoluto, que abre para o além da morte”, observou.

Valter Hugo Mãe, a propósito da criação literária, afirmou: “Escrevo para dizer o que não sei; escrever é ir à procura do que não sei, do melhor que eu posso ser”.

O colóquio “deambulou em torno do ato e do tempo de criar, do modo e da função do processo criativo”, relata Joaquim Azevedo, diretor do Centro Regional do Porto da Universidade Católica Portuguesa.

O poeta “dá vida” ao sofrimento e “narra o que está para lá das coisas, escavando no seu interior”, apontou Jaime Rocha.

Depois de acentuar que “o poeta não produz, dá vida”, João Duque realçou que invisível e indizível estão presentes na obra de arte, na qual é possível encontrar a finalidade da existência.

“É entrando no sentido das coisas que vamos dando a ver a outros esse sentido e descobrindo, continuamente, o que não se vê, mas que está lá para que o vejamos”, disse o teológo.

Joaquim Azevedo considera que a iniciativa “valeu a pena” e refere que no início de 2013 “haverá mais”: “É preciso continuarmos a ligar fé e razão, a arte e o sagrado, o invisível e o visível, afinal tão juntos e tão separados, continuar a perscrutar o sentido destes dias críticos”.

“A Pastoral da Cultura da Diocese do Porto continuará a ser uma promotora deste encontro, uma sementeira de novos possíveis e de um horizonte mais humano para a nossa vida”, assinala o texto.

RJM

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