Política: «Divórcio» entre cidadãos e instituições europeias preocupa presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz

Pedro Vaz Patto defende maior consciência do bem comum para superar conceções que escravizam o ser humano

Lisboa, 31 mai 2019 (Ecclesia) – O presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP) considera que o nível de abstenção dos eleitores portugueses, na recentes europeias, é sintoma de uma “crise de confiança” no projeto comunitário, já visível no ‘Brexit’.

Há, de facto, uma distância, um divórcio entre o cidadão comum e as instituições europeias”, referiu Pedro Vaz Patto, em entrevista conjunta à ECCLESIA e Rádio Renascença, publicada e transmitida hoje.

O responsável pelo organismo laical, ligado à Conferência Episcopal Portuguesa, considera que além da questão da abstenção, é necessário refletir, a propósito destas eleições, “sobre o que muitos têm definido com a crise mais grave da União Europeia, que é a crise de confiança no projeto de unidade europeia”.

“Penso que há que criar nas pessoas um sentimento de pertença a uma comunidade europeia. O sentimento nacional continua a existir, e o projeto europeu não deve ser visto como oposto a este sentimento nacional, mas deve ser alargado a um âmbito mais vasto”, indica.

Para o presidente do CJNP, o projeto comunitário tem de ser visto numa perspetiva do “bem comum europeu”, não só do “bem nacional”.

Quanto à cobertura mediática da campanha eleitoral, Pedro Vaz Patto defende maior foco em “questões que passam um pouco despercebidas”, libertando a informação do simples registo das audiências.

“São questões que a CNJP pôs em relevo, como a exportação de armas para zonas de conflito bélico por parte países europeus”, exemplificou.

O organismo católico pronunciou-se recentemente sobre a sucessão de casos de violência doméstica, em Portugal, uma situação que Pedro Vaz Patto diz ter origem “na mentalidade, na cultura”, mais do que nas falhas do atual quadro jurídico.

“O que impressiona é que, ao contrário do que às vezes se pensa, que este é um fenómeno próprio de gerações mais velhas, menos instruídas e de zonas rurais, verificamos que não é assim. Há violência no namoro, entre jovens, o que é que leva a que isto aconteça? É uma conceção do relacionamento com o outro muito deturpada, de fazer do outro um instrumento, um objeto. Resolver passa por aí também, por alterar este quadro mental, esta cultura”.

O presidente da CNJP falou ainda da necessidade de alterar o sistema económica, a respeito do encontro que o Papa convocou para 2020, em Assis, com jovens economistas e empresários.

“O sistema económico atual parte do princípio de que verdadeiramente aquilo que move as pessoas é o interesse próprio, é o egoísmo”, assinala, sustentando que “o sistema económico deve abrir a possibilidade, e criar condições, para que a dimensão da natureza humana encontre expressão na vida económica”.

OC

A crise mais grave da União Europeia é a «crise de confiança» – presidente da CNJP

 

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