Ponto com nó

Isabel Vasco Costa, Diocese de Leiria-Fátima

Qual é a costureira que cose sem dar um nó na linha, ou o cirurgião que opera sem usar desinfetantes, ou…? Sem os devidos cuidados, os trabalhos ou não são efetivos (os tecidos não ficam unidos no primeiro caso) ou podem pôr vidas em risco, como no caso dos médicos.

É evidente que as pessoas responsáveis se esforçam por se prepararem bem para exercer as suas profissões, começando por estudar e, depois, ganhar experiência. É neste sentido, o da prudência, que falaremos do “ponto com nó”.

Desde o início da sua vida, as pessoas possuem uma alma espiritual que existe, tem vida e, tal como o corpo, necessita de cuidados para viver bem e feliz. Que fazer então, para “não dar ponto sem nó” no que se refere à alma?

Antes de mais, devemos ter a noção de que corpo e alma foram criados por Deus e estão destinados a permanecerem unidos para sempre. Além disso, as consequências das nossas ações podem ser muito duradouras. A primeira dessas consequências duradouras é a grandiosa capacidade de gerar novas vidas. Assim, todos nascemos e crescemos dependentes de muitas gerações de antepassados. Felizes aqueles que são filhos de pais que “deram o nó”, para se identificarem como pais. Mais felizes serão ainda se estes pais os quiserem batizar fazendo-os filhos de Deus. Neste caso, a identidade destas crianças ficará completa: saberão de onde vêm e para onde vão.

Qual a vantagem em dar este nó de ser batizado em bebé? Não será ir contra a liberdade humana? Acontece que o Batismo é sacramento. Quer isto dizer que o sinal da água a escorrer sobre a cabeça, é o sinal sensível e eficaz da limpeza da sua alma, neste caso, do pecado original. É também o sinal da sua identidade: é filho de Deus. A partir desse momento, todos os seus atos, sofrimentos, alegrias, êxitos… toda a sua vida passará a ter valor natural e também sobrenatural. Quando, mais tarde, vier a cometer pecados graves, as suas boas obras deixarão de ter valor sobrenatural e os seus pecados funcionarão como um peso na sua alma, dificultando-lhe o caminho para se aproximar do Pai. Felizmente, pode voltar a “dar o nó”, mediante a confissão. Nesta ocasião, as ofensas ficam completamente perdoadas e esquecidas. Mediante a confissão, Deus só se recordará das alegrias que já lhe demos.

Se apenas fomos batizados em idade adulta, Deus vai receber-nos, também de braços abertos, mas só agora esta pessoa lhe poderá chamar Pai. Tudo quanto fez de bom anteriormente, não teve valor sobrenatural. Os pais geram os seus filhos sem lhes pedir opinião. Mesmo assim, já ataram os nós iniciais necessários ao seu bem-estar: a pertença a uma família, a um país, a uma cultura,… Sim, ao nascer estamos incapazes de dar o primeiro nó: os pais, avós ou alguém que nos queira salvar, o fará por nós. Sim, também ao morrer, alguém deverá chamar um sacerdote para podermos dar o último nó.

Tudo isto é são mistérios que nos foi revelados por Cristo. Temos de nos servir do nosso corpo para salvar a alma. Só assim, recebendo os sacramentos, conseguiremos dar firmeza a estes “nós” que nos permitirão alcançar a santidade e ser eternamente felizes no Céu.

No final do mundo, acontecerá o Juízo final. Então, todos conheceremos o resultado das nossas “costuras”, das nossas obras. Quais das linhas que usámos tinham o nó apropriado, permitindo realizar obras perfeitas, acabadas. A linha da educação dos filhos era forte, deu para deixar bons exemplos e virtudes humanas por várias gerações? A linha da família criou ódio ou amizade entre irmãos? A linha do trabalho aliviou carências em civilizações posteriores? A linha dos tempos livres “coseu” sorrisos de alegria e bem-estar em convívios de familiares e amigos? As linhas dos artistas coseram manifestações de cultura e fomes de beleza e verdade, ou produziram imoralidades? Os escritores “coseram” ciência, poesia, sabedoria? Todas estas linhas eram fortes e longas; resistiram? Quantos tecidos (da sociedade), quantas gerações, quantas pessoas foram abrangidas e influenciadas por elas? Só então, no Juízo final, conheceremos quantos dos nossos atos foram “pontos dados com nó”.

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Agência ECCLESIA

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