Políticas pelo Bem Comum

Seminário sobre Doutrina Social da Igreja aponta falta de envolvimento cristão e compromisso pessoal O Bem Comum como conceito base e estruturante da organização social esteve em reflexão na manhã de Sábado num Seminário sobre Doutrina Social da Igreja. A necessidade de a reflexão sobre DSI passar cada vez mais para a formação dos cristãos e das comunidades foi sublinha assim como a urgência de os cristãos se confrontarem diariamente com o pensamento social da mensagem cristã. Manuela Silva, Presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz, organismo que esteve na organização do Seminário, explica à Agência ECCLESIA que a acareação que se pede “implica uma assimilação e um confronto com as práticas contemporâneas do dia a dia”. A DSI deve, cada vez mais, “estar presente no pensamento contemporâneo e no debate público”, aponta a economista. O Bem Comum é um tema nuclear na DSI. No actual Compêndio da DSI, nas suas 583 entradas, 106 referem-se ao o conceito de Bem Comum. Manuela Silva indica que esta noção está no âmago da mensagem evangélica. Propõe “criação de comunidades e de uma ligação solidária profunda entre as pessoas”, elucida. Pois, se há que respeitar a dignidade da pessoa e valorizá-la, “cada indivíduo é relação e comunhão”. O Bem comum orienta precisamente para a relação e comunhão nas formas de organização da vida em sociedade. A Presidente da CNJP indica a importância de ligar a noção do Bem Comum com os Direitos Humanos. “Há uma aceitação generalizada acerca da afirmação dos Direitos Universais mas não está ainda adquirido que para a implementação destes direitos humanos é necessário que existam condições para os realizar”. “O Bem comum como norma de orientação de uma sociedade e da sua governação é um elemento estruturador dessa condições a criar, para que os Direitos Humanos sejam uma realidade vivida por todos”, 60 anos após a aprovação da Carta dos Direitos Humanos. Uma proposta que um conceito em si encerra que, no nosso tempo, se depara com dificuldades várias. “Há uma cultura de raiz egoísta instalada, que impede a percepção de Bem Comum”, explica enumerando exemplos de ordem política e económica que espelham essa ausência. “A centralidade do Bem Comum deve ser critério de aferição das várias políticas e organizações que frequentemente se ficam pelo aspecto instrumental sem questionar as finalidades”. Manuela Silva aponta a necessidade de conhecer melhor a DSI e indica que hoje não faltam instrumentos para esse conhecimento a todos os níveis. Desde a formação catequética das crianças até à formação dos religiosos, dos futuros sacerdotes, dos líderes leigos, “este deve ser um conhecimento prático e não abstracto ou académico”. O pensamento da Igreja nas matérias sociais, “é por definição, um pensamento que evolui”. Baseado em eixos comuns, o pensamento social, para se desenvolver “supõe mediações e reflexão”. Um trabalho que a Presidente da CNJP entrega, “em especial aos leigos para o realizarem no seu quotidiano”. No entanto Manuela Silva admite que também, num nível interno, os líderes pastorais e os párocos deveriam integrar nas homilias esta dimensão. A nível externo, O caminho deve ser feito pelos cristãos que participam na sociedade, através de linguagens e mediações para intervir no espaço público. Manuela Silva reconhece abertura para essa participação e adianta que haverá mais ainda pois as sociedades estão cada vez mais confrontadas com “sérias crises quer ambientais, quer ao nível do esgotamento de recursos, mas também no plano de coesão social”, explica. A economista adianta que a própria democracia “não se sustem se a sua base, que é de igualdade, participação, respeito de direitos humanos, não for alimentada”. “Há variadas plataformas onde os cristãos se encontram com crentes de outras religiões ou sem religião onde é possível estabelecer diálogo a partir de uma antropologia cristã que está presente em toda a DSI”. Mas exige-se dos cristão “maior convicção sobre aquilo em que acreditam”. Manuela Silva aponta que o pensamento social cristão é rico em soluções para os problemas. “Assim haja abertura para aceitar o radicalismo que o pensamento propõe em relação à organização do trabalho, funcionamento das empresas e até política”. A CNJP vai publicar esta reflexão, na linha da aposta reflexiva e de divulgação que tem desenvolvido.

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